Saúde

Por Redação Galileu

Pesquisadores brasileiros da Universidade Estadual Paulista (Unesp) desenvolveram uma prótese de bambu para pessoas com membros inferiores do corpo amputados. O dispositivo, que tem valor mais acessível, substitui a tíbia e a fíbula, os ossos localizados entre a articulação do joelho e do pé.

Segundo divulgou o Jornal da Unesp nesta quinta-feira (28), o pesquisador João Victor Gomes dos Santos, hoje doutor em Design pela Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design da Unesp, no campus Bauru, iniciou seus estudos para desenvolver as próteses transtibiais de bambu há sete anos, quando cursava a graduação.

Na ocasião, Santos assistiu a uma reportagem na TV que apresentava um pedreiro com a perna amputada abaixo do joelho. Sem dinheiro para uma prótese nova, nem conseguindo aguardar o longo tempo necessário para adquirir uma peça pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o trabalhador fez sua própria prótese improvisada usando um cano PVC. “Quando vi aquela reportagem, percebi que existia uma questão que precisava de solução. E nós, designers, somos solucionadores de problemas”, diz o pesquisador.

Pelo SUS, o tempo de espera por uma prótese de fibra de carbono pode chegar a dois anos. É possível adquirir o dispositivo modo particular; mas, neste caso, seu preço pode variar entre R$ 5 mil e R$ 8 mil. Parte da dificuldade para adquirir equipamentos de qualidade, e por valores acessíveis, deve-se ao fato de que esses aparelhos não são fabricados no Brasil, segundo investigou Santos.

"Nós importamos a matéria-prima, como os pés e aqueles cilindros que servem de “canelas”", diz o especialista. "No Brasil, é confeccionado apenas o encaixe, que deve ser feito manualmente por um técnico protesista, responsável por tirar as medições e modelar a parte de maneira a melhor se adaptar ao paciente", ele explica.

Tecnologia transformadora

Para mudar esse cenário, João Victor Gomes dos Santos aproveitou seu conhecimento adquirido no Projeto Bambu, da Unesp, e começou a desenvolver uma prótese transtibial. A tecnologia que auxilia amputados com ausência total ou parcial da tíbia e fíbula emprega três componentes principais: o pé, o cilindro e o encaixe, todos produzidos a partir da combinação de fibra de bambu com resina de mamona.

Primeiro, o designer fez a conceitualização e viabilidade do projeto durante o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para a graduação em Design de Produto, na Unesp de Bauru. Depois, durante seu mestrado na mesma instituição, ele realizou uma avaliação mecânica da prótese. Por fim, no doutorado, foram conduzidos testes em três voluntários.

Nesta última etapa, a utilização da Protebam – como a prótese de bambu foi apelidada – foi comparada com as próteses anteriores que os usuários possuíam. A equipe de Santos também fez levantamentos e avaliações de percepção, estética, usabilidade e funcionalidade.

Além de o bambu ter propriedades mecânicas muito parecidas com as da fibra de carbono, o caule da planta da família Poaceae é uma matéria-prima barata, biodegradável, de fácil descarte e com a possibilidade de ser produzida no Brasil.

Conforme destaca o engenheiro Marco Antonio dos Reis Pereira, orientador de mestrado de Santos, o bambu também é renovável, sendo capaz de crescer até 30 metros após apenas quatro meses. “[Essa planta] possui excelentes características físicas e mecânicas, com ótima resistência à tração, flexão e compressão. Esses traços viabilizaram seu uso no desenvolvimento da prótese”, explica Pereira.

Usuários testando ficar em diferentes posições com a prótese de bambu — Foto:  João Victor Gomes dos Santos
Usuários testando ficar em diferentes posições com a prótese de bambu — Foto: João Victor Gomes dos Santos

Um diferencial do produto em relação à fibra de carbono e resinas como epóxi também é que "o compósito produzido com a fibra de bambu e a resina de mamona não é tóxico", reforça Santos. “Além disso, por se tratar de material biodegradável, o descarte é mais fácil”, acrescenta.

Os testes com os voluntários, realizados em abril, foram um sucesso: os participantes com deficiência escolheram continuar usando as próteses. E os equipamentos saíram bem mais barato do que os convencionais: o custo de produção da Protebam gira em torno de R$ 600,00, com possibilidade de ser comercializada entre R$ 1.500,00 e R$ 1.800, considerando as margens de lucro.

Usuários utilizando a prótese de bambu durante testes de locomoção — Foto:  João Victor Gomes dos Santos
Usuários utilizando a prótese de bambu durante testes de locomoção — Foto: João Victor Gomes dos Santos

As próteses de bambu, que foram patenteadas pela Agência Unesp de Inovação (AUIN), têm durabilidade de um ano, enquanto as convencionais duram cerca de cinco anos. Mas essa diferença não é um problema, segundo o designer, pois a Protebam é uma prótese transitória para auxiliar no cotidiano das pessoas até conseguirem receber seu equipamento oficial ou economizarem para comprar uma mais cara.

“Ela não foi pensada para competir com os demais produtos", afirma Santos. "Estamos focando o nicho de pessoas que passaram por uma amputação e, uma vez reabilitadas, precisam voltar a trabalhar, mas têm essa necessidade dificultada pelo acesso demorado e caro às próteses."

O pesquisador está em negociação para iniciar um teste piloto da tecnologia, envolvendo a produção de 100 unidades para testar sua viabilidade de comercialização. “Se tudo der certo, vamos iniciar os processos de certificação e de montagem da linha de produção. O objetivo final é produzir a Protebam em larga escala para atender o mercado local, nacional e, quem sabe, internacional”, diz.

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