Arqueologia
Rituais funerários na cidade mais antiga do mundo são desvendados
Assentamento do Neolítico que abrigou humanos há 9 mil anos apresenta vários ossos e paredes pintadas com pigmentos, indícios de práticas simbólicas
1 min de leituraApós analisarem restos humanos da cidade mais antiga do mundo, Çatalhöyük, na Turquia, arqueólogos descobriram indícios intrigantes de rituais funerários feitos pelos moradores há 9 mil anos. Os especialistas publicaram suas conclusões no último dia 8 de março na revista Scientific Reports.
A equipe internacional por trás da pesquisa, liderada por experts da Universidade de Berna, na Suíça, analisou o uso de pigmentos em sepultamentos e também no cenário arquitetônico do assentamento, que data do período Neolítico.
Os ossos dos habitantes da cidade, que hoje é um dos sítios arqueológicos mais importantes do Oriente Próximo, estavam parcialmente pintados. Alguns foram escavados várias vezes e reenterrados. Especula-se que a utilização de pigmentos nos rituais e na arquitetura dessa região passou a ser frequente a partir da segunda metade dos milênios 9 e 8 a.C.
A pesquisa mostrou que um pigmento ocre avermelhado era o mais utilizado em Çatalhöyük, e estava nos restos mortais tanto de adultos quanto de crianças. Já o minério cinábrio era usado principalmente nas mulheres e um pigmento azul/verde estava associado aos homens.
Além dos esqueletos com vestígios de corantes, as casas dos moradores tinham diversas pinturas. O número dos sepultamentos, segundo observaram os arqueólogos, parecia estar inclusive associado à quantidade das camadas dessas obras de arte.
"Esses resultados revelam vislumbres interessantes sobre a associação entre o uso de corantes, rituais funerários e espaços de vida nessa sociedade fascinante", comenta o autor sênior do estudo, Marco Milella, em comunicado.
De acordo com os pesquisadores, havia algum contexto maior ligando os ritos funerários e o uso dos corantes no ambiente doméstico. “Quando enterravam alguém, [os moradores] pintavam também as paredes da casa”, supõe Milella.
Outro fato relevante é que apenas alguns dos habitantes foram enterrados com pigmentos nos ossos. De acordo com o pesquisador, os critérios que determinavam isso ainda são um mistério que torna os achados ainda mais interessantes. “Nosso estudo mostra que essa seleção não foi relacionada a idade ou sexo", esclarece o arqueólogo.