• Andrezza Duarte
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Varizes (Foto: Thinkstock)

(Foto: Thinkstock)

Alexa Barbosa, 31 anos, não usa saia. Desde que engravidou de Emilia, 3, a publicitária também aboliu do guarda-roupa o short e os vestidos curtos. Com o nascimento de João Bento, 8 meses, Alexa foi ainda mais radical: cortou de sua rotina programas como praia e piscina. O motivo? Varizes. Assim que entrou na 28ª semana da primeira gestação, os vasinhos que ela tinha desde a adolescência se transformaram em veias azuladas, saltadas, tortuosas e, principalmente, dolorosas. “Morro de vergonha das minhas pernas”, revela Alexa. “E o problema ficou ainda pior na gestação seguinte: fiquei mais inchada, as pernas ardiam demais e até hoje me seguro para não chorar toda vez que olho para elas”, conta ela, que faz parte do grupo de uma em cada três gestantes que vivem esse drama. Um drama, sim: além de serem antiestéticas, as veias dilatadas provocam dor quando há formação de coágulos em seu interior, sensação de peso e, se não tratadas, podem até causar um problema de circulação.

Por mais que ter varizes não seja uma exclusividade de mulheres grávidas – 45% das brasileiras sofrem desse problema, segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular –, na gestação elas podem ganhar destaque. Isso ocorre porque, durante a gravidez, o corpo da mãe produz sangue a mais para sustentar dois organismos, o dela e o do bebê. Esse peso extra pressiona os vasos sanguíneos – principalmente os da perna, que precisam trabalhar contra a gravidade para levar todo o sangue extra de volta para o coração. Acrescente isso à pressão que o útero em crescimento coloca sobre os vasos pélvicos e ao aumento nos níveis de progesterona, que provocam um relaxamento na parede dos vasos, e você tem a receita perfeita para varizes por volta do fim do segundo trimestre.

Em outras palavras, a gravidez e todas as mudanças que ela provoca no corpo feminino, inclusive o ganho de peso, podem ser considerados gatilhos para o aparecimento de vasos, inclusive em pacientes que não sofreram com o problema antes. É o caso de Danigly Cortado, 34, que nunca tinha notado sequer um vasinho e, no fim do segundo trimestre da primeira gravidez, tomou um susto: “Percebi que as veias de uma das pernas estavam ficando azuis e mais aparentes e, na altura da panturrilha, elas aumentavam. Já no fim da gestação, sempre que ficava muito tempo em pé, a sensação era de bastante ardor e precisava colocar as pernas para cima”. Mãe de Luiza, 1, e Marcela, 4 meses, Danigly conta que o aspecto das veias piorou bastante na segunda gravidez e que o incômodo deu às caras desde o primeiro trimestre. “Raramente o número de veias varicosas é apenas mantido. Uma nova gravidez tende a piorar o quadro”, explica Wolosker. Por mais que a perna seja o alvo mais comum das varizes durante a gestação, elas podem aparecer também no reto (em forma de hemorroidas) e na vulva. Nesses casos, o parto normal é geralmente contraindicado, mas vale consultar um obstetra ou angiologista para que vocês decidam, em conjunto, a melhor alternativa para o seu caso.

A boa notícia é que o problema tende a melhorar depois do parto: “Com o nascimento do bebê, desaparece a compressão da veia cava inferior, diminuindo assim a pressão venosa nas pernas. A partir de três meses após a mulher dar à luz, ela percebe que o tom azulado, assim como a dilatação, começam a diminuir, mesmo que não desapareçam por completo”, afirma Priscilla Cury, obstetra do Pro Matre Paulista (SP). Além da própria gestação, outros fatores como obesidade, histórico familiar e sedentarismo contribuem para a formação de varizes, que são mais comuns no segundo e, principalmente, no terceiro trimestre. Isso porque é quando a mulher ganha a maior parte do peso da gravidez.

Varizes X vasinhos

Não confunda: a principal diferença entre as varizes e os vasinhos está no calibre. Quando um vaso tem menos de três milímetros, é considerado um vasinho – tem aspecto de teia de aranha, aparece principalmente nas coxas e bumbum e, em vez de ter um tom azulado, é avermelhado ou arroxeado. Já as varizes têm, geralmente, três milímetros ou mais – as mais grossas podem chegar a oito. “Ambos podem surgir ou piorar na gravidez. Mas enquanto as varizes precisam de tratamento e até intervenção cirúrgica, os vasinhos precisam de cuidados preventivos, para evitar que se transformem em varizes”, diz Nelson Wolosker, cirurgião vascular do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).

Quem cuida pode não ter

Sim, elas são feias e podem causar desconforto, mas não apresentam ameaça à saúde da mulher ou do bebê: “O único perigo de ter varizes na gestação é o aumento da possibilidade de desenvolver trombose, mas é um risco que a própria gravidez já proporciona, independentemente de a mãe ter ou não varizes”, diz a dermatologista Carla Vidal, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SP). Para ela, a maneira que a mulher vai se cuidar favorece ou não o desenvolvimento das varizes: “Não há tratamento específico para grávidas e intervenções cirúrgicas são altamente contraindicadas, inclusive durante a amamentação, já que o ideal é que a mãe não faça uso de medicamentos nessa fase. Mas há diversas maneiras seguras de tratar enquanto isso”.

Entre os principais cuidados que ela pode ter, o mais eficiente é provavelmente o uso de meias elásticas de média compressão. “Usei as meias nas duas gestações, o que ajudou bastante no alívio do desconforto. Como o incômodo na segunda gestação foi maior, nem conseguia ficar sem usar”, conta Alexa, que seguiu direitinho a recomendação de seu obstetra e colocava a meia antes mesmo de se levantar da cama pela manhã. “Já deixava o par sobre o criado-mudo para nem precisar tirar do armário”, completa.

Embora não exista comprovação científica de que cremes eliminem as varizes, as opções à base de mentol prometem aliviar momentaneamente a sensação de ardor. “Eles também melhoram a circulação sanguínea e hidratam a pele”, diz Carla Vidal. Entre as alternativas, a massagem – sempre de baixo para cima – ajuda a desinchar as pernas e trazem alívio àquela sensação de peso provocado pelos vasos dilatados. Os especialistas entrevistados por CRESCER sugerem usar extrato de castanha-da-índia e casca da planta hamamélis ao massagear as pernas, pois são fontes de flavonoides, que têm ação vasoprotetora e anti-inflamatória. Água gelada também ajuda a diminuir o inchaço, portanto, lave as pernas de duas a três vezes por dia se possível. E, sempre que puder, coloque-as para cima para ativar a circulação.

Autoexame

Não tem certeza se você tem varizes? Fique em pé e olhe para as suas pernas. Se identificar veias azuladas e saltadas sob a pele, procure um médico para que ele avalie e, então, indique o melhor tratamento para você. O ideal é buscar um que leve em consideração o seu histórico e a sua rotina.

Varizes (Foto: Getty Images/Yagi Studio)

(Foto: Getty Images/Yagi Studio)

Na veia

Prevenção é a palavra de ordem! Cerque-se de cuidados desde já para que, no caso de não conseguir evitar o surgimento das varizes, você consiga atenuar o problema durante a gestação.

1 Estimule a circulação: faça caminhadas diárias por, ao menos, meia hora. Hidroginástica, bicicleta, pilates e alongamento também são indicados, pois promovem a contração e o relaxamento da panturrilha.

2 Ande descalço: isso permite que as veias e os músculos da perna movam o sangue para o coração com mais facilidade.

3 Não fique muito tempo em pé: faça pausa para repouso.

4 Coloque os pés para cima à noite: Vale usar um travesseiro debaixo do tornozelo ou elevar os pés da cama.

5 Use meias elásticas: o ideal é que sejam de média compressão. Calce antes de se levantar da cama.

6 Fique de olho na balança: estar acima do peso ou engordar muito na gestação pode estimular o surgimento de varizes.

7 Siga uma alimentação balanceada: comer alho fresco reduz a inflamação das varizes.

8 Beba água: de dois a três litros por dia.

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