Artefatos inéditos de povos da Itália pré-romana são exibidos em São Paulo

Entre os dias 28 de março e 8 de junho, o Instituto Italiano de Cultura de São Paulo (IICSP), localizado no bairro Higienópolis, recebe a exposição Formas e cores da Itália pré-romana: Canosa di Puglia. A mostra, que tem entrada gratuita, conta com mais de 60 artefatos nunca antes vistos do período anterior à ocupação romana na Península Ibérica, datados entre os séculos 4 e 2 a.C.

Antes da unificação feita pelo Império Romano, a área da península italiana era habitada por uma gama de povos: os Dauni ficavam ao norte, os Peucezi no centro e os Messapi ao sul. Composta por peças vindas dos depósitos do Museu Arqueológico Nacional de Canosa di Puglia e do Museu Arqueológico Nacional de Taranto (MArTA), a exposição exibe artefatos arqueológicos de todas essas culturas, mas principalmente da Dauni – que tinha como principal centro a província de Canosa di Puglia.

Vasos milenares da cultura Dauni — Foto: Camilla Almeida

A área, que é a origem da maioria das peças expostas, dispõe de uma série de sítios com ruínas de tumbas, edifícios e outras construções do período. Os principais achados da região são objetos funerários parte das procissões de enterro dos príncipes, que ocupavam o topo da sociedade Dauni. Simbolizando fortuna e status social, essas riquezas eram colocadas junto com o corpo nas câmaras familiares, chamadas de hipogeus.

Representações femininas em vasos revelam que as mulheres eram membros importantes das cerimônias fúnebres desse povo. “Na antiguidade existiam mulheres chamadas de Oranti, que realizavam as orações e acompanhavam o cadáver durante todas as fases da procissão, até na preparação do corpo”, conta o arqueólogo Luca Mercuri, curador da exposição. “Essas figuras eram colocadas dentro do túmulo para lembrar dessas mulheres, que são representadas chorando para mostrar a dor de toda a sociedade.”

As representações femininas ilustravam a dor da perda da família e sociedade — Foto: Camilla Almeida

Itens de beleza feminina também se destacam entre os objetos expostos. Retirados do chamado Hipogeu das Serpentes Emplumadas, anéis de ouro, cosméticos, recipientes de perfume e peças de jogos estavam provavelmente guardados em um porta-joias de madeira, revitalizado por restauradores. As peças, do século 2 a.C., são complementadas pela presença de vasos de cerâmica listrada e recipientes policromados com relevos, produzidas em oficinas artesanais de Canosa.

Itens de beleza e reservatórios de produtos compõem a exposição — Foto: Camilla Almeida

De acordo com Elisabetta Scungio, especialista em história da arte e representante do Ministério da Cultura da Itália (MiC), a iniciativa é importante para valorizar o patrimônio cultural da época, além de aproximar as pessoas dessa rica história. “Utilizamos bens culturais que geralmente são mantidos em salas de armazenamento”, conta ela. “Isso não significa que esses objetos não sejam importantes, apenas que não há tanto espaço para exibir tudo em alguns outros casos. Esta é uma oportunidade única para promover todos os bens culturais, principalmente aqueles que as pessoas não podem ver normalmente em nossos museus.”

A exposição é uma parceria entre o Instituto Italiano de Cultura de São Paulo, a Direção Geral dos Museus do Ministério da Cultura (MIC) da Itália e a Direção Geral da Diplomacia Pública e Cultural do Ministério das Relações Exteriores e da Cooperação Internacional (MAECI) italiano.

Integrante do programa de valorização do patrimônio cultural italiano Il racconto della bellezza (em português, Narrar a beleza), a mostra já passou pelas cidades de Santiago, no Chile, e Buenos Aires, na Argentina. “Faz muito tempo que novos artefatos não chegam até o Brasil. São Paulo abriga um importante centro cultural e trazer essas peças até aqui simboliza a promoção da cultura italiana, além da cooperação ítalo-brasileira neste setor”, diz Lillo Guarneri, diretor do IICSP.