Em um estudo publicado em 22 de março na revista Herpetozoa, especialistas da Dinamarca documentaram pela primeira vez duas cobras-corais Micrurus mipartitus competindo por uma presa. Ambos os animais estavam tentando abocanhar uma cecília (anfíbio da espécie Gymnophiona).
Trata-se do primeiro caso de roubo de alimentos (comportamento conhecido como cleptoparasitismo) entre espécies da família Elapidae. Essa interação é bem documentada em muitos animais, mas pouco relatada entre cobras em habitats naturais.
As serpentes da família Elapidae são venenosas e estão entre as cobras mais letais do mundo. Elas são mais de 400 espécies e formam um grupo variado, composto por mambas-negras (Dendroaspis polylepis), kraits (Bungarus), taipans (Oxyuranus), cobras Notechis scutatus e serpentes marinhas (Hydrophiinae).
O vídeo abaixo mostra as duas cobras-corais disputando pela cecília na floresta tropical do Valle del Cauca, no oeste da Colômbia. Durante a batalha, uma cobra mordeu a outra, mas os pesquisadores sugerem que isso ocorreu acidentalmente.
A observação durou 17 minutos e a cobra perdedora soltou a presa. Com isso, a ganhadora se afastou levando seu prêmio, sem ser seguida pela rival derrotada.
O estudo sugere que esse tipo de interação foi pouco documentada no habitat selvagem, embora seja mais comum em cativeiro, por se tratar de um ambiente controlado. “As cobras em cativeiro fazem isso frequentemente quando apenas uma presa é oferecida em um terrário com duas ou mais cobras", conta o autor líder da pesquisa, Henrik Bringsøe, em comunicado. "Mas é bastante surpreendente que [o cleptoparasitismo] não tenha sido observado mais frequentemente na natureza".
Casos como esse trazem mais informações sobre as interações entre cobras-coral com suas presas. "Em geral, o cleptoparasitismo pode ocorrer com mais frequência entre cobras do que o indicado pelos poucos casos publicados, considerando que são conhecidos numerosos casos em cativeiro", concluem os pesquisadores no estudo.