Ondas de calor, chuvas intensas... As mudanças climáticas já são uma realidade no planeta, podendo impactar drasticamente a vida das futuras gerações. Diante desse cenário incerto e até mesmo apocalíptico, muitas pessoas têm optado por não ter filhos. No entanto, a escritora inglesa Megan Hunter pensa diferente.
Em um relato emocionante para revista Vogue Internacional, a autora do livro The End We Start From (O Fim de Onde Começamos, em tradução livre) explicou que seus filhos a fizeram a ter mais esperança de que é possível combater a crise climática. A obra da escritora conta a história de uma mãe que deu à luz seu primeiro filho enquanto Londres, na Inglaterra, está submersa, devido às enchentes. Em busca de um lugar seguro, a protagonista deixa sua casa e enfrenta uma jornada desafiadora para criar seu bebê em segurança. O livro ganhou uma adaptação cinematográfica homônima, dirigida por Mahalia Belo e estrelada pela atriz Jodie Comer.
Após o lançamento do filme, Megan relata como a maternidade lhe deu esperança e força para lutar por um mundo melhor. Confira!
Quando tive meu primeiro filho, aos 25 anos, fiquei, como muitos pais, sobrecarregada pela força do meu amor por ele e pela sua vulnerabilidade. Empurrava seu carrinho pela poluída rua principal do bairro, incapaz de processar a fragilidade de sua cabecinha, surgindo acima dos cobertores, cercada por poeira e fumaça dos carros que passavam.
Cresci com um sentimento de ruína em relação ao meio ambiente e, quando estava com 20 anos, isso só se intensificou, com a ansiedade se expandindo para incluir meus filhos e o futuro deles. Lembro-me de uma primeira página apocalíptica sobre o clima no jornal ao lado da cama do hospital onde estava com meu segundo bebê, pouco depois do nascimento dela. Havia culpa por trazer crianças a este mundo, com medos inevitáveis, grandes e pequenos. Quando voc�� tem um filho, vê a morte dele repetidamente em acidentes que podem acontecer, em todas as maneiras que você poderia falhar com ele. E na crise climática, esse medo existencial — e remorso — é ampliado gigantescamente, em escala planetária. Quando comecei a escrever meu primeiro romance em 2016, parecia inevitável que o livro, ambientado em um futuro próximo quando uma mulher dá à luz seu primeiro filho, se passasse em um mundo de desastre climático. Um tempo imaginado quando Londres está completamente submersa.
Uma vez, quando meu filho pequeno estava tendo uma crise de birra e meu bebê estava chorando em seu carrinho, uma mulher em um parque se ajoelhou ao meu lado enquanto tentava pegar meu filho do chão e disse: "Você não está sozinha". Eu não a vi novamente, mas nunca esqueci aquele momento.
Agora, nove anos depois, o livro que escrevi — "The End We Start From" ("O Fim de Onde Começamos") — se tornou um filme com o mesmo nome, adaptado por Alice Birch, dirigido por Mahalia Belo e estrelado por Jodie Commer. Além da minha alegria pelo filme em si, por ver meu livro ganhar vida de uma maneira tão bonita, há uma tristeza no fato de ele se tornar cada vez mais relevante para o nosso mundo ameaçado pelo clima. Como a narradora do meu romance afirma: "Isso é o que você não quer. O que ninguém jamais quis, que as notícias fossem relevantes".
Parece, em muitas maneiras, que há ainda poucos motivos para ter esperança, com o filme parecendo menos um futuro distópico e mais uma história contemporânea sobre os tempos em que vivemos. Com o Reino Unido mais uma vez devastado por enchentes, a emergência climática se torna mais urgente enquanto as soluções políticas são inadequadas e comprometidas com uma economia movida pelo lucro. Frequentemente, sinto que o tempo desde que meus filhos nasceram pode ser caracterizado apenas por um crescente senso de desespero em relação ao clima, com decepções cumulativas que parecem apontar unicamente para a catástrofe.
Mas, ao assistir ao filme, me encontrei atraída pelo amor que ele retrata, como esse amor emerge das enchentes, danificada como a cidade está, mas ainda viva, ainda forte. Uma das imagens mais esperançosas do filme é a de duas mães apoiando e protegendo uma à outra, mais fortes através de sua amizade, cantando enquanto caminham por uma paisagem encharcada. Fiquei novemente impressionada com a ideia de que a esperança não é o mesmo que otimismo. Não se baseia em fatos ou previsões. Ela surge da recusa em desistir, assim a heroína sem nome do livro e do filme nunca pode desistir, deve sempre lutar para sobreviver, por si mesma, por seu filho por todos aqueles que ama.
Não me parece que essa seja um tipo de esperança passiva, de desejar o melhor enquanto ficamos de braços cruzados. É uma esperança baseada no próprio amor, no que o amor nos impulsiona a fazer. Seja por nossos filhos, nossos pais, nossos amigos, o amor nos obriga a querer um futuro melhor. E crucialmente, esse futuro depende de nosso cuidado se estender além daqueles com quem temos laços de sangue: precisa ir além do interesse próprio, além mesmo de nossos laços pessoais — como aquela estranha que me mostrou gentileza no parque — para um mundo habitável e mais igualitário para todos. Há muito tempo acredito que a esperança pode ampliar nossa visão. Embora minha esperança possa, em certo sentido, ter começado com meu filho, com sua novidade no mundo enquanto empurrava seu carrinho pela rua, ela ganhou força em sua expansão, em uma visão mais ampla que abrange um mundo melhor e mais justo para todos.
Com meus filhos agora, ambos no ensino secundário, vejo como a maternidade — e a esperança que ela inspira — me impulsionou a agir. A ajudar a criar esse mundo melhor. Agora, eles têm seus próprios medos e especulações; há perguntas difíceis sobre como devemos viver e como será o futuro deles. Como pais, tudo o que queremos fazer é tranquilizá-los, e, às vezes, isso não possível. Mas a esperança me encoraja a continuar, a ir além dos limites da minha própria casa, da minha própria família, e — assim como os livros e filmes fazem — ampliar os horizontes da minha vida. Quando escrevi o livro "O Fim de Onde Começamos" — e quando assisti ao filme — isso parecia algo que a história podia oferecer, agora: uma pequena, firme imagem de um novo começo, mesmo em meio ao desastre.