História

Por Redação Galileu

Pioneira na indústria aeroespacial, Virgínia Norwood, cujos estudos foram fundamentais no campo de imagens terrestres por satélite, faleceu no dia 26 de março, aos 96 anos. Conhecida como a “Mãe do Landsat”, a estadunidense foi responsável pelo primeiro scanner multiespectral baseado no espaço que voou no primeiro satélite do programa Landsat.

A morte foi divulgada no dia 30 de março pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), instituição que desenvolveu os satélites juntamente com a Nasa. Os equipamentos Landsat foram projetados para captar imagens de alta resolução da superfície da Terra que podem ser usadas para uma variedade de aplicações, incluindo mapeamento, gestão de recursos e monitoramento ambiental.

Graças aos estudos e à posterior invenção de Norwood, o programa foi possível. “Minha mãe dizia que era conhecida como a pessoa que poderia resolver problemas impossíveis'”, disse Naomi Norwood, filha de Virginia, à Nasa, de acordo com o The New York Times. “Então as pessoas traziam coisas para ela, até peças de outros projetos”.

Virginia Norwood: quem foi a 'mãe' dos sistemas de imagem de satélite

Virginia Norwood: quem foi a 'mãe' dos sistemas de imagem de satélite

Trajetória

Nascida Virginia Tower, em 8 de janeiro de 1927, em Nova York, ela era filha de uma linguista fluente em nove idiomas e um militar com mestrado em física que a incentivava a estudar temas das ciências exatas.

Segundo o New York Times, quando chegou a hora de escolher uma faculdade, o orientador escolar sugeriu que ela se tornasse bibliotec��ria. Contrariando o conselho, a jovem optou pelas exatas e se inscreveu no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Virginia era uma dentre apenas 12 mulheres em sua turma inicial. Ela se formou em 1947 e, no dia seguinte, se casou com seu primeiro marido, Lawrence Norwood.

Durante os estudos e após a graduação, ela enfrentou uma série de dificuldades por conta do machismo. Para encontrar seu primeiro emprego, passou por diversas entrevistas. Em uma das empresas, ao pedir um salário compatível com o cargo mais baixo do local, foi informada de que a empresa nunca pagaria tanto a uma mulher. Em outra entrevista, para ser contratada, pediram que ela prometesse não engravidar.

Ela também passou por três entrevistas na Remington, uma fabricante de armas, nas quais descreveu como um matemático poderia melhorar as operações da empresa. O gerente de contratação ligou para dizer que a ideia era brilhante, mas que a empresa iria contratar um homem.

Finalmente, em 1949, ela e o marido foram contratados pelo Laboratório do Corpo de Sinais do Exército dos EUA em Fort Monmouth, Nova Jersey, onde ela trabalhou na divisão de radar meteorológico e mais tarde passou para o grupo de antenas.

Em 1953, foi para a Califórnia junto do marido e trabalhou no Sylvania Electronic Defense Labs. Um ano depois, o casal mudou-se para Los Angeles, onde ela foi contratada pela divisão de pesquisa e desenvolvimento da Hughes Aircraft, tornando-se a única mulher entre os 2,7 mil funcionários da divisão.

Três anos mais tarde, foi promovida a um cargo de chefia liderando o grupo de micro-ondas no laboratório de mísseis da empresa. Esse foi o lugar onde Norwood desenvolveu o scanner que abrilhantou ainda mais sua carreira.

Mãe do Landsat

Na época em que criou o aparelho, Norwood fazia parte de um grupo de design avançado na divisão de espaço e comunicações da Hughes Aircraft Company, desenvolvendo instrumentos. Nas décadas de 1950 e 1960, a exploração espacial crescia e, inspirado pelas fotos da Terra enviadas pelas missões lunares da Nasa, o diretor do Serviço Geológico dos Estados Unidos (Geological Survey) imaginou que as fotos do planeta feitas do espaço poderiam ajudar agências como a dele a administrar os recursos terrestres.

Landsat 1 lançado em 1972, foi o primeiro satélite civil de observação contínua da Terra — Foto: Reprodução/WikimediaCommons
Landsat 1 lançado em 1972, foi o primeiro satélite civil de observação contínua da Terra — Foto: Reprodução/WikimediaCommons

Sob essa ideia, a companhia fez uma parceria com a agência espacial para enviar satélites ao espaço e tirar fotos. Inicialmente, a ideia era usar um sistema gigante com três câmeras RBV (Return Beam Vidicon) baseado na tecnologia de tubo de televisão.

Porém, a partir de pesquisas com especialistas em agricultura, meteorologia, poluição e geologia, Norwood descobriu que um sistema de scanner multiespectral (MSS, sigla em inglês) seria melhor e transmitiria as informações para a Terra de forma digital.

A Nasa e o Geological Survey aceitaram a proposta, mas se mantiveram céticos e decidiram levar os dois sistemas a bordo do satélite Landsat 1, com as câmeras RBV sendo o instrumento principal.

Para Norwood restou um pequeno espaço no satélite e uma orientação de que o MSS só seria incluído no lançamento se pesasse menos de 50 quilogramas (kg). Com isso, foi necessário reduzir o dispositivo para registrar apenas quatro bandas de energia no espectro eletromagnético, em vez das sete que ela havia planejado. O scanner tinha que ser de alta precisão. Nesse primeiro projeto, cada pixel representava 80 metros. O aparelho também tinha um espelho de 22 por 33 centímetros.

O primeiro Landsat foi lançado ao espaço em 23 de julho de 1972. Dois dias depois, o scanner enviou as primeiras imagens das montanhas Ouachita, em Oklahoma, e surpreendeu a todos. O sistema RBV deveria ser o instrumento de gravação primário a bordo do satélite, e o MSS um experimento secundário, mas após o envio das imagens tudo mudou.

O MSS provou não apenas ser melhor, mas também mais confiável. Duas semanas após a decolagem, picos de energia no sistema principal colocaram o satélite em perigo e a câmera teve de ser desligada. O sucesso do aparelho foi tamanho que, 50 anos depois do primeiro lançamento, o dispositivo continua a ser utilizado.

Norwood supervisionou o desenvolvimento dos sistemas Landsat 2, 3, 4 e 5. Atualmente, os Landsat 8 e 9 estão orbitando a Terra, e a Nasa planeja lançar o Landsat 10 em 2030.

Mais recente Próxima Houve um tempo em que bebês eram enviados por correio nos EUA; entenda
Mais de Galileu

Cientistas observaram região acima da Grande Mancha Vermelha com o telescópio James Webb, revelando arcos escuros e pontos brilhantes na atmosfera superior do planeta

Formas estranhas e brilhantes na atmosfera de Júpiter surpreendem astrônomos

Yoshiharu Watanabe faz polinização cruzada de trevos da espécie "Trifolium repens L." em seu jardim na cidade japonesa de Nasushiobara

Japonês cultiva trevo recorde de 63 folhas e entra para o Guinness

Especialista detalha quais são as desvantagens do IMC e apresenta estudo que defende o BRI como sendo mais eficaz na avaliação de saúde

Devemos abandonar o IMC e adotar o Índice de Redondeza Corporal (BRI)?

Consumidores de cigarro eletrônico apresentam índices de nicotina no organismo equivalentes a fumar 20 cigarros convencionais por dia, alertam cardiologistas

Como o cigarro (inclusive o eletrônico) reduz a expectativa de vida

Artefatos representam as agulhas de pedra mais antigas que se tem registro até hoje. Seu uso para confecção de roupas e tendas para abrigo, no entanto, é contestado

Agulhas de pedra mais antigas da história vêm do Tibete e têm 9 mil anos

Cofundador da Endiatx engoliu durante palestra da TED um aparelho controlado por um controle de PlayStation 5 que exibiu imagens em tempo real de seu esôfago e estômago; assista

Homem ingere robô "engolível" e transmite interior de seu corpo para público

Pesquisadores coletaram amostras do campo hidrotérmico em profundidades de mais de 3 mil metros na Dorsal de Knipovich, na costa do arquipélago de Svalbard

Com mais de 300ºC, campo de fontes hidrotermais é achado no Mar da Noruega

Além de poder acompanhar a trajetória das aves em tempo real, o estudo também identificou as variáveis oceanográficas que podem influenciar na conservação dessas espécies

6 mil km: projeto acompanha migração de pinguim "Messi" da Patagônia até o Brasil

Estudo é passo inicial para que enzimas produzidas pelo Trichoderma harzianum sejam usadas para degradar biofilmes orais

Substância secretada por fungos tem potencial para combater causa da cárie dental

Lista traz seleção de seis modelos do clássico brinquedo, em diferentes tipos de formatos, cores e preços; valores partem de R$ 29, mas podem chegar a R$ 182

Ioiô: 5 modelos profissionais para resgatar a brincadeira retrô