Arqueologia

Por Redação Galileu

Pesquisadores analisaram uma preciosa carga de metais de um navio naufragado no final da Idade do Bronze, na costa leste de Uluburun, atual Turquia. A embarcação continha estanho e cobre que seriam comercializados nos mercados ao redor do Mediterrâneo.

As descobertas sobre o navio, que afundou mais de 3 mil anos antes do Titanic naufragar no Atlântico Norte, foram registradas no último dia 30 de novembro na revista Science Advances.

Desde sua descoberta, em 1982, os cientistas estudam o conteúdo do naufrágio em Uluburun para saber mais sobre as pessoas e organizações políticas que dominaram o período final da Idade do Bronze. Análises geoquímicas permitiram determinar que parte do estanho encontrado em torno do barco se originou de uma mina pré-histórica no Uzbequistão.

Cerca de um terço do metal vinha de comunidades pequenas de pastores que vivem até hoje no país. “Parece que esses mineradores locais tiveram acesso a vastas redes internacionais e, por meio do comércio terrestre e outras formas de conectividade, conseguiram passar essa importante mercadoria até o Mediterrâneo”, conta Michael Frachetti, um dos autores do estudo, em comunicado.

De acordo com Franchetti, que é professor na Universidade de Washington em St. Louis, nos EUA, a indústria de mineração parece ter sido administrada por comunidades locais de pequena escala ou trabalhadores livres que negociaram esse mercado fora do controle de reis, imperadores ou outras organizações políticas.

Imagens da escavação subaquática de Uluburun mostrando lingotes de metal — Foto: Cemal Pulak/Texas A&M University
Imagens da escavação subaquática de Uluburun mostrando lingotes de metal — Foto: Cemal Pulak/Texas A&M University

Os pesquisadores usam isótopos de estanho para determinar a origem do metal de artefatos desde meados da década de 1990, de acordo com Wayne Powell, principal autor do estudo. No entanto, as tecnologias e métodos de análise não eram precisos o suficiente para fornecer respostas claras.

Cerca de 30 anos depois, os pesquisadores finalmente têm uma resposta mais definitiva graças a técnicas avançadas. Segundo eles, um terço do estanho a bordo do naufrágio de Uluburun veio da mina Mušiston, no Uzbequistão. Os dois terços restantes do metal derivam da mina Kestel, na antiga Anatólia, hoje Turquia.

Mergulhador segura placa de cobre descoberta no naufrágio na Turquia  — Foto: Cemal Pulak/Texas A&M University
Mergulhador segura placa de cobre descoberta no naufrágio na Turquia — Foto: Cemal Pulak/Texas A&M University

Franchetti explica que o bronze é feito principalmente de cobre e estanho. Enquanto o cobre é bastante comum e pode ser encontrado em toda a Eurásia, o estanho é muito mais raro e achado apenas em tipos específicos de depósitos geológicos.

Por décadas, pesquisadores tentaram explicar como os grandes impérios da Idade do Bronze estavam alimentando sua vasta demanda por bronze. A resposta pode ser uma complexa rota de comércio, evidenciada pelo navio Uluburun, que produziu a maior coleção de metais brutos já encontrada do período.

O cobre e o estanho achados no naufrágio são suficientes para produzir 11 toneladas de bronze da mais alta qualidade. Se não tivesse sido perdido no mar, esse metal poderia equipar uma força de quase 5 mil soldados da Idade do Bronze com espadas, "sem mencionar muitos jarros de vinho", acrescenta Frachetti.

Depois de extraídos, os metais eram processados ​​para envio e, finalmente, derretidos em formas padronizadas conhecidas como lingotes. Os formatos distintos dos lingotes serviam como cartões de visita para os comerciantes saberem de onde eles se originaram, de acordo com o professor.

Mapa mostra área em que o navio afundou na costa leste de Uluburun, na Turquia (estrela amarela) — Foto: Michael Frachetti/Washington University em St. Louis
Mapa mostra área em que o navio afundou na costa leste de Uluburun, na Turquia (estrela amarela) — Foto: Michael Frachetti/Washington University em St. Louis

Os lingotes do navio de Uluburun tinham uma forma cuja origem se acreditava ser de Chipre. No entanto, as descobertas atuais sugerem que o objeto pode ter surgido mais a leste. Frachetti afirma que ele e outros pesquisadores planejam continuar estudando as formas únicas das placas de metal usadas ​​no comércio.

“As descobertas atuais ilustram uma sofisticada operação de comércio internacional que incluiu agentes regionais e participantes socialmente diversos que produziram e comercializaram commodities essenciais de terra dura durante a economia política da Idade do Bronze, da Ásia Central ao Mediterrâneo”, conclui o professor.

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