Saúde & bem-estar
 

Por Amanda Moraes


O aumento da mortalidade materna é uma grande preocupação no Brasil. “Quando se fala em óbito materno, na grande maioria das vezes, são situações que poderiam ter sido evitadas”, alerta Mônica Maria Siaulys, diretora médica do Grupo Santa Joana. De acordo com dados do Ministério da Saúde, a taxa, que era de 74 mortes a cada 100 mil nascimentos em 2020, aumentou para 107 óbitos maternos a cada 100 mil atualmente. Nos melhores centros mundiais, essa taxa é de aproximadamente 10 a cada 100 mil.

Parto do Gael, que completo um mês de vida — Foto: Arquivo pessoal
Parto do Gael, que completo um mês de vida — Foto: Arquivo pessoal

Segundo a especialista, um pré-natal de qualidade acompanhado por profissionais capacitados pode fazer toda a diferença. Para Mônica Lima Silva Domingues, 36 anos, de Cajamar, São Paulo, foi justamente isso que evitou uma tragédia quando foi diagnosticada com acretismo placentário na última gravidez, uma das principais causas de morte materna. Em entrevista exclusiva à CRESCER, Mônica Domingues contou sua história e destacou a importância de ter um bom acompanhamento na gestação. Confira!

Jornada para a maternidade

Mônica sempre sonhou em ser mãe, mas foi uma longa jornada até finalmente realizar este desejo. Aos 23 anos, em 2008, engravidou pela primeira vez. Estava sendo uma gestação tranquila e fazia o acompanhamento em um hospital público. No quinto mês, em um ultrassom, foi descoberto que o bebê tinha gastrosquise, uma malformação congênita rara da parede abdominal, o que tornou a gravidez de alto risco.

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Por isso, já foi agendado o parto e uma cirurgia para corrigir a condição. “Fiz uma cesariana quando estava de oito meses e ocorreu bem. Porém, ele precisou ir direto para a UTI. Durante a cirurgia, acabou furando o intestino dele e ele teve que ficar 11 dias internado. Infelizmente, ele veio a óbito”, lamenta Mônica Domingues.

Após se recuperar da perda, engravidou pela segunda gravidez, em 2013. Mas, com quase cinco meses de gestação, sofreu um aborto espontâneo. “Uma noite, quando fui dormir, senti um sangramento e fui para o hospital. Quando eu cheguei, fiz ultrassom e constataram que o feto estava morto há sete dias, aí eu tive que fazer o processo de curetagem para completar o aborto”, conta. A causa não foi definida, mas Mônica Domingues tem uma suspeita: "Nessa época, eu era diarista e creio que isso ocorreu por conta do trabalho em excesso.”

Oito meses depois, ela descobriu que estava grávida novamente. “Estava nervosa por conta das outras gestações e outras questões em casa. Por volta dos sete meses, tive um sangramento, mas, graças a Deus, consegui segurar bem”, conta. Devido às complicações anteriores, a médica de Mônica Domingues resolveu agendar a cesárea e não correr riscos com o parto normal. Felizmente, tudo correu bem e Mônica finalmente conseguiu realizar seu sonho ao dar à luz Sara, que hoje tem 9 anos.

Mônica Domingues e Sara, 9 — Foto: Arquivo pessoal
Mônica Domingues e Sara, 9 — Foto: Arquivo pessoal

Gravidez de alto risco

Ano passado, aos 36, ela engravidou pela quarta vez. No entanto, desde o início, já não foi uma gestação fácil. “Nas primeiras semanas, eu comecei a ter sangramento. Eu achei que era por conta da idade, mas eu achei melhor passar no hospital para fazer os exames”, diz. Os exames não mostraram nenhuma alteração, mas Mônica Domingues ainda tinha um pressentimento de que algo estava errado.

Quando estava perto dos cinco meses de gestação, conseguiu o convênio de saúde da empresa que o seu esposo trabalhava e passou a se examinar em um hospital da rede privada. “Logo no primeiro exame constatou que eu estava com a placenta baixa”, lembra. Essa condição normalmente causa sangramento na gravidez e pode contribuir para outras complicações mais graves.

“A médica pediu repouso absoluto para mim, mas confesso que não consegui cumpri-lo, porque tinha que trabalhar e tinha uma filha pequena em casa. Mais para frente, perto do final da gestação, eu tive outro sangramento”, conta a mãe. Preocupada, ela retornou ao hospital e fez um ultrassom que constatou que estava com o colo do útero curto, que aumenta as chances de parto prematuro ou perda gestacional. Por isso, Mônica Domingues foi internada.

Acretismo placentário

“Chegando na maternidade, eu fiz uma tomografia e foi constatado que eu tinha acretismo placentário, o que tornava mais perigoso o parto”, lembra. Segundo a médica Mônica Siaulys, esta condição está entre as principais causas de morte materna. “Especificamente para pacientes que tenham essa doença, a taxa de mortalidade pode chegar até 7%”, alerta.

“O acretismo placentário ocorre quando a placenta gruda no útero e não sai após o nascimento, como é esperado: quando o bebê nasce, a placenta descola e o útero contrai. No caso dessa condição, a placenta não descola e o processo de contração do útero, que ajuda no fechamento dos vasos sanguíneos, não acontece de uma maneira eficiente. É preciso retirá-la, mas neste momento, é como se você ficasse com uma torneira aberta”, explica a médica. Dessa forma, ocorre uma hemorragia incontrolável e a gestante pode não sobreviver ao parto se não receber a assistência correta.

Mas, a boa notícia é que pode ser tratado. É aí que o pré-natal entra como um grande aliado. “Existem fatores de risco para essa condição, como mulheres que já tiveram cesáreas anteriores, como é o caso da Mônica. Fertilização in vitro ou qualquer cicatriz no útero também aumentam as chances disso acontecer numa futura gravidez”, diz a especialista. Por isso, é fundamental acompanhar essas mães de perto. “É possível fazer o diagnóstico no pré-natal. Ao ser identificado, a gestante deve ser internada e é preciso preparar uma equipe multidisciplinar para o parto para garantir a sua segurança”, afirma.

E foi exatamente isso que aconteceu com Mônica Domingues. “Eu fiquei 15 dias internada, até eles agendarem o parto. Eu fiquei um pouco aflita de ficar longe da minha filha, mas eu sabia que era para o meu próprio bem. Eu me sentia mais segura por estar internada. Os médicos sempre falavam do risco que era muito alto para mim, mas eles me deram a tranquilidade de ter descoberto antes”, desabafa

A cesárea foi marcada para o momento em que ela completasse 35 semanas gestacionais. “Eles não quiseram esperar mais para evitar o trabalho de parto. Como o colo do útero estava muito curto, com qualquer esforço meu, eu entraria em trabalho e teria um sangramento muito intenso, por causa do acretismo placentário. Seria muito perigoso para mim”, diz.

Felizmente, tudo ocorreu como planejado e Gael nasceu dia 19 de abril. Para tratar o acretismo placentário, Mônica precisou passar por uma histerectomia, cirurgia para remoção do útero, logo após o parto. Para se recuperar ela ainda ficou internada por 11 dias, sendo dois deles na UTI.

Hoje, os dois já estão em casa, saudáveis, e Gael completou um mês de vida. “Ele está lindo. Por ter sido prematuro, ele ainda está pequenininho, mas está crescendo fortinho e é uma benção na minha vida”, afirma. Como perdeu bastante sangue durante o parto, Mônica ainda faz acompanhamentos médicos para tratar a anemia. “Depois da cirurgia, eu fiquei bem fraca, com bastante cansaço e tontura. Mas uma semana depois me senti bem melhor e hoje já me recuperei quase 100%, não sinto mais dor, está tudo bem”, comemora.

Gael completou um mês de vida — Foto: Arquivo pessoal
Gael completou um mês de vida — Foto: Arquivo pessoal

A importância de um pré-natal de qualidade

“O acompanhamento médico foi essencial, sem ele, hoje eu e meu filho não estaríamos aqui. Graças ao tratamento eu consegui sobreviver a esse parto tão difícil”, diz a mãe. Para a sua condição, o diagnóstico precoce foi fundamental. “Acredito que muitas gestantes que acabaram vindo a falecer no parto ou após o nascimento, se tivessem conseguido receber um diagnóstico ainda durante a gestação e contado com uma equipe que acompanhasse de perto – o que deveria ser direito de todas as mulheres – elas poderiam estar bem hoje e tendo a sorte, como eu tive, de seguir ao lado dos meus filhos acompanhando o desenvolvimento deles. Eu estou aqui hoje e posso contar essa história”, destaca.

Para a médica Mônica Siaulys, é papel das instituições de saúde oferecer um pré-natal de qualidade para evitar a morte materna em gestações de alto risco. “É preciso saber as principais causas de mortalidade materna no país e no mundo: hemorragia, pré-eclâmpsia, sepse, tromboembolismo pulmonar e saúde mental no puerpério”, explica a especialista. Em seguida, é importante estabelecer protocolos para tratar cada uma dessas doenças.

“Agora não adianta ter o protocolo escrito no papel se esses protocolos não chegarem como forma de cuidado da paciente. Como é que eu faço isso? Com a capacitação de profissionais”, afirma. Segundo ela, a educação multiprofissional é fundamental. “É preciso treinar médicos de áreas diferentes que atuam no cuidado da gestante juntos, como se estivesse ensaiando uma orquestra, para que todos desempenhem os seus papéis como uma equipe coordenada”, diz Siaulys.

A educação não para nos profissionais da saúde. Também é papel dos médicos educar as gestantes sobre os possíveis riscos da gravidez. “Quanto mais a paciente souber sobre as coisas importantes que ela tem que prestar atenção na gestação para proteger a própria vida e de seu bebê, melhor. Explique quais são os sinais de alerta e como ela tem que agir”, indica.

Por fim, Mônica Siaulys destaca que é necessário investir na ala de maternidade, para que tenham os recursos para colocar tudo em prática. “Passa meio litro de sangue por minuto pelo útero. Em uma emergência, não é qualquer minuto conta, qualquer segundo conta, por isso, eu preciso desse time de alta performance e uma estrutura que possa fornecer os recursos necessários para a segurança da gestante”, finaliza.

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