Sociedade

Por André Bernardo

Quintou! Trabalhar quatro dias na semana — e descansar três — pode parecer sonho para a maioria dos brasileiros. Mas, para 280 felizardos, já virou realidade. Vinte e duas empresas, de escritório de direito a fábrica de parafusos, fazem parte do projeto 4 Day Week Brazil.

Para integrar o piloto, seus gestores tiveram que adotar o modelo 100-80-100. Explicando: 100% do salário, 80% do tempo e 100% da produtividade. “Não tinha como ficar de fora dessa. Sempre gostamos de pensar fora da caixa”, afirma Camile Mendrot, diretora da Ab Aeterno, empresa de produção editorial sediada em São Paulo. “Esse projeto dialoga com tudo o que acreditamos: melhorar a qualidade de vida de nossa equipe. Não vivemos para trabalhar, todos temos uma vida pessoal.”

O 4 Day Week, ou 4DW, tem duração de nove meses: três de planejamento e seis de execução. Logo no início, os gestores tiveram que escolher entre conceder um dia de folga na semana ou reduzir a carga horária de oito para seis horas diárias. Todas as empresas escolheram a primeira opção. Em geral, o dia escolhido é sexta, mas há exceções. Na thanks for sharing, uma produtora de vídeos, é a quarta. Os funcionários aproveitam a folga para curtir a família, ir ao médico, dormir até tarde... “Em um primeiro momento, o time não levou muito a sério o novo modelo. ‘É bom demais para ser verdade’, disseram os mais céticos”, recorda Simone Cyrineu Miranda, CEO da empresa. “Houve momentos de descrença. Chegamos a questionar se daria certo. Mas o que parecia impossível é, na verdade, muito factível.”

Na hora de se inscrever no projeto, os gestores tiveram outra decisão a tomar: testar a semana de quatro dias em toda a empresa ou experimentá-la em algum departamento específico. Dessa vez, não houve consenso. Dezesseis empresas (72,7%) optaram por incluir todos os funcionários no piloto, enquanto seis (27,3%) decidiram começar por algum setor administrativo. Se der certo, estenderão o benefício para toda a organização.

“Embora ainda seja cedo para tirar conclusões, nossas primeiras impressões são bastante promissoras”, admite Jéssyca Lin, diretora de projetos da Smart Duo, um escritório de arquitetura em Belo Horizonte. “A redução da jornada teve impacto positivo em nossa saúde mental. Reduziu consideravelmente os níveis de estresse.” Mas, afinal: se “não existe almoço grátis”, como advertiu o economista americano Milton Friedman (1912-2006), o que leva um empresário a reduzir a carga horária de seus empregados?

Em casa ou no escritório? De segunda a sexta ou quatro dias? A tecnologia vai roubar todos os empregos? Nunca houve tantas mudanças no ambiente corporativo, e em um ritmo tão acelerado. — Foto: Milton Toller
Em casa ou no escritório? De segunda a sexta ou quatro dias? A tecnologia vai roubar todos os empregos? Nunca houve tantas mudanças no ambiente corporativo, e em um ritmo tão acelerado. — Foto: Milton Toller

Segundo Gabriela Brasil, líder de comunidade no 4 Day Week Global, são quatro os principais motivos: atrair e reter talentos, melhorar a produtividade e o engajamento, aumentar a qualidade de vida dos colaboradores e mudar a forma como trabalham. Lá fora, o projeto tem superado as expectativas. Vinte e um países, como Índia, Japão e EUA, já testaram, estão testando ou vão testar o modelo ainda este ano.

Só no Reino Unido, 92% das 61 empresas que participaram do piloto em 2023 optaram por continuar com a jornada reduzida. Entre outras vantagens, os britânicos apontaram um aumento de 35% na produtividade e uma redução de 57% no turnover, isto é, no entra e sai de funcionários. “Mais do que uma simples redução de horas trabalhadas, é uma oportunidade para as empresas repensarem seu jeito de trabalhar. Práticas ineficientes, como o excesso de reuniões, estão com os dias contados”, acredita Brasil.

O publicitário Washington Olivetto, de 72 anos, sempre teve ojeriza a reuniões, principalmente as longas, maçantes e improdutivas. Logo que inaugurou a agência de publicidade W/Brasil, em 1986, decidiu: “Tudo que não der para discutir e resolver em pé não deve ser feito.” Segundo ele, já dava para perceber que a maioria das reuniões servia apenas para marcar outras reuniões. “Eram, portanto, perda de tempo”, afirma Olivetto a GALILEU. “Na época, essa postura da W/Brasil ficou famosa. Mas, sinceramente, não imaginava que virasse tendência.” Até que virou. Chama-se Stand Up Meeting — literalmente, “reunião em pé”. Pelo mundo afora, companhias estão optando por fazer reuniões mais curtas, dinâmicas e objetivas.

No Brasil, uma das pioneiras foi a Reclame Aqui, um portal de reclamações contra produtos e serviços. O tempo médio de reuniões caiu 70% — passou de uma hora de duração para apenas 20 minutos. Outra invencionice de Olivetto que poderia virar regra é servir sorvete aos funcionários em momentos de tensão. “Em qualquer empresa, administrar o astral é tão importante quanto o caixa”, filosofa o publicitário.

O piloto da 4DW só termina em junho. Mas, a julgar pelo entusiasmo dos gestores ouvidos pela GALILEU, o índice de adesão deverá ser alto. Adriana Orelhana, sócia da Plongê, consultoria de recrutamento e seleção de pessoal, garante que a produtividade aumentou. “Ainda não temos dados consolidados, mas é visível o impacto no comprometimento do time”, avalia.

Já Simone Cyrineu Miranda, da thanks for sharing, acrescenta que o número de faltas caiu. “Tudo indica que manteremos a jornada reduzida de maneira permanente”, adianta. Para Renata Rivetti, diretora da Reconnect Happiness at Work, parceira da 4 Day Week Global no projeto, a semana de quatro dias deve dar fim à cultura do workaholic. “Valorizamos a sobrecarga porque acreditamos que ela traz produtividade. Mas, na verdade, ela só adoece. Medimos a produtividade por horas trabalhadas, mas está na hora de usar outras métricas, como entrega e resultado. O bem-estar é um aliado da produtividade, não um inimigo dela.”

Até o talo

Por falar em sobrecarga, um dado que chama a atenção é a redução dos sintomas de burnout relatada por 71% dos gestores britânicos na pesquisa que avaliou os impactos da “semana de quatro dias” por lá. De origem inglesa, a palavra pode ser traduzida como “queimar-se por completo”. O termo foi criado em 1974 pelo psicanalista alemão Herbert Freudenberger (1926-1999). Naquela época, ele trabalhava 12 horas por dia e, à noite, ainda dava plantão em uma clínica para dependentes químicos, onde atendia até dez usuários de drogas por hora. Vítima de esgotamento físico e mental, caiu doente.

Mas foi só em janeiro de 2022 que a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu o burnout oficialmente como um “fenômeno” diretamente relacionado ao trabalho. “É uma síndrome conceituada como resultado do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso”, define a OMS. Segundo dados da International Stress Management Association (Isma-BR), 32% dos trabalhadores brasileiros padecem da síndrome do esgotamento profissional. “A sensação é a de ter ultrapassado todos os limites. E pior: não dispor de recursos físicos, psicológicos ou emocionais para escapar daquele beco sem saída”, descreve a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma-BR. Rossi não acredita que a semana de quatro dias represente o fim do burnout. “Reduzir a jornada de trabalho não significa reduzir a responsabilidade do funcionário. Pode, inclusive, representar mais cobrança e pressão para cumprir suas metas”, alerta.

Sua posição é endossada pela jornalista Izabella Camargo, de 43 anos. Ela sofreu um “apagão” no dia 14 de agosto de 2018, quando fazia a previsão do tempo em um telejornal em rede nacional. Foi incapaz de lembrar do nome da capital do Paraná, onde nasceu. “Durante seis anos e meio, trabalhei de madrugada. Dormia às 17h, acordava à meia-noite e começava a trabalhar às 3h. Cheguei a sentir falta de ar, dor no peito e crise nervosa”, relata. Sobre a jornada de quatro dias, é cautelosa: “Dependendo das condições de saúde do profissional e do que for preciso fazer para trabalhar quatro dias e ‘folgar’ três, a recuperação dele não se dará de forma sustentável.”

Até porque a preocupação também deve ser com o bem-estar. Pesquisadores da Noruega estão desenvolvendo uma ferramenta para identificar pessoas em risco de colapso no ambiente corporativo. Em um artigo publicado em dezembro passado no Scandinavian Journal of Psychology, a equipe da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia detalha a “Ferramenta de Acesso a Burnout” (Burnout Assessment Tool), que está sendo testada em mais de 30 países. O sistema mede quatro fatores de risco: exaustão, distanciamento mental, confusão cognitiva e emocional. Se você acha que pode estar com burnout, verifique os sinais. Os pesquisadores sugerem quatro pontos de atenção: se você se sente mentalmente exausto no trabalho; se você não consegue se sentir entusiasmado com seu emprego; se você tem dificuldade de concentração durante o expediente; e se você, às vezes, apresenta reações desproporcionais em relação às suas tarefas, mesmo sem intenção.

Fim do presencial: a solução?

Quando se fala em futuro do trabalho, um dos temas mais recorrentes é: qual será o modelo adotado pelas empresas? Em 2019, quando o mundo ainda não sonhava (ou melhor: tinha pesadelos) com a pandemia, o home office já era cobiçado por 49% dos brasileiros. É o que indicava a pesquisa Hábitos do Trabalho, do instituto Ipsos em parceria com a empresa Alelo. Para 97% dos 1.518 entrevistados, o trabalho remoto era o modelo ideal porque proporciona conforto (58%), permite qualidade de vida (54%) e estimula a produtividade (53%). Segundo outra pesquisa, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em 2017, o percentual dos profissionais que gostariam de trabalhar em casa era ainda maior: 81%.

Foi movido pela curiosidade de conhecer novas culturas e desbravar outros países que, em 2015, Matheus de Souza levou o home office às últimas consequências. Na época, ele trabalhava como assistente de marketing de uma faculdade no interior de Santa Catarina e, uma bela manhã, perguntou para si mesmo: “saio de casa todos os dias para ligar meu computador em outro lugar. Se posso desempenhar minha função de maneira remota, por que, então, não trabalho em qualquer lugar do mundo?”. Dois anos depois, Matheus embarcava para o México numa viagem sem volta.

Virou o chamado nômade digital e, desde então, já visitou mais de 30 nações. Hoje, aos 35 anos, fixou residência em Paris, produz conteúdo para sites e vende cursos, palestras e mentorias. “Meu maior perrengue foi em 2020, quando fiquei sete meses ‘preso’ na Tailândia por causa da pandemia. Quando as fronteiras internacionais fecharam, tive que escolher entre voltar ao Brasil ou ficar por lá. Paguei para ver e não me arrependo”, relata o autor de Nômade Digital – Um Guia Para Você Viver e Trabalhar Como e Onde Quiser (Autêntica, 2019).

Quando indagado se aceitaria trocar o nomadismo digital pelo trabalho presencial, Matheus responde de bate-pronto: “Não tem dinheiro no mundo que compre minha liberdade.” E ele não está sozinho: estima-se que, atualmente, 35 milhões de trabalhadores no mundo tenham o perfil de nômade digital, número que deve chegar a 1 bilhão até 2035. É o que aponta o Relatório Global de Tendências Migratórias 2022, realizado pela Fragomen, empresa especializada em serviços de imigração mundial.

Estima-se que, atualmente, 35 milhões de  trabalhadores no mundo tenham o perfil de nômade digital — Foto: Milton Toller
Estima-se que, atualmente, 35 milhões de trabalhadores no mundo tenham o perfil de nômade digital — Foto: Milton Toller

Esses dados encontram eco na pesquisa Tendências e Perspectivas do Trabalho, elaborada pela WeWork em conjunto com a Page Outsourcing. Feita com 10 mil profissionais de cinco países da América Latina (Brasil, Argentina, Chile, Colômbia e México), ela revela: 94% dos entrevistados descartam a hipótese de voltar ao modelo presencial 100% do tempo. “A palavra-chave do futuro do trabalho é flexibilidade”, afirma Bruna Neves, diretora-geral da WeWork Brasil. “E, quando digo isso, não me refiro apenas ao modelo. Mas, também, ao horário. Sem flexibilidade, ninguém consegue ser feliz no trabalho.”

Por essas e outras, na hora de avaliar uma proposta de emprego, 88% dos candidatos levam em conta a flexibilidade de horário e 87% o modelo de trabalho, segundo a pesquisa da WeWork. Esses aspectos perdem apenas para salário, fator de maior relevância para 94% dos interessados. Mas os trabalhadores que não aceitam voltar ao esquema das 9h às 18h, de segunda a sexta, não precisam perder noites de sono. O futuro do trabalho, analisam os especialistas, não será presencial, nem remoto — será híbrido. É o que reforça o estudo da WeWork: enquanto 64% alternam casa e escritório, 18% ainda batem ponto na firma e outros 18% trabalham à distância.

“Em tese, é bom para ambas as partes. De um lado, o colaborador ganha qualidade de vida. De outro, o empresário economiza grana com o aluguel de espaço físico”, observa Tiago Alves, CEO da IWG Brasil e autor de Nem Home, Nem Office: O Futuro do Trabalho é Híbrido (Gente, 2022). Para comprovar sua tese, ele cita um estudo da IWG Global com o NHS, o Serviço de Saúde Pública do Reino Unido: os trabalhadores que adotaram o híbrido relatam, entre outros ganhos, aumento na produtividade (79%), melhora na saúde mental (66%), além de mais tempo livre para curtir a família (55%) e praticar exercícios (52%).

A origem de tudo

O historiador holandês Jan Lucassen não se arrisca a prever o futuro do trabalho. Prefere investigar o passado dele. Ele é autor de um calhamaço intitulado The Story of Work: A New History of Humankind, ainda sem edição brasileira. “Não consigo imaginar uma sociedade sem trabalho. Desde os primórdios, trabalhamos para sobreviver. Mesmo agora, se todos resolvêssemos parar de trabalhar, morreríamos em duas semanas”, garante.

O trabalho remunerado, também conhecido como emprego, é apenas uma das incontáveis formas de trabalho. Quando o pintor holandês Vincent Van Gogh (1853-1890) deu as últimas pinceladas em A Noite Estrelada (1889), estava trabalhando artisticamente. Quando o físico alemão Albert Einstein (1879-1955) colocou o ponto final na Teoria da Relatividade (1905), estava trabalhando intelectualmente. Isso sem falar do trabalho doméstico não remunerado, como preparar o almoço, faxinar a casa ou regar plantas, o que os colaboradores das empresas participantes do 4 Day Week gostam de fazer quando estão de folga.

No livro Trabalho: uma história de como utilizamos nosso tempo, da Idade da Pedra à era dos robôs (Vestígio, 2022), o antropólogo sul-africano James Suzman apresenta o conceito de trabalho sob o ponto de vista da ciência. “Em seu aspecto mais fundamental, o trabalho é sempre uma transação de energia, e a capacidade de fazer certos tipos de trabalho é o que distingue os organismos vivos da matéria morta e inanimada”, escreve ele na introdução da obra.

No século 19, o engenheiro e matemático francês Gaspard-Gustave Coriolis (1792-1843) foi o responsável por introduzir o termo “trabalho” ao léxico científico. Em 1828, Coriolis usou essa palavra para descrever a força que precisava ser aplicada a fim de movimentar um objeto por uma certa distância. “Até aquele momento, muitos outros matemáticos e engenheiros já tinham descrito conceitos largamente equivalentes ao que Coriolis chamava de ‘trabalho’”, escreve Suzman. “Mas nenhum tinha encontrado a palavra certa para descrevê-lo. Alguns o chamavam de ‘efeito dinâmico’, outros de ‘força de labor’ e outros ainda de ‘força motriz’.”

A etimologia da palavra “trabalho”, por sua vez, tem origem no latim: tripalium ou tripalus era o nome de um instrumento de três pernas usado para imobilizar cavalos e bois, além de uma ferramenta de tortura. O termo evoluiu para tripaliare, que inicialmente significava “torturar”.

Mas, depois, gerou as palavras “trabalho”, em português; “trabajo”, em espanhol; e “travail”, em francês. “A história do trabalho é, em grande medida, a história da humanidade. Não existe humanidade sem trabalho”, reitera o sociólogo Ricardo Festi, da Universidade de Brasília (UnB). “O que nem sempre existiu foi o trabalho feito em troca de um salário. Essa forma de trabalho é típica da sociedade capitalista.”

O sociólogo Ricardo Antunes, outro estudioso do assunto, concorda com Lucassen e Festi quando diz que trabalhar é tão vital para a sobrevivência quanto comer ou respirar. Em 1995, ele publicou um livro com um título provocador: Adeus ao Trabalho? Quase 30 anos depois, a pergunta que não quer calar é: será que, algum dia, conseguiremos trabalhar para viver ou continuaremos vivendo para trabalhar? “A vida humana sem trabalho é uma completa impossibilidade”, explica Antunes, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Uma sociedade só com robôs trabalhando é pura ficção. Quem controla a riqueza não vai querer dividi-la com quem não trabalha.” Com o atual desenvolvimento tecnológico, que inclui big data e inteligência artificial (IA), Antunes admite que até poderíamos trabalhar poucas horas por dia em poucos dias da semana. Mas não sabe se os “senhores da riqueza” aceitariam isso. “A humanidade criou a tecnologia, mas o capital a surrupiou. O que fazer, agora?”, indaga o sociólogo.

O futuro chegou

O relatório O Futuro do Trabalho 2023, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial com o apoio da Fundação Dom Cabral, dá uma noção do que está por vir: 23% dos empregos existentes hoje sofrerão mudanças até 2027. A boa notícia é que, estima-se, 69 milhões de novos postos de trabalho serão criados. A má notícia é que 83 milhões serão extintos — ou seja, 14 milhões de empregos a menos no planeta.

O risco de um trabalhador perder seu emprego para um robô divide opiniões. O administrador Adriano Mussa, autor de Inteligência Artificial – Mitos e Verdades (Saint Paul Institute of Finance, 2020), está otimista. Ele admite que as profissões que executam tarefas repetitivas e com baixo nível de interação social são as mais propensas a sumir da face da Terra. Em 2016, o britânico Geoffrey Hinton, um cientista da computação, vociferou: “jovens, não estudem radiologia! Em breve, algoritmos farão diagnósticos baseados em exames de imagem melhor do que vocês.” Oito anos depois, médicos radiologistas continuam a salvar vidas.

Mas a ciência de fato está estudando maneiras de aprimorar diagnósticos com ajuda da tecnologia. Em um estudo publicado em dezembro no periódico Jama Network Open, cientistas do Centro Médico Beth Israel Deaconess (BIDMC), em Boston, nos Estados Unidos, compararam a capacidade de diagnóstico de médicos com as do chatbot GPT-4, ferramenta de IA generativa da empresa estadunidense OpenAI. As respostas geradas pelo ChatGPT obtiveram as melhores pontuações: a média dos médicos assistentes foi 9; dos residentes, 8; e do chatbot, 10.

Houve empate entre os médicos e a plataforma em relação à precisão do diagnóstico. De acordo com os pesquisadores, porém, na avaliação de raciocínio clínico, os erros foram mais frequentes nas respostas pelo chat do que pelos médicos. Isso demonstra que a tecnologia é útil como uma ferramenta de auxílio, e não de substituição da avaliação clínica humana. É como pensa Mussa: “O futuro do trabalho não é humanos versus IA. É humanos + IA”.

Mas nem tudo são flores — ainda mais em um país tão desigual quanto o Brasil. O advogado Plínio Podolan, autor de Trabalhadores Descartáveis – A Exclusão do Mundo do Trabalho pela Tecnologia (Lumen Juris, 2023), não disfarça seu pessimismo. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a população trabalhadora rural brasileira caiu de 8,5 milhões para 5,7 milhões em dez anos. Isso se deve, em grande parte, ao uso da tecnologia no campo. “Para onde foram as 2,8 milhões de pessoas que perderam seus empregos?”, questiona Podolan. “Nossa Constituição garantiu que o trabalho seria protegido da automação. Passados mais de 35 anos, o Estado brasileiro continua omisso. E quem sofre são os mais vulneráveis, com menor acesso à educação e ao trabalho.”

Sci-fi ou não, a ideia de uma sociedade só com robôs trabalhando, sem pedir aumento, tirar férias ou entrar em greve, é capaz de provocar arrepios. Houve um tempo, não muito distante, em que o sujeito ia ao supermercado, e uma funcionária registrava suas compras e outra empacotava seus produtos. Hoje, salvo raras exceções, é o próprio cliente quem faz tudo em um totem de autoatendimento. “Até pouco tempo atrás, a indústria automobilística era um dos setores que mais empregavam trabalhadores no Brasil. Hoje, são máquinas produzindo outras máquinas”, observa a economista Dora Kaufman, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e autora de Desmistificando a Inteligência Artificial (Autêntica, 2022). Com os avanços tecnológicos sendo empregados tão rapidamente, só o tempo dirá qual será o impacto, de fato, nos empregos que conhecemos. Mas uma coisa é certa: “Parte do ‘futuro do trabalho’ já chegou”, avisa Kaufman.

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