Resíduos de plástico na água podem estar atrapalhando muito além do que apenas a alimentação dos animais marinhos. Uma pesquisa publicada no último dia 15 de novembro na revista Environmental Pollution aponta que esses resíduos têm impactado a vida sexual de crustáceos da espécie Echinogammarus marinus, que são semelhantes a camarões.
Essas criaturas são conhecidas por formarem pares e geralmente ficam juntas por dois dias durante o acasalamento. Esses animais são encontrados nas águas europeias, onde servem de alimento para peixes e aves.
A interferência na reprodução desses crustáceos se dá por produtos químicos encontrados em plásticos comuns. De acordo com a pesquisa, os E. marinus mudam seu comportamento de acasalamento quando expostos a aditivos plásticos tóxicos.
“Esse comportamento de acasalamento malsucedido tem sérias repercussões, não apenas para a espécie que está sendo testada, mas possivelmente para a população como um todo", afirma, em nota da Universidade de Portsmouth, o professor Alex Ford. "Esses animais formam pares para se reproduzir. Uma vez expostos a um produto químico, eles se separam de seu parceiro e levam muito mais tempo - em alguns casos, dias - para se recuperar e, às vezes, nem chegam a se recuperar."
O uso de produtos químicos nos plásticos serve para torná-los mais flexíveis, adicionar cor e dar proteção. Para saber quais toxinas são liberadas no mar, a equipe de pesquisadores da Universidade de Portsmouth testou quatro produtos químicos encontrados em plásticos: os ftalatos (DEHP e DBP), que estão em suprimentos médicos, embalagens de alimentos e brinquedos; o fosfato de trifenil (TPHP), usado principalmente como retardador de chamas em produtos; eN-butil benzenossulfonamida (NBBS), presente em nylon, dispositivos médicos, utensílios de cozinha e filmes.
![Imagens dos pequenos Echinogammarus marinus expostos as toxinas — Foto: Universidade de Portsmouth](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/QRq28w8UEMO9gVUs6SdXSVJ37uw=/0x0:549x364/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2023/u/i/xJEHY4Q3aPccyQxSXNLA/screenshot-60-.png)
"Escolhemos esses quatro aditivos porque a suspeita de perigo que eles representam para a saúde humana está bem documentada", justifica a autora principal do estudo, Bidemi Green-Ojo. Segundo ela, dois dos produtos químicos (DHP e DEHP) são regulamentados e não têm permissão para ser usados em produtos na Europa. Os outros dois não têm restrições atualmente, e são encontrados em muitos produtos domésticos.
Com as substâncias escolhidas, os pesquisadores expuseram pares de Echinogammarus marinus a cada produto químico e monitoraram seu comportamento durante quatro dias, com foco em cronometrar quanto tempo as criaturas levavam para acasalar.
Os resultados mostraram que, no melhor cenário, os animais demoraram muito mais tempo para se emparelhar novamente; no pior, não voltaram a se unir. Além disso, os estudiosos perceberam que dois dos produtos químicos prejudicaram a concentração no esperma dos crustáceos, resultando em um declínio de até 60% na contagem de esperma daqueles expostos a níveis elevados dos produtos químicos.
"É possível que, se fizéssemos o experimento com crustáceos que tivessem sido expostos por um período mais longo ou durante estágios críticos de sua história de vida, isso afetaria os níveis e a qualidade do esperma", declara Ford.
Bidemi Green-Ojo acrescenta: "Muitos tipos de comportamento, como alimentação, modo de luta ou fuga e reprodução, são essenciais na vida de um animal, e qualquer comportamento anormal pode reduzir suas chances de sobrevivência."