Desenvolvimento
 

Por Fernanda Tsuji


Depois de tanta expectativa pela chegada do bebê, a emoção é grande quando olhamos pela primeira vez para os olhos do nosso filho ou filha. Independentemente da tonalidade ou do formato, para os pais, eles sempre serão os olhinhos mais lindos do mundo, não é mesmo? Mas você sabia que são vários fatores que determinam sua cor final? Isso porque nem sempre o tom com o qual eles nascem será a cor definitiva quando as crianças crescerem. Aqui, vamos explicar como tudo isso acontece.

Primeiro, é preciso entender que a cor dos olhos é definida geneticamente. Isso significa que os genes dominantes e recessivos dos pais são responsáveis por essa característica e determinam a quantidade de melanina (o pigmento que dá cor à pele, cabelo e olhos) que será depositada na íris — a parte colorida dos olhos — do bebê. No entanto, hoje os médicos já sabem que não basta observar a cor dos olhos dos pais e tentar fazer uma simples tabela de probabilidade, pois existem várias formas de combinação do material genético dos progenitores.

A cor dos olhos pode mudar à medida que o bebê cresce  — Foto: Freepik
A cor dos olhos pode mudar à medida que o bebê cresce — Foto: Freepik

“Seguimos a regra da dominância e da recessividade, mas não se resume apenas a isso. Existe um padrão que gera o que chamamos de polimorfismo (variações genéticas). E é isso que faz com que existam diversas tonalidades diferentes entre o castanho e o azul nos olhos”, explica a oftalmologista pediátrica Luisa Hopker, presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP), especializada em Oftalmopediatria e Estrabismo no Children’s Medical Center of Dallas, nos EUA, e doutoranda pela Universidade Federal de São Paulo.

E, sim, a cor realmente pode mudar com o tempo! Não é impressão da família que o bebê possa ter nascido com o olho claro, que foi escurecendo conforme os meses foram passando. Mas tem uma explicação: isso ocorre porque o bebê está no escuro do útero e, quando nasce, os melanócitos (células especializadas que produzem melanina) respondem à luz e começam o processo de ativação da pigmentação. Com o tempo, a íris vai ganhando cor e aquele olhinho inicialmente acinzentado ou azulado pode passar por variações de tonalidade. Interessante, né?

O que é a cor nos olhos do bebê?

A cor dos olhos é determinada pela quantidade e distribuição de melanina depositada na íris, a parte colorida dos olhos que envolve a pupila e controla a quantidade de luz que entra no olho. “A íris fica na frente do cristalino, atrás da córnea, e é o que vemos que em algumas pessoas é castanho, mel, verde ou azul, entre outras tantas tonalidades”, conta a oftalmologista. Você sabia que o olho azul, por exemplo, não tem um pigmento azul propriamente, mas uma ausência de melanina que o deixa nessa tonalidade?

É importante destacar que além da íris, a pupila sempre será preta, e a esclera, a parte branca dos olhos, só terá outra cor se a criança estiver com uma inflamação que os deixe vermelhos ou, ainda, se estiver amarela devido à icterícia.

Quais fatores genéticos determinam a cor dos olhos?

A genética determina a cor dos olhos, ou seja, controla a quantidade de pigmento que será depositada na íris. Nos olhos, o gene OCA2 é responsável pela cor e está localizado principalmente no cromossomo 15. Esse gene codifica uma proteína envolvida na produção e distribuição de melanina na íris, porém não é o único fator presente na combinação que resultará na cor específica dos olhos do seu filho.

“Aprendemos na escola que há um padrão mais dominante para os olhos mais escuros e mais recessivo para os olhos claros, mas essa determinação não ocorre apenas dessa forma. Atualmente, temos mais acesso a testes genéticos que nos fornecem informações mais detalhadas”, explica Luisa, que acrescenta: “Além disso, observamos famílias que aparentemente não seguem esse padrão de dominância e recessividade, pois ao longo do tempo descobriu-se a existência de genes maiores e genes menores responsáveis pela cor dos olhos com diferentes níveis de expressividade”.

Mas, afinal, como saber qual será a cor dos olhos do meu filho?

Não queremos desapontar os pais, mas é difícil ter uma resposta definitiva. Se antes costumávamos usar a famosa tabelinha de cruzamento entre genes dominantes e recessivos para tentar prever qual a cor dos olhos do bebê, hoje os pesquisadores já sabem que múltiplos genes atuam em conjunto para determinar o resultado final. “Antigamente, falávamos em termos de porcentagem, mas agora sabemos que existe esse polimorfismo genético envolvido. Portanto, é complicado usar tabelas, porque tem toda essa variabilidade acontecendo”, aponta a oftalmologista.

Em outras palavras, não necessariamente um pai de olho castanho somado a uma mãe de olho castanho resultará em um filho com olhos castanhos. Da mesma forma, embora a probabilidade de dois pais com olhos azuis gerarem uma criança de olho azul ser grande, não é garantia — e o tom ainda pode ser diferente dos progenitores!

Mas e no caso em que um dos pais tem olhos castanhos e o outro tem olhos azuis? Eles poderiam ter um bebê de olhos azuis? Sim, é possível, mas também é possível que tenham uma criança de olhos castanhos. De acordo com a Academia Americana de Oftalmologia, se um dos pais possui genes para olhos azuis em algum lugar de sua composição genética, por exemplo, o bebê pode herdar esses genes. No entanto, o tom exato dos olhos pode ser diferente dos pais ou dos avós. Não é uma equação exata, entende? Há uma variabilidade envolvida no processo.

A especialista explica que é como quando estamos brincando de misturar tintas com as crianças. “Se você combinar o amarelo com o azul, não resultará em apenas um tom de verde, mas em infinitas tonalidades entre essas duas cores. Com os olhos, é semelhante. São exatamente esses diferentes genes que vão fazer com que a mistura possa ficar verde claro, verde com nuances de mel ou verde azulado, por exemplo”, afirma.

É verdade que a cor dos olhos pode mudar ao longo da vida?

Sim, no momento do nascimento, a maioria dos bebês pode apresentar uma coloração mais acinzentada ou azulada devido à baixa concentração de melanina na íris. É importante ter em mente que eles estão saindo do ambiente escuro do útero e estão tendo o primeiro contato com a luz do meio externo, o que ativa a produção de melanina na íris.

Conforme o bebê cresce, a produção de melanina aumenta e se redistribui, o que pode mudar a cor dos olhos. Por exemplo, uma criança que nasceu com olhos acinzentados pode adquirir pigmentação e tornar-se azul aos seis meses e, depois, ganhar um tom mais esverdeado até os 2 anos.

Quanto tempo leva para definir a cor dos olhos do bebê?

Como os melanócitos levam cerca de um ano para completar a pigmentação dos olhos, é arriscado dizer qual será a cor final dos olhos do bebê. Ainda que não haja um tempo exato, a oftalmologista pediátrica conta que, por volta de 6 meses de idade, já será possível ter uma ideia mais próxima da cor que os olhos terão ao longo da vida, embora possam continuar pigmentando. “Não podemos definir o padrão final da cor, principalmente nos olhos de uma tonalidade um pouco mais clara, que seguem ganhando pigmento até perto dos 2 ou 3 anos”, diz a médica.

Todos os bebês precisam fazer o teste do olhinho?

Sim! Mais importante do que a cor dos olhos, é a saúde ocular do seu bebê. Por isso tanto se fala da importância do teste do olhinho, também conhecido como Teste do Reflexo Vermelho (TRV), que é realizado para detectar sinais de doenças oculares. Feito ainda na maternidade, o exame oftalmológico não é invasivo e deve ser realizado nas primeiras 72 horas de vida do bebê ou antes da alta hospitalar.

“No exame, o pediatra joga uma luz suave nos olhos do bebê e precisa ver um reflexo que vem da retina. Se estiver vermelho, significa que está normal. Se estiver alterado, pode indicar um problema oftalmológico, como catarata congênita, glaucoma congênito ou outras alterações da córnea, que precisam ser examinadas com urgência, geralmente em até trinta dias”, explica a médica.

Nesses casos, o bebê é encaminhado para uma avaliação mais detalhada com um oftalmologista pediátrico. É importante ter em mente que quanto mais precoce um problema ocular for identificado, mais cedo poderá ser iniciado o tratamento e maiores serão as chances de obter bons resultados.

Quais são os sinais de alerta relacionados à saúde ocular do bebê?

Algumas doenças oftalmológicas podem se manifestar de forma mais evidente, como estrabismo, conjuntivite ou inflamações, porém, nem sempre os problemas oculares apresentam sinais claros. Portanto, é fundamental ficar atento a indícios sutis, como a criança esbarrar em objetos, fechar um dos olhos para enxergar melhor ou se aproximar demais para conseguir ver algo. “Esses são sinais que a gente até consegue perceber. Existem, porém, crianças que não dão nenhuma pista e, às vezes, podem não estar enxergando absolutamente nada de um dos olhos”, conta a médica.

Por isso, a presidente da SBOP enfatiza a importância de um acompanhamento periódico. Isso começa pelo teste do olhinho, que precisa ser repetido pelo pediatra durante as consultas de puericultura, pelo menos três vezes ao ano nos primeiros três anos de vida. Além disso, é indicado fazer um acompanhamento específico com um oftalmologista pediátrico e realizar um exame completo com dilatação das pupilas entre os 6 e 12 meses.

A partir dos 3 anos, esse exame se torna ainda mais prioritário. “Por que aos 3 anos? Porque ainda dá tempo de tratar algumas doenças que podem ser assintomáticas, como por exemplo, a ambliopia, que é a diferença de visão entre os olhos. Recomendamos para todas as crianças, mesmo aquelas que não possuem sintomas ou síndromes, porque existem problemas que só podem ser detectados por meio de exames”, explica.

De acordo com a “Diretriz Brasileira Acerca da Periodicidade do Exame Oftalmológico nas Crianças Saudáveis na Primeira Infância”, documento da SBO em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a ambliopia afeta aproximadamente de 2% a 4% da população pediátrica e é considerada a segunda doença ocular mais tratável. Ela fica atrás apenas dos erros refrativos (miopia, astigmatismo, hipermetropia e presbiopia), que afetam cerca de 23 milhões de crianças de 5 a 15 anos na América Latina, segundo dados do documento “As Condições de Saúde Ocular no Brasil” , do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).

Mitos e curiosidades sobre a cor dos olhos do bebê

Olhos visão bebê — Foto: Thinkstock
Olhos visão bebê — Foto: Thinkstock

Bebês podem usar óculos de sol?
Sim. Principalmente para bebês que vivem em regiões quentes e estão expostos a uma radiação solar mais intensa, é recomendado o uso de óculos de sol para ajudar a bloquear os raios UV. Certifique-se de que os óculos sejam apropriados para bebês e que as lentes ofereçam proteção adequada. Já nas regiões de sol menos intenso, muitas vezes, apenas o uso de boné ou chapéu já é o suficiente para proteger os olhinhos do sol.

É verdade que olhos claros são mais sensíveis?
Sim. Embora o incômodo com o sol não seja exclusivo de quem tem olho claro, as pessoas que possuem menos pigmentação na íris, de fato, tendem a ser mais sensíveis à luz do que aquelas que têm olhos mais escuros. Isso ocorre porque a pigmentação da íris auxilia na filtragem da luz solar, proporcionando uma maior proteção aos olhos. Por isso, não é raro que pessoas de olhos azuis ou verdes possam sofrer mais com fotofobia, uma condição caracterizada por sensibilidade extrema à luz intensa.

Por que tem pessoas que nascem com olhos de cores diferentes?
Quem possui um olho azul e o outro verde, por exemplo, pode apresentar uma condição rara conhecida como heterocromia ocular. Isso ocorre devido às diferentes combinações genéticas que podem alterar a quantidade e a distribuição da melanina na íris. Inclusive, de um olho para o outro. Geralmente, a condição é congênita, mas também pode ser causada ao longo da vida devido a doenças ou lesões.

Telas podem prejudicar a visão dos bebês?
Luisa destaca a importância de seguir a recomendação da SBP de evitar a exposição de crianças à TV e celulares até os 2 anos de idade. Ela ressalta que as telas podem afetar negativamente o desenvolvimento neurológico da criança, levar a comprometimentos da fala, da linguagem e do comportamento, além de provocar questões oftalmológicas, como o surgimento precoce da miopia.

O “Relatório Mundial sobre a visão”, da Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, mostra que crianças pequenas com deficiência visual grave de início precoce podem apresentar atrasos motores, emocionais, sociais e cognitivos com implicações ao longo da vida toda. Portanto, é crucial proteger a visão e garantir um ambiente saudável para o desenvolvimento infantil.

É verdade que tem mais pessoas de olhos escuros no mundo?
Sim, mas para explicar o porquê, precisamos voltar um pouquinho no conceito. Como você já sabe, a cor dos olhos é determinada pela quantidade e distribuição de melanina na íris. Por isso, pessoas com maior quantidade desse pigmento costumam ter olhos castanhos ou pretos, enquanto aqueles com menor quantidade, tendem a ter olhos claros, como verde e azul. A melanina também desempenha um papel importante na proteção contra os danos causados pela radiação ultravioleta (UV).

Justamente por isso, pessoas com menor quantidade de melanina (na pele e nos olhos) buscavam regiões onde a incidência do sol fosse menor, visando reduzir os danos à sua saúde, já que são mais sensíveis à exposição solar. Por outro lado, as pessoas com maior presença de melanina no corpo conseguiram se adaptar a outros fatores ambientais e puderam viver em locais mais quentes, por exemplo. Como a distribuição e quantidade de melanina são influenciadas pela herança genética, é compreensível que haja prevalência de olhos escuros nas Américas, África e Ásia, que são os continentes mais populosos.

E uma última curiosidade: sabe qual a cor de olhos mais rara no mundo? De acordo com a Academia Americana de Oftalmologia é a cor verde. Apenas 2% da população mundial possui olhos nas tonalidades esverdeadas.

Fontes: Luisa Hopker, oftalmologista pediátrica, presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia pediátrica (SBOP), Especialização em Oftalmopediatria e Estrabismo no Children’s Medical Center of Dallas, EUA e Doutorado pela Universidade Federal de São Paulo / “Relatório Mundial sobre a visão”, a Organização Mundial da Saúde (OMS) / “Diretriz Brasileira Acerca da Periodicidade do Exame Oftalmológico nas Crianças Saudáveis na Primeira Infância” - SBO em parceria com a SBP / “As Condições de Saúde Ocular no Brasil” - Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) / Academia Americana de Oftalmologia (AAO)

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