• Carina Brito
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Semana de Arte Moderna foi realizada no Teatro Municipal, em São Paulo (Foto: Wikimedia Commons)

Semana de Arte Moderna foi realizada no Teatro Municipal, em São Paulo (Foto: Wikimedia Commons)

O Modernismo foi muito mais do que uma tendência na literatura. Grande movimento artístico que eclodiu no final da segunda década do século 20, foi responsável por profundas transformações nas mais diversas manifestações culturais, que tinham o objetivo de romper com o passado e também criar uma literatura que falasse do Brasil para os brasileiros.

O período modernista brasileiro começou com a Semana de Arte Moderna, realizada entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. O evento contou com uma exposição de cerca de 100 obras de diversos artistas plásticos, entre eles os pintores Anita Malfatti, Di Cavalcanti, e os escritores Graça Aranha, Guilherme de Almeida e Mário de Andrade

O momento mais importante daquela semana foi a leitura do poema de Manuel Bandeira intitulado Os Sapos, que era claramente uma crítica aos parnasianos (que cultuavam principalmente a forma e o estilo rebuscados). Bandeira não compareceu à Semana, teve seu poema lido por Ronald de Carvalho — que foi vaiado pelos presentes que ainda preferiam o parnasianismo. Na época, a Semana de Arte Moderna não foi considerada tão relevante para o cenário cultural, mas ganhou importância histórica por ser o marco que inaugurou o Modernismo no país.

Eduardo Calbucci, professor de literatura, explica que o Modernismo é dividido em três gerações, marcadas pela busca de inovações capazes de amadurecer a literatura nacional. "A Primeira geração, de 1922 a 1930, é a fase inicial do modernismo, muito voltada para romper com as tradições do passado", explica. O três principais escritores dessa fase são justamente Manuel Bandeira, Mário de Andrade (que escreveu Macunaíma) e Oswald de Andrade.

Manuel Bandeira  (Foto: Wikipedia Commons)

O poema "Os Sapos" de Manuel Bandeira foi vaiado durante a Semana de Arte Moderna (Foto: Wikipedia Commons)

A segunda geração, de 1930 a 1945, é quando o modernismo começa a se consolidar — saindo de um momento em que a ideia era romper com o passado para agora construir efetivamente a literatura moderna. Os mesmos três autores da primeira fase continuam a produzir, mas um novo grupo de autores se destaca, como  Graciliano Ramos na prosa e Carlos Drummond de Andrade na poesia. "Sempre destacamos os escritores nordestinos também, em que o regionalismo foi muito forte", explica Calbucci. 

De 1945 a 1960 surge a terceira geração, considerada a fase de fragmentação em que o movimento perde um pouco a unidade, com várias tendências literárias surgindo ao mesmo tempo. Uma representante é a escritora Clarice Lispector, que tem sua literatura marcada pela quebra da linearidade discursiva e pela epifania — momentos em que alguma das personagens (no geral, femininas) passam por uma revelação ou uma tomada de consciência diante de um fato do cotidiano.

Além de Clarice, destacam-se João Guimarães Rosa, que escreveu Grande Sertão: Veredas, e João Cabral de Melo Neto, escritor de Morte e Vida Severina, obra caracterizada pelo rigor estético e pela busca da significação máxima da palavra.

Clarice Lispector é uma das autoras que costumam cair no vestibular (Foto: Wikimedia Commons)

Clarice Lispector é uma das representantes do Modernismo (Foto: Wikimedia Commons)

Contexto político
No Brasil, o modernismo é resultado de muitas transformações políticas no início de século 20. O período vigente é a primeira fase da República, chamado de República Velha (1889-1930), marcada pelas política do café-com-leite, em que o centro de poder do país era concentrado nas oligarquias cafeeiras paulistas e nos fazendeiros de Minas Gerais.

Em 1930, um movimento liderado por Getúlio Vargas encerra a República Velha e inicia uma nova etapa do país, com a modernização econômica e a consolidação de alguns direitos trabalhistas e sociais. "Durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945), de Getúlio Vargas, tivemos uma série de escritores que se envolveram com as obras engajadas politicamente. Entre eles Graciliano Ramos e Carlos Drummond de Andrade", diz Calbucci. 

O maior exemplo foi A Rosa do Povo, publicado em 1945, escrito sob influência da Segunda Guerra Mundial e da ditadura do Vargas no Brasil. “É um livro extremamente político em que a crítica ao autoritarismo fica em primeiro plano”, diz o professor. Vidas Secas, de Graciliano Ramos, também tem esse teor político. “É muito voltado para o problema da seca do Nordeste e para desigualdade social — e regional.”

Portugal
O Modernismo em Portugal começa um pouco antes, na década de 1910 — também com a ideia do rompimento com o passado e influência das vanguardas europeias, especialmente o futurismo. O marco é a publicação da Revista Orpheu, capitaneada por Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro e Almada Negreiros.

A partir da década de 1940, os escritores brasileiros começam a servir de inspiração para escritores portugueses. “Tanto que a terceira fase do modernismo em Portugal é chamado de neorrealismo, da mesma forma que no Brasil”, explica o professor. “É curioso porque a literatura brasileira era muito influenciada pela portuguesa e, no século 20, observamos essa mudança pela primeira vez”.

Segundo Calbucci, o Enem não costuma cobrar escritores portugueses de forma aprofundada: quando aparecem na prova, são acompanhados pela leitura de um texto de apoio. Mas o professor alerta que é muito importante conhecer alguns dos principais autores modernistas brasileiros. "Uma coisa que sempre digo é que para o Enem é muito importante ter o hábito de leitura de textos modernos. Como não temos leitura obrigatória, pode ser qualquer texto, então tudo o que o aluno puder ler a partir de 1922 é relevante", afirma.