Ciência

Por Redação Galileu

Pesquisadores da universidade Politécnica de Milão, na Itália, encontraram explicações para misteriosas manchas escuras detectadas na coleção de desenhos e escritos Codex Atlanticus, publicada por Leonardo da Vinci em 1478.

Em um estudo registrado em 23 de março de 2023 na revista Scientific Reports, os cientistas analisaram a página “fólio 843” do documento, revelando a presença de nanopartículas inorgânicas redondas de mercúrio e enxofre com diâmetro de 100 a 200 nanômetros.

A coleção de papéis de Da Vinci foi doada à Biblioteca Ambrosiana, em Milão, em 1637, sendo mais tarde alvo de restauro conduzido pelo Laboratório para o Restauro de Livros Antigos da Abadia de Grottaferrata, entre 1962 e 1972. O resultado foram 12 volumes com 1.119 fólios: cada página contém um tipo de moldura chamada passepartout.

O Folio 843, que faz parte do O Codex Atlanticus, uma das mais extensas coleções de desenhos de da Vinci  — Foto: Vito Milo
O Folio 843, que faz parte do O Codex Atlanticus, uma das mais extensas coleções de desenhos de da Vinci — Foto: Vito Milo

Desde 1997, o Codex Atlanticus é guardado em um microclima controlado rigorosamente, segundo normas de conservação. Mas isso não impediu que ele fosse deteriorado pelas manchas pretas.

Em 2006, foram descobertas as pequeninas manchas no passepartout que encaderna a coleção. O fenômeno de escurecimento, observado em 210 páginas a partir do “fólio 600”, tem causado grande preocupação entre curadores de museus e estudiosos.

Diferentes partes do folio 843 de Leonardo da Vinci mostram manchas e parte branca  — Foto: Lucia Toniolo et.al
Diferentes partes do folio 843 de Leonardo da Vinci mostram manchas e parte branca — Foto: Lucia Toniolo et.al

Os volumes foram desvinculados entre si em 2009, e hoje estão montados individualmente nos passepartouts. Estudos anteriores haviam descartado que as manchas presentes neles resultassem de processos de deterioração microbiológica.

Iniciada em 2021, a mais recente pesquisa, coordenada por Lucia Toniolo, professora de Ciência e Tecnologia de Materiais do Politécnico de Milão, incluiu a retirada e a substituição do passepartout do “fólio 843”.

Manchas pretas no Folio 843 do Codex Atlanticus — Foto: Politecnico di Milano
Manchas pretas no Folio 843 do Codex Atlanticus — Foto: Politecnico di Milano

Por meio de técnicas de análise não invasivas e microinvasivas, os pesquisadores investigaram o escurecimento do documento, descobrindo cola de amido e cola de vinil nas áreas onde a coloração é mais concentrada, bem perto da borda do fólio.

Além disso, a equipe revelou as nanopartículas de mercúrio e enxofre acumuladas nas cavidades entre as fibras de celulose do passepartout.

Uma análise síncroton (em um acelerador cíclico de partículas), conduzida na Instalação Europeia de Radiação Síncrotron, na França, identificou essas partículas como sendo metacinábrio, ou seja, sulfeto de mercúrio em uma fase cristalina negra e incomum.

Nanopartículas compostas de mercúrio e enxofre no fólio 843 do Codex Atlanticus — Foto: Politecnico di Milano
Nanopartículas compostas de mercúrio e enxofre no fólio 843 do Codex Atlanticus — Foto: Politecnico di Milano

Então, os cientistas começaram a levantar hipóteses sobre como esse metacinábrio se formou e manchou o papel. Eles acreditam que o mercúrio pode ser fruto de um sal antivegetativo na mistura de cola usada nas técnicas de restauração do Codex Atlanticus e aplicada em áreas do passepartout para evitar micróbios.

Já o enxofre pode ter sido originado pela poluição do ar, visto que, na década de 1970, os níveis de dióxido de enxofre (SO2) em Milão eram muito altos. Outra hipótese seria que o elemento veio de aditivos usados na cola, que com o tempo teriam levado a uma reação com sais de mercúrio e à formação de partículas de metacinábrio.

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