• Beatriz Mazzei
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Mitos e verdades sobre a menstruação (Foto: Think Stock)

43% das pessoas entrevistadas têm medo que seus produtos de higiene menstrual não durem até o final da menstruação (Foto: Think Stock)




Mais de 5 milhões pessoas que menstruam no mercado de trabalho já faltaram ao trabalho por falta de dinheiro para produtos de higiene, percentual que gera prejuízo econômico de  R$ 2,4 bilhões na economia brasileira. Entre estudantes, 2,9 milhões já faltaram na escola ou na faculdade ao menos uma vez.

Os dados fazem parte de um estudo exclusivo do Instituto Locomotiva, encomendada pela Always, que traz os impactos da pobreza menstrual na educação, na economia e na sociedade como um todo.

Tabu, medos e prejuízos


O que deveria fazer parte do cotidiano de forma natural escancara a disparidade econômica e social do país. A pesquisa revela que 43% das pessoas entrevistadas têm medo que seus produtos de higiene menstrual não durem até o final da menstruação.

No geral, 90% acreditam que a menstruação é um processo natural e a sociedade deve falar abertamente sobre o tema. Apesar disso, o tema ainda segue sendo um tabu, e 28% sentem vergonha de tocar no assunto.

A falta de informação sobre a primeira menstruação é comum para a maioria das pessoas que menstruam entrevistadas: apenas 20% se sentiram bem informadas sobre as transformações por que o corpo passa por esse período.

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A pesquisa também revela que 77% já usaram outros itens no lugar de produtos de higiene menstrual. O papel higiênico costuma ser o mais comum e a falta de recursos é um dos principais motivos para a realização dessas substituições não recomendadas: 36% afirmam que já tiveram que pedir absorvente emprestado ou dinheiro para comprar por falta de condições financeiras

A pesquisa foi feita por meio de 1.016 entrevistas, aplicadas através de questionário de autopreenchimento online, com pessoas de 16 a 50 anos que menstruam, com abrangência nacional.  A metodologia da pesquisa não apresenta recorte entre pessoas trans e cis.

O presidente do Instituto responsável pela pesquisa, Renato Meirelles, aproveitou o painel de lançamento do estudo para trazer a provocação de que a pobreza menstrual é um problema de todo o país e não apenas das pessoas em situação de vulnerabilidade.

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Banco de Absorventes: novas iniciativas

Em 2010, Edicleia Pereira Dias se tornou diretora de uma escola do município de Camaçari, na Bahia. Preocupada com a evasão de alunos, se uniu com colegas para tentar descobrir os motivos para a ausência dos estudantes. Após longa investigação, a equipe percebeu que a falta de acesso à produtos de higiene menstrual estava entre as causas.

A partir daí, Edicleia lançou o “Banco de Absorventes”. Como o nome sugere, o banco reúne itens de higiene e foi criado para atender à demanda de quem falta às aulas e atividades escolares durante o período menstrual.

A iniciativa trouxe luz ao problema estrutural de falta de itens de higiene íntima durante o período menstrual de adolescentes e jovens.

"Ainda vivemos em uma sociedade que julga a menstruação como algo imundo. A pessoa é culpada por estar menstruada e o problema é tratado como algo individual. Ainda temos o desafio de mudar a forma como a menstruação é vista", conta Edicleia.

A pesquisa traz dados que reforçam o posicionamento da professora. Mais de 20% das entrevistadas já sofreram alguma humilhação por estar menstruada. Sendo que 19% das mulheres já foram constrangidas pelos próprios parceiros.

Como reação, iniciativas de apoio têm sido comuns nos últimos anos, sobretudo após o veto presidencial para o projeto de lei que previa distribuição gratuita de absorventes em instituições do Estado. Na última semana, o projeto foi por fim assinado pelo presidente Jair Bolsonaro em cerimônia para o Dia Internacional da Mulher.

Segundo a pesquisa do Locomotiva, 8 em cada 10 pessoas entrevistadas já doaram produtos ou dinheiro para alguém que não tinha condições de comprar itens de higiene menstrual.

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Em sincronia com o estudo, a marca lança a primeira aceleradora social com foco no combate à pobreza menstrual do Brasil. Para isso, a marca se junta a parceiros para apoiar ONGs com projetos que apoiam pessoas em vulnerabilidade menstrual. As inscrições vão até 28 de abril pelo site da Aceleradora Social da P&G.

Quatro instituições não-governamentais irão receber R$50 mil reais para o desenvolvimento de projetos. A marca também doará 100 mil absorventes para essas ONGs. O lançamento da iniciativa contou com painel online com presença de Laura Vicentini, presidente da Always na América Latina.