Saúde & bem-estar
 

Por Vanessa Lima


A gravidez e o pós-parto, na teoria e no imaginário da sociedade, são os pontos altos da vida de uma mulher. É esperado que ela esteja felicíssima, plena, realizada. Que sonho divino poder gestar, parir e amamentar um ser humano… Aí, você acorda e vê que a realidade nem sempre se parece com essa idealização toda. Tanto, que o chamado período perinatal, que compreende a gestação e o pós-parto, é que o deixa as mulheres mais vulneráveis a desenvolver problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, TOC, entre outros. E os números não mentem. De acordo com dados divulgados neste ano pela Organização Mundial de Saúde (OMS), uma em cada cinco mulheres terão algum transtorno mental durante a gravidez e o pós-parto.

Antidepressivos na gestação e na amamentação: pode? — Foto: Pexels/ SHVETS
Antidepressivos na gestação e na amamentação: pode? — Foto: Pexels/ SHVETS

A este cenário, soma-se o medo e a desinformação, quando se trata de doenças psiquiátricas. É comum ver mulheres, que já tinham diagnóstico de algum transtorno e faziam uso de medicamentos indicados por um psiquiatra, simplesmente interromperem o tratamento, sem nem falar com o médico. Outras, que desenvolvem os sintomas pela primeira vez durante ou logo após a gestação, não falam sobre o assunto e nem buscam ajuda especializada, já com medo de que o psiquiatra indique remédios. Além de todo o tabu envolvido, existe o medo de que os antidepressivos possam prejudicar o bebê. Só que problemas como a depressão podem causar muito mal do que as drogas em si.

Um estudo que acompanhou 145 mil mulheres e seus filhos por 14 anos, nos Estados Unidos, mostrou que o uso de antidepressivos comuns durante a gravidez é seguro e não prejudica o futuro neurodesenvolvimento cognitivo ou comportamental das crianças. A pesquisa, publicada no JAMA Internal Medicine, mostrou que o tratamento não foi associado a autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), distúrbios comportamentais, desenvolvimento da linguagem e da fala, distúrbios de aprendizagem e coordenação ou deficiências intelectuais.

Ao contrário de deixar de varrer o problema para debaixo do tapete ou “engolir o choro”. “A doença mental não tratada oferece muito mais prejuízos do que o medicamento indicado por um psiquiatra especializado em perinatalidade”, afirma o psiquiatra Joel Rennó, professor e diretor do Programa de Saúde Mental da Mulher do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador da Comissão de Saúde Mental da Mulher, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). “A depressão não tratada prejudica o vínculo mãe-bebê, o que dificulta a interação e os cuidados com o recém-nascido. Uma mulher deprimida no pós parto, por exemplo, pode, involuntariamente, prejudicar o desenvolvimento cognitivo, de linguagem, psicomotor e afetivo da criança. A literatura tem muitas evidências que mostram isso. A depressão na gestação está relacionada a vários prejuízos, como maior chance de aborto, baixo peso ao nascer, prematuridade, diabetes gestacional e pré-eclâmpsia, complicações obstétricas que prejudicam o desenvolvimento fetal. Pode também prejudicar o aleitamento materno, levando à desistência e até diminuir a produção de leite em alguns casos”, explica o especialista. A situação, se não avaliada e cuidada adequadamente, pode alcançar consequências severas. “Muitas mulheres com depressão pós parto grave correm risco de suicídio e, em casos de depressão psicótica - mais raros - até de infanticídio”, alerta Rennó. É urgente buscar ajuda, um diagnóstico com um profissional e seguir o tratamento recomendado, sim.

Remédio: precisa mesmo?

O período da gravidez e do pós-parto, por si só, já traz alterações no comportamento e aquela montanha-russa emocional, de altos e baixos. Além do papel dos hormônios, há toda a questão psicológica que envolve uma mudança de vida tão importante como ter um filho. As preocupações, os medos, as angústias. Tudo isso é normal. Mas, então, quando saber que se trata de um problema de saúde?

“Perceber o limite entre o fisiológico e o patológico é um desafio, até mesmo para os médicos”, diz a psiquiatra Juliana Cavalsan, cofundadora do Projeto Sentir Materno (SP), focado justamente em discutir a saúde mental materna, sobretudo na gravidez e no puerpério. “Nem sempre é fácil diferenciar os sintomas depressivos de estados emocionais típicos da gestação. É muito comum a gestante ficar mais lábil, reativa, irritada e intolerante, e não necessariamente ter um transtorno psiquiátrico”, aponta. No pós-parto, é importante considerar, que 70% das mães passam por uma alteração conhecida como baby blues ou blues puerperal. “Elas se sentem-se tristes, ansiosas, com insônia e labilidade (instabilidade), mas esses sintomas são leves e duram, no máximo, duas semanas, sumindo espontaneamente, sem necessidade de medicação, apenas com suporte e ajustes na rotina da mulher nesse período”, explica Rennó.

O diagnóstico é feito quando a maioria dos sintomas está presente na maior parte do dia da grávida ou da puérpera e, sobretudo, quando tem impacto negativo na vida da mulher, de acordo com Juliana. Ter sintomas, ressalta ela, não é ter um transtorno. “Todo mundo tem dias em que está mais triste, desanimado, preocupado ou irritado - e isso não significa que a pessoa tem depressão, ansiedade ou estresse. O diagnóstico é feito com base na frequência e no grau de impacto no dia-a-dia”, diz a médica.

Nem todos os casos de depressão precisam ser tratados com medicamentos. De acordo com o psiquiatra Joel Rennó, quadros leves podem ser controlados com psicoterapia cognitivo comportamental ou interpessoal. “O tratamento é necessário quando os sintomas são moderados ou graves e duram mais de duas semanas, causando prejuízos funcionais, mudanças comportamentais importantes e grande sofrimento”, diferencia.

Quando a mulher já toma antidepressivos antes de engravidar

Se você já teve algum episódio de transtorno mental, antes de engravidar, ou se já estava usando medicações psicoterápicas quando descobriu a gestação, redobre a atenção e nunca interrompa o tratamento por conta própria. “O risco de piora aumenta em cinco vezes e é maior quando as medicações são interrompidas de maneira abrupta e não gradual”, explica a psiquiatra Juliana. A recomendação é manter o tratamento e entrar em contato com o psiquiatra e com o obstetra. “A decisão de medicar uma gestante sempre vai envolver o risco da medicação e o risco da doença na gravidez. Não existe decisão isenta de risco. Mas boa parte das medicações psicotrópicas é segura na gestação”, ressalta. Outro ponto importante é o profissional de saúde ter uma conversa franca e explicar com calma, além de tirar qualquer dúvida que possa surgir. “A gestante tem o direito de entender quais são os riscos que sofre até para entender a necessidade do tratamento”, afirma a médica.

O principal fator de risco para depressão ou ansiedade no período perinatal é já ter tido o transtorno no passado. “Mulheres que já tiveram depressão, por exemplo, têm um risco três vezes maior de deprimir no pós-parto. A depressão perinatal tende a ser pior do que a depressão fora deste período, inclusive 4% dos suicídios entre as mulheres acontecem nesta fase da vida”, aponta. Então, se você já tem um histórico, não hesite em buscar ajuda.

“O ideal para quem já teve diagnóstico ou está em tratamento é fazer um planejamento e engravidar após meses de remissão. O médico psiquiatra tem que saber da intenção da mulher de engravidar para fornecer um tratamento que seja compatível com a gestação”, orienta a especialista.

Antidepressivo na amamentação: é seguro?

Em casos em que a mãe é diagnosticada por um especialista, que avalia que há a necessidade de tratamento farmacológico, não só é seguro, como é importante seguir as orientações. “O tratamento medicamentoso, mesmo com a continuidade da amamentação, é possível e deve ser indicado por um psiquiatra especializado na área de perinatalidade. Não são todos os medicamentos que são compatíveis, mas há vários antidepressivos ou estabilizadores de humor que podem e devem ser utilizados, porque a depressão não tratada prejudica o desenvolvimento do bebê - e pode prejudicar a própria amamentação tamb��m”, lembra o psiquiatra Joel Rennó.

Há muito julgamento envolvido também e ele vem tanto dos outros, como da mãe, para si mesma. “O ato de amamentar, em mulheres deprimidas, acaba sendo também de sofrimento, em algumas circunstâncias. É fundamental retirar dessa mulher o medo e a culpa que ela carrega, além de deixar claro - tanto para ela como para os familiares - que é, sim, possível amamentar e tomar o antidepressivo sem prejudicar o bebê”, acrescenta.

Se você está com dificuldades emocionais, sobretudo na gestação e no pós-parto, busque ajuda, de preferência com um profissional especializado na área perinatal. Seu bebê só vai se desenvolver de maneira plena e feliz, se você, que é fonte de alimento, amor, cuidado e carinho, estiver bem também.

Quer acessar todo o conteúdo exclusivo da CRESCER? Clique aqui e assine!

Mais recente Próxima Quais cuidados com a pele do rosto e do corpo as gestantes precisam ter durante o verão?
Mais de Crescer

A empresária e modelo é mãe de quatro filhos: North, 11, Saint, 8, Chicago, 6, e Psalm, 5, que ela divide com o ex-marido Kanye West

Kim Kardashian revela a única coisa que faria diferente como mãe

A sequência chega aos cinemas em 6 de setembro

'Os Fantasmas Ainda Se Divertem' ganha novos pôsteres; veja

A mulher, que mora com os três filhos, ficou chocada ao se deparar com a barraca montada no quintal

Mãe se surpreende com desconhecido acampando em seu jardim

A mãe Caitlin Fladager compartilhou como ela beija o marido na frente dos filhos para "ensiná-los como o amor deve ser

"Sou criticada por beijar o meu marido na frente dos nossos filhos"

Além do baixo salário, as responsabilidades incluíam transportar as crianças, preparar refeições e manter a limpeza da casa. A babá também deveria estar disponível de domingo à noite até quinta-feira à noite e possuir carteira de motorista válida, veículo confiável, verificação de antecedentes limpa e certificação em Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) e primeiros socorros

Mãe é criticada por oferecer salário de 36 centavos por hora para babá nos EUA

Uma mulher criticou sua sogra por tentar ditar como sua filha será chamada. "Ela me manda de três a quatro mensagens por semana com sugestões de nomes", diz

"Minha sogra exige que eu dê o nome dela a minha filha"

A grávida teria se ofendido com a sua roupa

Mulher é expulsa do chá de bebê da melhor amiga e não entende o motivo

A pequena Maria Alice, de Curitiba (PR), viralizou nas redes sociais porque seus dentes nasceram "fora da ordem". Enquanto os dentinhos da frente são os primeiros para a maioria das crianças, no caso dela foram os superiores. "Começamos a chamá-la de vampirinha", brincou a mãe, em entrevista à CRESCER

"Bebê vampiro" faz sucesso nas redes sociais; veja fotos

Paige Hall, da Inglaterra, contou que tomava anticoncepcional, não teve crescimento da barriga e continuou tendo sangramentos regulares, por isso, nunca suspeitou da gestação. Saiba mais!

Adolescente descobre gravidez aos 9 meses e dá à luz no mesmo dia

O garotinho sonha me fazer um doutorado e se tornar professor. “Faça o que você faz porque gosta, por causa da paixão que sente ao descrever ou fazer”, disse. Conheça a história!

Menino prodígio de 12 anos se forma no Ensino Médio