9 lições que as plantas ensinam às crianças

É claro que ter plantas em casa dá trabalho. É preciso regar, cuidar, podar… Afinal, estamos falando de seres vivos, não de objetos meramente decorativos. Mas se você abraçar a missão pode usar essa oportunidade para ensinar ao seu filho valores, tais como: respeitar a natureza, aceitar as diferenças e ter paciência. Basta um pouco de disposição e incentivo.

Para a criança, ter a rotina de observar o verde é quase uma aula de biologia. A fisioterapeuta e instrutora de ioga Mayara Brecher, 34, sabe disso porque viveu parte da infância em uma chácara. “Mas foi só quando me mudei para um apartamento, no início da vida adulta, que percebi a importância de tê-las por perto e comecei a cultivá-las por conta própria”, conta Mayara. E passou a lição para a filha Isis, 7. “Além de identificar várias plantas que temos no quintal pelo nome, ela já sabe que precisamos regá-las e podá-las no lugar certo, por exemplo”, diz a mãe.

Mayara fala não apenas como mãe, mas também como profissional. Recentemente iniciou um projeto ambiental e artístico com crianças em uma escola Waldorf, onde mistura os princípios da ioga aos da agrofloresta. “O ideal é envolver as crianças de maneira lúdica. E não precisa muito. Qualquer pedaço de terra, com luz indireta, já dá para começar. Vale também pesquisar na internet qual planta se adapta melhor à sua casa para não se frustrar depois”, sugere.

O esforço vale a pena. Saiba que, com as plantas, o seu filho...

Além de poder observar os diferentes formatos e cores das folhas e flores, sentir as texturas e provar os frutos, o olfato também é bastante privilegiado, sobretudo com as ervas aromáticas. O próximo passo, depois que seu filho começa a diferenciar a hortelã do manjericão e o orégano do alecrim, por exemplo, é mostrar como as plantas também são capazes de melhorar o sabor da comida.

As plantas frutíferas são as mais bacanas para que a criança possa acompanhar um ciclo de vida mais completo, com semente, folhas, flores e frutos. Um vaso de 50 cm x 50 cm já é suficiente para cultivar pés de romã, amora, jabuticaba, mexerica, limão-siciliano ou limão-cravo.

Principalmente para os pequenos, pode ser difícil entender que um ser estático também é “animado”. “É mais fácil empatizar com um bicho do que com uma planta. A noção de que se trata de algo vivente só aparece conforme a criança amadurece”, explica a especialista em educação infantil Zena Einsberg, professora da PUC-RJ. Por isso, um exercício interessante para começar a cultivar essa ideia é humanizar as plantas da sua casa. “Faça comparações entre o que acontece com a planta e com seu filho".

Fale para a criança, por exemplo: ‘Olha só como as folhas ficaram murchinhas porque faltou água. A planta fica assim, da mesma maneira como você precisa se hidratar para seu corpo ficar bem.’” Dessa forma, os pequenos começam a enxergar as plantas não apenas como objetos.

Antes de qualquer coisa, plantas são seres vivos. E, da mesma forma como acontece com os animais de estimação da família, elas são responsabilidade de todos na casa. “A partir dos 3 ou 4 anos, a criança já tem noção de que não pode arrancar as folhas e de que é preciso regar e cuidar”, explica Quézia Bombonatto, diretora da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp). Também é a partir dessa idade que a criança pode ser incumbida de regar as plantas sozinha – vale pensar em um regador que caiba nas mãos do seu filho!

Ao assumir responsabilidade nos cuidados das plantas, seu filho também vai perceber que, assim como as pessoas, cada uma delas tem necessidades diferentes: umas precisam de mais água, outras de menos. Algumas gostam de ficar direto ao sol, outras, não. Isso ajuda a ampliar o olhar sobre as diferenças e a aprender a respeitá-las.

Além de aprender a reconhecer os diferentes tipos de plantas, por suas folhas, estrutura e cores, as crianças também podem fazer um exercício importante de classificação e categorização: há aquelas que dão frutos e as que não, as que crescem um bocado e as que ficam pequeninas. As aromáticas, que são usadas como temperos, e as medicinais, para fazer chás e óleos. Por isso, é bacana deixá-las separadas por grupo na sua casa, para que o seu filho perceba a que conjunto cada espécie pertence.

Consolidar nos pequenos a ideia de sustentabilidade não é fácil. Pensa só como é complexo explicar a uma criança pequena que cortar árvores pode interferir na camada de ozônio, que as plantas ajudam a limpar o ar que respiramos e que as matas ciliares são essenciais à conservação dos rios? O seu filho não vai ter essa noção macro sobre a necessidade da preservação ambiental tão cedo. Ainda assim, ele pode perceber desde cedo como as plantas estão ligadas ao seu dia a dia – a começar pelos alimentos – e, mais para a frente, ampliar essa perspectiva para a sua cidade, seu país e o planeta. Tudo tem seu tempo.

Em casa, a criança tem a oportunidade de observar todo o processo de desenvolvimento da planta: desde o surgimento das raízes e do primeiro broto até o crescimento do caule, das folhas e, finalmente, o desabrochar das flores e o amadurecimento dos frutos. Sobretudo para essa geração que não está acostumada a esperar, esse é um exercício bem interessante. “Para os menores, a experiência do feijão no algodão, uma tarefa clássica realizada nas escolas, é eficiente para despertar a curiosidade”, destaca Mayara, do início da reportagem.

E não demora tanto assim para que os brotos apareçam!

“As crianças estão muito acostumadas a ver os alimentos prontos. Não entendem como são produzidos e de onde vieram”, explica Zena. Ao mostrar como crescem os legumes, as verduras e frutas, você apresenta uma nova perspectiva sobre o que ela consome, sem contar que é possível despertar maior interesse pela nutrição. Além disso, um estudo feito pela Universidade da Flórida (EUA) descobriu que as pessoas que foram envolvidas com jardinagem quando crianças consumiam em média 15% mais frutas e legumes do que as outras.

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