• Redação Galileu
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Cientistas acreditam que a capacidade de infecção do vírus seja, ao menos em parte, causada pelo seu grande número de mutações (Foto: Reprodução/Fusio Medical Animation)

Cientistas acreditam que a capacidade de infecção do vírus seja, ao menos em parte, causada pelo seu grande número de mutações (Foto: Reprodução/Fusio Medical Animation)

Uma equipe de cientistas nos Estados Unidos determinou mudanças estruturais da proteína da variante ômicron. Suas observações explicam como o vírus é capaz de escapar de anticorpos contra variantes anteriores e ainda continuar altamente infeccioso. Os estudos foram publicados no periódico Science nesta terça-feira (25).

“Os achados fornecem um plano que os pesquisadores podem usar para projetar novas medidas contra a ômicron e outras variantes do coronavíus que possam surgir”, disse em comunicado David Veesler, pesquisador do Instituto Médico Howard Hughes e professor de bioquímica da Escola de Medicina da Universidade de Washington, em Seattle. Ele liderou o projeto de pesquisa junto com Gyorgy Snell, da empresa Vir Biotechnology Inc., de São Francisco, na Califórnia.

A variante ômicron, encontrada inicialmente em novembro de 2021 na África do Sul, vem causando um surto de infecções ao redor do mundo. Além de ser altamente infecciosa, ela pode evitar anticorpos contra variantes anteriores, levando a infecções entre aqueles que já foram vacinados ou infectados anteriormente. Vessler e seus colegas mostraram que anticorpos gerados pelas seis vacinas mais comumente usadas têm uma capacidade reduzida ou anulada de neutralizar a ômicron.

Cientistas acreditam que a capcidade do vírus de infectar seja, pelo menos em parte, causada pelo grande número de mutações nas sequências de aminoácidos da proteína spyke (ou “de pico”) do vírus, por meio da qual ele se prende e entra nas células que infecta. Os cientistas apontam que a proteína spyke da ômicron tem 37 mutações que a distinguem dos primeiros vírus Sars-CoV-2 isolados em 2020.

No entanto, muitas das mutações na variante afetam a estrutura da proteína que é responsável por se ligar e entrar nas células, uma região chamada de domínio de ligação ao receptor. Muitos esperavam que as mudanças resultantes dessa composição proteica pudessem prejudicar a habilidade da variante de se ligar ao seu alvo nas células.

Esse alvo é uma proteína chamada enzima conversora de angiotensina-2, ou ACE2. No entanto, em seu estudo, Vessler e seus colegas descobriram que as mudanças, na verdade, aumentaram a capacidade do receptor de se ligar ao ACE2 em 2,4 vezes.

Para entender como a ômicron acumulou tantas mutações, os pesquisadores utilizaram estudos microscópicos crioeletrônicos e cristalográficos de raios-X para desvendar a organização da proteína da ômicron em 3D.

A abordagem permitiu-lhes atingir uma resolução de cerca de 3 angstrons (unidade de medida equivalente a 10⁻¹⁰ m). Nessa resolução, foi possível discernir a forma dos blocos de construção de aminoácidos que compõem a proteína. Os pesquisadores também determinaram como as mudanças afetaram a capacidade dos anticorpos eficazes contra variantes anteriores de se ligarem à ômicron.

Próximas mutações

Os achados demonstraram o “formidável opontente que a Sars-CoV-2 é”, segundo Veesler. “Esse vírus tem uma plasticidade incrível: pode mudar muito e ainda manter todas as funções necessárias para infectar e replicar”, observou. “E é quase garantido que a omicron não é a última variante que veremos.”

Os objetivos seguintes dos pesquisadores devem ser focar e identificar regiões na proteína que não podem ser alteradas sem causar sua perda de função. Devido à sua importância, essas áreas tendem a permanecer conservadas mesmo quando outras partes da proteína sofrem mutações.

Essas regiões conservadas das proteínas virais provavelmente permanecerão inalteradas em qualquer nova variante que possa surgir. Essas regiões seriam alvos ideais para novas vacinas que poderiam ser eficazes não apenas contra novas variantes, mas também contra novos sarbecovírus, grupo que compreende Sars-CoV-2 e Sars-CoV, disse Veesler.