• Carina Brito
Atualizado em
Clarice Lispector é uma das autoras que costumam cair no vestibular (Foto: Wikimedia Commons)

Clarice Lispector é uma das autoras que costumam cair no vestibular (Foto: Wikimedia Commons)

Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, em 10 de dezembro de 1920, mas não ficou lá por muito tempo: com dois meses de idade, chegou ao Brasil com seus pais e duas irmãs. Em 1924 a família mudou-se para o Recife, motivo pelo qual ela se considerava pernambucana. Perdeu a mãe quando tinha apenas oito anos de idade e três anos depois mudou-se para o Rio de Janeiro. Em 1939, Clarice ingressou na faculdade de Direito, onde concluiu a graduação em 1943.

A escritora trabalhou como redatora para a Agência Nacional e como jornalista no jornal A Noite. Casou-se em 1943 com o diplomata Maury Gurgel Valente, com quem teve dois filhos, Pedro e Paulo. Em sua carreira, publicou diversos romances, novelas, contos, crônicas e obras de literatura infantil.

“A Clarice se insere no período modernista, mais precisamente na passagem da segunda para a terceira fase modernista”, afirma o professor de literatura Paulo Ferrarezi, destacando o fato de que a literatura criada pela autora é muito acolhida nos vestibulares.

"Deve-se levar em conta as características que são preponderantes em sua escrita como, por exemplo, o fato de ela produzir uma escrita epifânica", diz o professor. Isso significa que, nos contos da escritora, há momentos em que alguma das personagens (no geral, femininas), passam por uma revelação ou uma tomada de consciência diante de um fato do cotidiano.

Um exemplo é o conto Amor, que está no livro Laços de Família. O texto apresenta Ana, que todos os dias repete afazeres cotidianos para cuidar da família. No período da tarde, ela fica ociosa, já que sua família não está e ela tem dificuldade em pensar em si mesma como alguém que é importante. "O texto questiona, inclusive, se é uma escolha a mulher se anular em função de outros seres", diz Ferrarezi. A epifania acontece quando Ana está voltando das compras e vê um cego mascando chiclete, e a cena do cotidiano fora de sua casa a impressiona. 

"O mais incômodo nos contos da Clarice é que, mesmo depois deste momento de revelação, a mulher volta para a primeira situação. Aquela cegueira branca e aceitação social. Isso é muito impactante na maioria dos contos produzidos por ela", explica o professor. 

A escritora também publicou A Hora da Estrela, seu último romance, que foi adaptado para o cinema em 1985. O livro é narrado por Rodrigo S.M., uma representação da própria Clarice, fazendo diversas reflexões sobre o ato de escrever durante o livro. Ele conta a história de Macabéa, jovem alagoana de 19 anos que vive no Rio de Janeiro.

A personagem é órfã e foi criada por uma tia muito religiosa e moralista que tinha  prazer em castigar Macabéa com cascudos na cabeça e privá-la de sua única paixão: a goiabada com queijo na sobremesa. Depois de uma infância sem amigos nem animais de estimação, Macabéa vai para a cidade grande com a tia — que morre. Macabéa se envolve em um relacionamento com Olímpico de Jesus, que depois termina com a jovem para namorar sua colega de trabalho, Glória.

A Hora da Estrela, de Clarice Lispector (Foto: Divulgação)

A Hora da Estrela, de Clarice Lispector (Foto: Divulgação)

"Temos alguns ingredientes vitais para a constituição desta obra. A Macabéa é a mulher que migrou para um estado mais rico na expectativa de viver uma vida mais digna. Mas ela tem absolutamente tudo contra ela. A cidade grande é um ambiente muito hostil para uma pessoa como ela que, além de ser mulher, nordestina e ignorante, é feia. A própria narrativa fornece essas características para ela", diz Ferrarezi

Segundo o professor, a protagonista não tem o momento de redenção como as outras personagens de Clarice costumam ter. "Ela não consegue ter a epifania porque a Macabéa é tão ingenua e tão pura que ela nem chega a atingir a consciência de quem ela é realmente. Ela só lamenta a condição dela e não tem a possibilidade de autoconhecimento. A 'hora da estrela' se dá na transmutação da vida para a morte porque é a unica maneira de ela atingir o estrelato: morrendo atropelada no asfalto". 

Entre outras obras famosas estão: Perto do Coração Selvagem (1943), Laços de Família (1960), A Maçã no Escuro (1961) e A Paixão Segundo G.H. (1964) — que você pode conhecer mais aqui.

Clarice morreu no Rio de Janeiro, em 9 de dezembro de 1977, um dia antes de completar 57 anos.