Pista de dança "estrondosa" associada aos incas é descoberta no Peru

De acordo com o estudo liderado por Kevin Lane, da Universidade de Buenos Aires, a estrutura foi projetada para imitar um som de um tambor ao ser pisoteada. Ela pode ter sido feita em homenagem a uma divindade andina do raio e trovão.

O potencial sonoro da pista de dança foi descoberto por acaso. De acordo com Lane, quando sua equipe pisou na plataforma, um eco reverberou no ar. Certos de que o barulho não se tratava de uma coincidência, os arqueólogos iniciaram uma escavação completa da área sob seus pés.

“A associação do local à veneração da divindade andina do raio e do trovão sugere que a dança neste local pode ter sido em parte sintonizada com essa entidade sobrenatural”, propõe Lane no seu estudo.

A estrutura em forma quadricular está posicionada de frente para a montanha vizinha de Huinchocruz e conta com um ushnu, que é um tipo de plataforma cerimonial pré-hispânica. Lane e seus colegas acreditam que a área pode ter continuado a ser usada para venerar uma deidade associada aos raios entre 1400 e 1532, durante o Império Inca.

Com cerca de 10 metros de comprimento, a pista de dança é composta por quatro camadas preenchidas com uma mistura de guano de camelídeo e argila siltosa. Os pesquisadores apontam que esses materiais foram escolhidos justamente para aprimorar o efeito acústico.

Lane destaca que o som era um elemento essencial em rituais e cerimônias dos povos andinos, já que eles acreditavam que fazer barulho possibilitava uma conexão poderosa com o reino espiritual. Além disso, outras construções feitas com esse intuito já foram encontradas em sítios arqueológicos andinos.

É possível que a pista de dança em Viejo Sangayaico acomodasse até 26 pessoas dançando em uníssono, o que produziria um som forte. Também é provável que a poeira levantada pelos passos de dança fosse vista como um incremento visual da performance.

Ao veículo The Art Newspaper, Lane apontou que os antigos habitantes da região possivelmente realizavam apresentações rítmicas acompanhadas por batidas dos tambores e melodias dos instrumentos de sopro andinos.

O pesquisador ainda ressalta que a pista de dança em Viejo Sangayaico representa uma prática cultural mais ampla dos povos andinos – tanto que a importância do som também já foi observada do sítio arqueológico peruano Chavin de Huantar. Assim, a descoberta recente deve servir como um lembrete para as futuras explorações e escavações considerarem a ótica da arqueologia acústica, que estuda como o som era usado em culturas antigas.