Pela primeira vez, astrônomos confirmaram a existência de um exoplaneta que fica "travado" com apenas uma de suas faces em direção à estrela hospedeira. A "superterra" LHS 3844b, também chamada de Kua'kua, está permanentemente dividida entre um lado escuro e o outro iluminado, conforme revela artigo foi publicado em 28 de março no The Astrophysical Journal.
Quando um planeta está muito próximo da sua estrela, um de seus lados sofre uma atração mais forte do que o lado oposto. Com o tempo acontece um desequilíbrio, chamado força de maré, que faz com que o planeta pare de girar e fique sempre com o mesmo lado voltado para a estrela, enquanto o outro permanece no escuro.
Com isso, o tempo que o planeta leva para girar uma vez em torno de seu próprio eixo é o mesmo de que precisa para completar uma órbita ao redor de sua estrela. Esse fenômeno se chama sincronização de marés ou bloqueio de maré. “Essa coisa que era teórica agora parece real. Na verdade, é assim que esses planetas se parecem”, disse Nicolas Cowan, astrônomo da Universidade McGill, no Canadá, e coautor do estudo, à revista Nature.
Os cientistas escolheram a superterra LHS 3844b para provar a teoria desse fenômeno. Em 2019, eles usaram o Telescópio Espacial Spitzer para medir a intensidade da luz emitida pelo planeta e saber qual a temperatura de sua face que está voltada para a Terra.
Quando os planetas não estão sincronizados com as marés, eles aquecem devido ao conflito entre sua rotação e a grande atração exercida por sua estrela. No entanto, a equipe descobriu que a superfície do LHS 3844b é relativamente fria, como ocorre nos demais astros com essa sincronização.
O LHS 3844b foi descoberto em 2018 pela missão Transiting Exoplanet Satellite Survey (TESS), da Nasa. Localizado a 48 anos-luz da Terra, ele possui um raio 1,3 vezes maior que o do nosso planeta e orbita uma estrela anã M, que é pequena e fria.
No novo estudo, os cientistas assumiram que LHS 3844b não tem atmosfera. Entretanto, a astrônoma Emily Whittaker, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, nos EUA, destaca à Nature que um artigo publicado em 2022, do qual foi coautora com Cowan, revelou que o planeta tem uma atmosfera fina, semelhante à da Terra.
Em estudos adicionais, a equipe usará o Telescópio Espacial James Webb para testar a hipótese da sincronização e entender melhor se planetas com essa estrutura são habitáveis. Para ser possível existir vida, precisa haver uma atmosfera e temperaturas amenas, como a maior parte do território habitável da Via Láctea.
Cowan ainda não consegue responder se planetas como o LHS 3844b são habitáveis, pois não têm marés, nem estações, nem ciclos dia-noite. “Você poderia obter o mesmo tipo de diversidade e complexidade de evolução da vida? Eu não faço ideia."