Saúde
 

Por Fernanda Bassete, da Agência Einstein


O verão no hemisfério sul ainda nem começou, mas o Brasil já vem enfrentando dias de calor intenso – e a tendência é piorar ainda mais, já que as previsões meteorológicas indicam temperaturas recordes nos próximos dias, com termômetros marcando cerca de 5º acima da média, e por um período prolongado. Estar exposto ao calor extremo associado ao tempo seco sem cuidados básicos pode causar alterações no organismo que trazem riscos à saúde, especialmente para crianças, gestantes, idosos e pessoas com a saúde mais fragilizada. Por isso, todo cuidado é pouco.

O nosso corpo mantém uma temperatura interna em torno de 36 graus. Quando somos expostos a um estresse térmico (no caso, altas temperaturas), o organismo reage e inicia uma série de adaptações fisiológicas para tentar regular a temperatura interna e resfriar. A primeira reação é eliminar o calor por meio do suor, que é um mecanismo natural.

Mulher tomando água em dia de calor intenso — Foto: Freepik
Mulher tomando água em dia de calor intenso — Foto: Freepik

“O calor intenso pode ter impactos significativos no sistema cardiovascular, representando uma preocupação crescente à medida que as temperaturas globais continuam a aumentar devido às mudanças climáticas. Quando o termômetro sobe, nosso corpo enfrenta desafios para regular a temperatura interna, o que pode resultar em uma série de efeitos adversos no sistema cardiovascular”, disse o cardiologista Marcelo Franken, gerente de Cardiologia do Hospital Israelita Albert Einstein e diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp).

O problema é que o excesso de suor, quando não acompanhado da hidratação oral adequada, pode levar a quadros de desidratação. Franken ressalta que a desidratação diminui o volume sanguíneo e, por sua vez, afeta a pressão arterial. A desidratação também torna o sangue mais espesso, aumentando o risco de formação de coágulos sanguíneos. Além disso, o estresse térmico coloca uma carga adicional sobre o coração, fazendo com que ele bombeie mais rápido para dissipar o calor do corpo.

Pessoas com condições cardíacas pré-existentes, como hipertensão arterial, doença coronariana, e insuficiência cardíaca estão em maior risco de complicações relacionadas ao calor intenso. “As altas temperaturas podem desencadear ataques cardíacos e arritmias, pois o coração precisa trabalhar mais para manter a temperatura corporal sob controle. É essencial tomar precauções durante ondas de calor, como manter-se hidratado, evitar a exposição direta ao sol e buscar ambientes com ar-condicionado ou ventilação adequada”, recomenda Franken.

Risco de insolação

E os efeitos do calor no organismo não param por aí. Quando a temperatura está muito alta e a pessoa ainda está exposta ao sol, o corpo pode entrar num quadro de insolação, que é caracterizada pelo aumento da temperatura corporal, pele avermelhada e quente, pele seca, dor de cabeça, confusão, náuseas e até mesmo desmaios. “Essa condição é potencialmente perigosa e requer atenção imediata, pois pode levar a danos graves ao organismo e, em casos extremos, risco de morte. É fundamental buscar abrigo à sombra, hidratar-se e resfriar o corpo em casos suspeitos de insolação”, orienta.

Os especialistas explicam que também tem ainda o reflexo do ar seco na saúde. Temperatura muito alta associada ao ar seco e poluído leva ao ressecamento das mucosas, especialmente do nariz e da boca. Entre os efeitos indesejados estão sangramento nasal, dificuldade para respirar, tosse e até mesmo crises asmáticas em pessoas predispostas.

“Sempre que temos mudanças extremas de umidade do ar ou de temperatura, algumas questões respiratórias podem surgir por causa da alteração das mucosas. Por isso o ideal é tentar ficar em ambientes onde a umidade relativa do ar está adequada [usar um umidificador é uma opção] e utilizar soro fisiológico quando o tempo está muito quente e seco também ajuda a prevenir doenças respiratórias”, destacou a infectologista Emy Akiyama Gouveia, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Há ainda a preocupação dos infectologistas com o aparecimento de doenças infecto-contagiosas emergentes, como a dengue, que começa a surgir onde normalmente não ocorria. “Tivemos surtos de dengue no sul da Europa em lugares que não imaginávamos. Com as mudanças por causa do desequilíbrio climático talvez vamos observar o aumento de algumas doenças que dependem de vetores”, sugere a infectologista.

Temperatura extrema e mortalidade

De acordo com uma pesquisa publicada no ano passado na revista Nature, as temperaturas extremas (frio e calor) foram responsáveis por quase 6% das mortes em cidades da América Latina. O estudo “Salud Urbana em América Latina” (Salurbal) teve a participação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade de São Paulo (USP) e analisou a relação entre dias quentes e frios com a mortalidade em 326 cidades de nove países latinos.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores analisaram mais de 15 milhões de óbitos e compararam com as temperaturas ambientais diárias nas cidades pesquisadas. Uma das conclusões é de que temperaturas extremas estavam relacionadas com a mortalidade por doenças cardiovasculares e respiratórias, especialmente entre idosos e crianças, que são o grupo mais vulnerável. Segundo a pesquisa, em dias muito quentes, o aumento de um grau Celsius na temperatura esteve relacionado ao aumento de 5,7% nas mortes. Ao mesmo tempo, cerca de 10% das mortes por infecções respiratórias foram atribuídas ao frio intenso.

Calor vai continuar

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) emitiu um comunicado na última quarta-feira (8) ressaltando que o fenômeno climático El Niño, atualmente em curso, deverá durar até pelo menos abril de 2024, influenciando os padrões climáticos e contribuindo para a elevar ainda mais as temperaturas em um ano que caminha para ser o mais quente já registrado – os meteorologistas afirmam também que o ano de 2024 pode ser ainda mais quente. O fenômeno atingiu força moderada em setembro deste ano e, provavelmente, atingirá um novo pico entre novembro e janeiro de 2024.

Segundo os meteorologistas, o El Niño ocorre em média a cada dois a sete anos e normalmente dura de 9 a 12 meses. É um padrão climático natural associado ao superaquecimento da superfície do oceano – o problema é que ele está acontecendo num contexto de clima que vem sendo alterado pelas atividades humanas.

Na cidade de São Paulo, as temperaturas devem passar dos 37ºC neste final de semana e chegar aos 40ºC no interior, segundo previsão do Climatempo. Na próxima semana o calor continua e aumenta ainda mais, com temperaturas superando os 40 graus no Tocantins, Bahia, Piauí e no Espírito Santo.

Grávida em dia de calor intenso — Foto: Freepik
Grávida em dia de calor intenso — Foto: Freepik

Como as gestantes podem se proteger do calor intenso?

Confira as dicas do ginecologista obstetra Eduardo Zlotnik, vice-presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, para manter o equilíbrio durante este período de altas temperaturas:

1. Repouse

Embora exista uma diferença entre a atividade metabólica no início e no final da gravidez, o corpo da mulher passa por um aumento de circulação de sangue, em todas as suas fases. Isso exige um esforço maior do organismo para regular a temperatura interna e alcançar o bem-estar. “Nesse sentido, o coração da mulher chega a bater 50% mais ao final da gravidez, como se ele estivesse sempre em ritmo de atividade física. Por isso, é importante que a mulher descanse sempre que possível, evite ficar muitas horas de pé e se organize para ter seus momentos de repouso, principalmente se estiver presenciando o clima quente e seco ao final da gestação", afirma Zlotnik.

2. De pernas para o ar

Em temperaturas mais elevadas, é comum que o nosso corpo inche. Durante a gravidez, a tendência é isso aconteça com uma intensidade ainda maior nas pernas e nos pés. “Pode acontecer também a dilatação dos vasos sanguíneos e a formação de varizes. Por isso, sempre que a mulher grávida estiver parada e conseguir, é importante colocar as pernas para cima, seja em uma mesa, em um banco ou até mesmo sentada, com os pés apoiados em um banquinho e os joelhos dobrados. Outra alternativa para minimizar os impactos do inchaço é realizar drenagem linfática”, reforça Zlotnik.

3. Prefira sombra e roupas leves

Ao sair de casa, não se esqueça de caprichar no protetor solar, principalmente na região do rosto. Prefira o sol das 9h ou 10h da manhã ou o da tarde. “O sol mais forte, além de poder gerar câncer de pele, quando em excesso, também provoca manchas de pele, geralmente em maior quantidade em mulheres grávidas”, comenta o obstetra. Roupas mais leves também são uma ótima opção para aliviar a retenção de calor no corpo.

4. Hidrate-se!

Beber líquido nunca é demais. Durante a gravidez, as chances de desidratação são maiores, já que a absorção dos líquidos é feita em dobro. Por isso, não se esqueça de sempre carregar sua garrafinha com você.

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