• Reportagem Marília Marasciulo | Edição Isabela Moreira e Giuliana de Toledo | Ilustrações Ricardo Davino | Design Mayra Martins
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Dossiê - Produtividade (Foto: Ilustração: Ricardo Davino)

Dossiê - Produtividade (Foto: Ilustração: Ricardo Davino)

A corrida por produtividade a todo custo tem impacto direto na saúde — vide o aumento de casos de ansiedade e síndrome de burnout, ou esgotamento profissional. A condição, descrita pela primeira vez em 1974 pelo psicólogo Herbert Freudenberger, é o “colapso físico ou mental causado pelo excesso de trabalho ou estresse”. O esgotamento é mais do que exaustão, é chegar ao ponto em que não se pode continuar e se forçar a seguir.

Um estudo da Gallup, de 2018, revelou que 23% dos trabalhadores nos EUA se sentem esgotados sempre ou com frequência. Os custos para a saúde chegam a US$ 190 bilhões por ano, pois a enfermidade está correlacionada a outras como diabetes tipo 2, doença coronariana, problemas gastrointestinais, alto colesterol e morte súbita antes dos 45 anos.

“A sensação de que fez mil coisas e ao mesmo tempo não fez nada vem muito do ‘fazer por fazer’, varias vezes somente tarefas rasas, sem entender a complexidade”, completa Caio Camargo da Silva, da PUC-PR. E nada disso vai fazer sentido daqui a mais ou menos dez anos, quando entrarmos na era da inteligência artificial, alerta Sigmar Malvezzi, da USP. No ano passado, o relatório The Future of Jobs (O Futuro dos Trabalhos, em tradução livre), divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, revelou que ao menos 42% das atividades atuais serão automatizadas até 2020 — os humanos ficarão com os 58% restantes do trabalho, em comparação aos atuais 71%. Até 2022, as máquinas devem eliminar 75 milhões de trabalhos.

Embora seja otimista, e preveja que ao menos 133 milhões de funções sejam criadas à medida que as empresas se adaptem, o relatório reconhece que a rotina mudará: os empregados fixos provavelmente serão substituídos por freelancers e temporários, focados em tarefas que os robôs não são capazes de fazer.

Duas horas a menos?
Estudos recentes colocam a jornada típica, de oito horas, em questionamento. Teste na Suécia aponta o benefício de trocar para uma rotina de seis

Assim como Henry Ford inovou ao diminuir a carga horária de trabalho para oito horas diárias e observou aumento na produtividade, há estudos e experiências que apontam que, no contexto atual, uma redução para seis horas seria uma boa ideia. Uma pesquisa feita em 2016 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que avaliou a relação das horas trabalhadas por pessoa e o Produto Interno Bruto (PIB) gerado por elas, revelou que quando as horas diminuem, a produtividade aumenta.

Na Suécia, um estudo feito com enfermeiros ao longo de dois anos identificou que trabalhar por seis horas reduziu o absenteísmo em 4,7% e que a qualidade do serviço prestado aumentou em 64%. O grupo de controle, que continuou trabalhando oito horas por dia, faltou 62,5% mais. Mas o estudo, financiado pela cidade de Gothenburg, foi encerrado por falta de verba.