O telescópio espacial Hubble, da Nasa, registrou acidentalmente um buraco negro supermassivo —pesando até 20 milhões de sóis — que deixou para trás uma trilha de estrelas recém-nascidas de 200 mil anos-luz de comprimento, algo nunca antes visto.
Segundo estudo publicado nesta quinta-feira (6) no periódico The Astrophysical Journal Letters, essa distância é o dobro do diâmetro da Via Láctea. E, provavelmente, é resultado de um raro e bizarro jogo de bilhar galáctico entre três enormes buracos negros
Em vez de engolir as estrelas à sua frente, o veloz buraco negro está se transformando em gás à sua frente para desencadear a formação de novas estrelas ao longo de um corredor estreito. "Acreditamos que estamos vendo um rastro atrás do buraco negro, onde o gás esfria e é capaz de formar estrelas", explica, em comunicado, Pieter van Dokkum, da Universidade Yale, nos EUA.
O rastro das novas estrelas é responsável por quase metade do brilho da galáxia hospedeira à qual o corpo celeste está ligado. Por não ser um comportamento normal, Van Dokkum e sua equipe realizaram espectroscopia de acompanhamento com o Observatório WM Keck, no Havaí.
Isso possibilitou visualizar a trilha estrelar e chegar à conclusão de que o que o Hubble captou foi a consequência de um buraco negro voando através de um halo de gás ao redor da galáxia hospedeira.
Três é demais?
A suspeita dos astrônomos é que duas galáxias se fundiram, talvez 50 milhões de anos atrás, reunindo dois buracos negros supermassivos em seus centros. Esses fenômenos provavelmente giravam um ao redor do outro, como um buraco negro binário.
Então, uma outra galáxia, que seria a terceira, apareceu com seu próprio buraco negro supermassivo. Assim, os três buracos negros misturados levaram a uma configuração caótica e instável. Um dos buracos negros roubou o impulso dos outros dois e foi expulso da galáxia hospedeira.
O binário original pode ter permanecido intacto, ou o novo buraco negro intruso pode ter substituído um dos dois. Com isso, quando um buraco negro decolou em uma direção, os buracos negros binários dispararam na direção oposta.
Essa teoria pode ser confirmada por um vulto no lado oposto da galáxia hospedeira, que pode ser o suposto buraco negro binário fugitivo. Sua localização fica em uma extremidade de sua galáxia-mãe e não há sinal de outro buraco negro ativo remanescente no núcleo da galáxia, o que reitera a teoria.
Segundo a Nasa, há um nó brilhante de oxigênio ionizado na ponta mais externa da coluna. Algo que, para os pesquisadores, indica que o gás provavelmente está sendo aquecido pelo movimento do buraco negro ou pode ser a radiação de um disco de acreção ao redor do buraco negro.
“O gás à sua frente fica abalado por causa desse impacto supersônico de alta velocidade do buraco negro que se move através do gás. Como isso funciona exatamente não é realmente conhecido", explica van Dokkum.
O próximo passo é fazer observações de acompanhamento com o Telescópio Espacial James Webb e o Observatório de Raios X Chandra. Além disso, o próximo Telescópio Espacial Roman Nancy Grace, da Nasa, terá uma visão de grande angular do Universo.
As observações do Roman podem identificar mais dessas raras e improváveis "faixas estelares" em outras partes do cosmos.