• Redação Galileu
Atualizado em
Com base nos restos mortais das vítimas, os cientistas reconstruíram o rosto de um adulto do sexo masculino (esquerda) e de uma criança (direita) (Foto: Caroline Wilkinson/ Liverpool/John Moores University)

Com base nos restos mortais das vítimas, os cientistas reconstruíram o rosto de um adulto do sexo masculino (esquerda) e de uma criança (direita) (Foto: Caroline Wilkinson/ Liverpool/John Moores University)

Muito antes da Segunda Guerra Mundial, o antissemitismo já era uma prática na Inglaterra da Idade Média. Um grupo de judeus que pode ter morrido no século 12 por discriminação foi identificado por pesquisadores britânicos. Eles registraram os resultados em estudo publicado na última terça-feira (30) na revista Current Biology.






Os restos mortais dos judeus foram encontrados em 2004, no fundo de um poço medieval, por trabalhadores da construção civil em Norwich, no Reino Unido. As investigações arqueológicas da época relataram esqueletos de 17 pessoas, incluindo seis adultos e 11 crianças.

Contribuíram com a nova pesquisa especialistas de instituições britânicas e da Universidade de Mainz, na Alemanha. A equipe conduziu uma análise genética em seis dos 17 indivíduos, sequenciando seus genomas por completo.

Os corpos dos mortos estavam posicionados de forma estranha, segundo os estudiosos, indicando que eles foram provavelmente depositados “de cabeça” após morrerem. Eles também aparentavam ter sido vítimas de fatalidades em massa, como fome, doença — ou, o mais provável, assassinato.

A datação por radiocarbono indicou que os óbitos ocorreram do final do século 12 ao início do século 13, período que incluiu surtos de violência antissemita na Inglaterra. Os indivíduos do poço compartilhavam ancestrais genéticos diaspóricos parecidos com os de judeus asquenazes (aqueles com origem europeia) atuais, trazendo também indícios das práticas tradicionais endogâmicas dessa população.

A análise de DNA indicou que havia quatro sepultamentos de parentes próximos, incluindo três irmãs, filhas dos mesmos pais — uma com 5 a 10 anos; outra com 10 a 15 anos e uma  jovem adulta. Também havia um menino de 0 a 3 anos de idade com olhos azuis e cabelos ruivos, aparência similar aos estereótipos históricos de judeus europeus.

Imagem mostra a distribuição das ossadas dos judeus durante as escavações na Inglaterra (Foto: Selina Brace et.al )

Imagem mostra a distribuição das ossadas dos judeus durante as escavações na Inglaterra (Foto: Selina Brace et.al )

Os mortos também carregavam marcadores associados a distúrbios genéticos para os quais populações judaicas asquenazes modernas correm maior risco. Antes, acreditava-se que gargalos genéticos geraram essas anomalias cerca de 500 a 700 anos atrás.

Esses gargalos são quando uma população passa por uma rápida redução, levando a  grandes saltos no número de pessoas portadoras de mutações raras. Porém, simulações de computador mostraram que a quantidade de mutações nos esqueletos era parecida com a que se teria caso as doenças fossem tão comuns quanto são hoje. Isso significa que o gargalo presente nos mortos, na verdade, antecedeu o século 12, ocorrendo antes do esperado.

O DNA antigo ainda não pode dizer ao certo a causa da morte dos indivíduos, porém sugere que, provavelmente, houve um massacre antissemita. "Estou encantada e aliviada que 12 anos depois de começarmos a analisar os restos mortais desses indivíduos, a tecnologia nos alcançou e nos ajudou a entender esse caso histórico de quem eram essas pessoas e por que achamos que foram assassinadas”, afirma Selina Brace, principal autora do estudo, em comunicado.






Segundo o geneticista evolucionário Mark Thomas, que é coautor da pesquisa, ninguém havia analisado o DNA antigo judaico devido a regras religiosas que proíbem perturbar túmulos desse povo. “No entanto, não sabíamos que eles provavelmente eram judeus até depois de fazer as análises genéticas”, explica o professor.

“Foi bastante surpreendente que os restos inicialmente não identificados preenchessem a lacuna histórica sobre quando certas comunidades judaicas se formaram e as origens de alguns distúrbios genéticos”, ele acrescenta.