Um número crescente de crianças e adolescentes estão recebendo prescrição de vários medicamentos psiquiátricos para serem tomados simultaneamente, de acordo com um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.
Publicado na última sexta-feira (16), na revista científica JAMA Open Network, o trabalho analisou os padrões de prescrição médica entre pacientes com 17 anos ou menos inscritos no Medicaid, programa de saúde social americano para famílias e indivíduos de baixa renda.
![Adolescente segurando cartela de medicamento — Foto: Freepik](https://cdn.statically.io/img/s2-crescer.glbimg.com/k4tS51zD9NC1WzO_0urXycjzr8o=/0x0:1500x1001/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2024/0/o/bAaC7yQs6bngMamMGvxg/adolescente-comprimidos.jpg)
Segundo o jornal americano U.S. News, uma equipe liderada por Yueh-Yi Chiang, estudante de pós-graduação na Escola de Farmácia da Universidade de Maryland, avaliou 126.972 jovens, entre os anos de 2015 e 2020, com o objetivo de identificar alterações temporais e características associadas à “polifarmácia” — o que a pesquisa definiu como tomar três ou mais classes diferentes de medicamentos psiquiátricos, incluindo antipsicóticos, medicamentos para TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), anticonvulsivantes estabilizadores do humor, antidepressivos, ansiolíticos e sedativos.
Achados da pesquisa
“Neste estudo transversal, observamos um aumento de 4% na probabilidade de polifarmácia psicotrópica por ano, de 2015 a 2020, indicando crescente uso concomitante de múltiplas classes de psicotrópicos”, disseram os pesquisadores.
Aqueles que receberam vários medicamentos psiquiátricos durante esse período saltaram de 4,2%, em 2015, para 4,6%, cinco anos depois. “Indivíduos deficientes ou em lares adotivos tiveram significativamente mais probabilidade do que indivíduos com baixa renda de receber três ou mais drogas psicotrópicas concomitantes por 90 dias ou mais”, observou o grupo de Chiang. A polifarmácia entre crianças em lares adotivos aumentou de 10,8%, em 2015, para 11,3%, em 2020, demonstrou o trabalho.
A pesquisa também apontou diferenças quanto à faixa etária e à raça das crianças e adolescentes analisadas entre 2015 e 2020. Indivíduos de 10 a 14 anos e de 15 a 17 anos tiveram chances significativamente maiores de polifarmácia do que aqueles com menos de 10 anos. Assim como os jovens negros ou que se identificaram com outras raças (incluindo índios americanos, asiáticos, hispânicos ou das ilhas do Pacífico) tiveram chances menores de tomar três ou mais drogas psiquiátricas do que pessoas brancas.
As razões por trás dessa tendência de polifarmácia não são claras, embora “fatores como condições médicas complexas, traumas na infância e cuidados fragmentados possam ter contribuído para estas descobertas”, informou a equipe de pesquisadores.
Limitações e importância do estudo
Embora o trabalho tenha trazido dados relevantes sobre o crescimento no uso de medicamentos psiquiátricos entre crianças e adolescentes, os cientistas destacaram que a pesquisa teve como foco jovens inscritos no Medicaid, em um único estado dos EUA — "o que limita o generalização de nossas descobertas para outros estados, populações ou sistemas de saúde”, avaliaram.
De qualquer maneira, o grupo de Chiang acredita que os achados “enfatizam a importância de monitorar o uso de combinações psicotrópicas, particularmente entre populações vulneráveis, como jovens inscritos no Medicaid que têm deficiência ou estão em lares adotivos”.