Arqueologia

Por Redação Galileu

Engana-se quem acredita que os antigos hominídeos se alimentavam apenas de carne. Pesquisadores da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, descobriram em uma recente análise que eles não somente desenvolveram suas próprias técnicas culinárias, como também mantinham uma dieta vegetariana.

A pesquisa, liderada por Ceren Kabukcu, pesquisadora do Departamento de Arqueologia, Clássicos e Egiptologia, investigou amostras de restos de comida carbonizada encontradas na Caverna Shanidar, no Iraque, e na Caverna Franchthi, na Grécia.

Os alimentos datam das primeiras ocupações humanas modernas, há 40 mil anos, e a comunidades neandertais, há 70 mil anos. A descoberta foi publicada na revista Antiquity no último dia 23 de novembro.

Segundo os arqueólogos, essa é a primeira análise a mostrar que as técnicas modernas de preparação e processamento de alimentos eram comuns há muito tempo. “Os povos paleolíticos foram retratados, por exemplo, como caçadores especializados em grandes mamíferos ou como forrageadores visando recursos fáceis de coletar por necessidade”, relatam os pesquisadores no estudo.

Dieta vegetariana

Com o auxílio de um microscópio eletrônico de varredura, a equipe constatou que os povos paleolíticos se preocupavam com uma boa comida, desenvolvendo não só maneiras de cozinhar, mas também de temperar o alimento.

Restos de comida vegetal da Caverna Franchthi foram os primeiros de seu tipo descobertos na Europa, há cerca de 12 mil a 13 mil anos, e incluem itens semelhantes a pão sírio. Além disso, a culinária dos neandertais e do início da era moderna frequentemente incluía plantas com sabores amargos, acentuados e ricos em taninos.

Restos alimentares vegetais carbonizados da Caverna Franchthi — Foto: Reprodução/Universidade de Liverpool
Restos alimentares vegetais carbonizados da Caverna Franchthi — Foto: Reprodução/Universidade de Liverpool

O estudo também identificou que, para deixar a comida mais saborosa, nossos ancestrais utilizavam alguns truques, como imersão e lixiviação, seguidas de trituração ou moagem grosseira, para remover grande parte do sabor amargo de certos legumes. “Este estudo aponta para a complexidade cognitiva e o desenvolvimento de culturas culinárias nas quais os sabores foram significativos desde muito cedo", conta Kabukcu, em comunicado.

“Nosso trabalho demonstra conclusivamente as complexidades da dieta dos primeiros caçadores-coletores, que são semelhantes às práticas modernas de preparação de alimentos. Por exemplo, nozes e gramíneas eram frequentemente combinadas com leguminosas, como lentilhas e mostarda silvestre”, completa.

Tecnologia avançada

As receitas complicadas também faziam parte da dieta paleolítica, desmistificando o estereótipo de que os neandertais dependiam apenas de carne. O cientista ainda destaca que essa descoberta mostra que a espécie mantinha uma alimentação balanceada.

Eleni Asouti, professora de arqueologia da Universidade de Liverpool e coautora do estudo, diz que essas práticas culinárias há muito são percebidas por arqueólogos e antropólogos como marcas registradas das sociedades agrícolas neolíticas e a origem da culinária como a entendemos hoje.

“Nossas descobertas mostram que as técnicas culinárias modernas têm uma ancestralidade muito mais profunda e longa ligada ao início da agricultura em milhares de anos. Esta pesquisa abre novas fronteiras no estudo científico da evolução da dieta humana”, finaliza.

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