Parece que os bebês são mais imaginativos do que se acreditava. Um estudo realizado pelo Centro de Desenvolvimento Cognitivo da Universidade Centro-Europeia, de Viena (Áustria), descobriu que bebês a partir de 14 meses pensam espontaneamente em múltiplas possibilidades quando são apresentados a objetos com uma aparência “ambígua”. Isso revela que a capacidade humana de imaginar e raciocinar alternativas diferentes já está presente desde muito cedo, em bebês que ainda não sabem falar.
![Estudo indica que bebês conseguem pensar em possiblidades múltiplas antes mesmo de aprender a falar (Foto: ThinkStock) — Foto: Crescer](https://cdn.statically.io/img/s2-crescer.glbimg.com/Lw5pa9ddQQUz_jhHRjcNTk0EclY=/0x0:620x453/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2022/V/I/DUcd49S5KRi2wkg8QsKw/2017-10-23-bebes-sentados.jpeg)
A habilidade de imaginar e considerar possibilidades é central para muitas atividades humanas, seja nas artes, na ciência ou no dia a dia. No entanto, apesar da sua importância para a cognição humana, a origem dessa capacidade ainda não é conhecida. Até hoje, cientistas debatem se a linguagem e a experiência são realmente necessárias para imaginar alternativas, ou se é uma habilidade humana que emerge cedo. Uma razão do ceticismo em relação aos bebês e crianças pequenas entenderem possibilidades é que eles geralmente cometem erros ao encarar incertezas. Mas a pesquisa mostra que os pequenos podem, sim, ter essa competência.
Para fazer essa avaliação, os pesquisadores analisaram a dilatação da pupila de crianças de 10 e 14 meses. Os pequenos assistiram a animações em vídeo em que três objetos diferentes — uma boneca, um elefante de brinquedo e uma bola — com partes superiores idênticas se moviam atrás de duas telas. Em determinado momento, um dos objetos aparece na tela, mas parcialmente coberto, revelando somente a parte superior. Com isso, a criança precisa comparar as possibilidades para tentar identificar qual dos objetos está sendo exibido. Neste momento, observou-se que o diâmetro da pupila das crianças de 14 meses aumentou, mas não nas de 10.
![Teste pupilométrico realizado pelos pesquisadores — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-crescer.glbimg.com/FS589ZtVN_I3NUwIpd_SZ-j7izw=/0x0:2261x1200/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2022/A/s/XO6LpQRhObhvHrDrOL3A/teste-pupilometrico.jpg)
Qual a relação entre a dilatação da pupila e a imaginação?
“Ao imaginarmos ou divagarmos sobre determinado assunto que requeira memória, normalmente mudamos o foco do olhar para longe. Sendo assim, damos uma folga para o reflexo de acomodação que causa convergência e miose, condição que mantém a pupila mais fechada e traz o foco. Dessa forma, fazemos com que as pupilas se dilatem por ativarmos centros cerebrais específicos que inibem a miose”, explicou Patrícia Ferraz Mendes, oftalmologista do Sabará Hospital Infantil.
Estudos anteriores com adultos já comprovaram que a pupila tem a propriedade de dilatar quando é feito um esforço mental, como tentar lembrar um grande número de coisas ou fazer cálculos mentais complexos. Mas ainda não tinha sido analisado se o mesmo também ocorre nas crianças. Por isso, os cientistas resolveram fazer os chamados testes pupilométricos. “Medir o diâmetro das pupilas das crianças nos permitiu testar se o tamanho da pupila aumenta devido ao grande número de possibilidades que elas poderiam codificar”, escreveram os pesquisadores no relatório.
Foi descoberto que o diâmetro da pupila aumentou mais quando as crianças viam o objeto parcialmente escondido do que quando viam o objeto por completo. “Descobrimos que a pupila dos bebês dilatava mais quando eles observavam um objeto oculto com múltiplas identidades possíveis, do que quando o objeto tinha apenas uma identidade possível. Isso é o que se deve esperar se os bebês estiverem imaginando as possíveis identidades do objeto”, destacaram os autores do estudo.
Mas isso só foi observado nos bebês de 14 meses, não nos de 10. Por isso, a pesquisa indica que a capacidade de pensar em múltiplas possibilidades está presente em humanos pelo menos após o primeiro ano de vida. “A pesquisa mostrou que quando confrontadas com imagens mais complexas que não eram tão facilmente identificáveis, a criatividade da criança era mais estimulada”, apontou Patrícia Rezende, pediatra do Grupo Prontobaby, do Rio de Janeiro.
Embora o trabalho traga descobertas importantes, a oftalmologista do Sabará fez algumas ressalvas e ressaltou que ainda faltam algumas informações. “Para validar tal teste, era preciso indicar se esses bebês apresentavam alguma alteração anatômica, como alterações retinianas, cristalinianas, corneanas, assim como a distância que os objetos foram apresentados e a iluminação local”, analisou. Além disso, segundo a médica, as pupilas ainda podem dilatar em outras circunstâncias, como em casos de estresse.
“Também é importante destacar que o desenvolvimento da acuidade visual da criança só se iguala ao do adulto por volta dos quatro anos de idade. Sendo assim, dependendo da idade da criança, distância e tamanho dos objetos apresentados, os bebês poderiam simplesmente estar enxergando as imagens de maneira desfocada, tornando-se mais um viés ao estudo”, acrescentou Patrícia Ferraz.
A importância de estimular a imaginação
Embora a capacidade imaginativa dos bebês ainda esteja sendo explorada, nunca é cedo demais para incentivar a criatividade e imaginação dos pequenos. “Não existe uma idade mínima para isso. Na verdade, desde recém-nascido podemos estimulá-los com imagens com contrastes (preto e branco) para melhorarmos a capacidade cognitiva”, afirmou a pediatra Patrícia Rezende. Logo no começo da vida, os pequenos conseguem absorver muitas informações. “Sabemos que nos dois primeiros anos é quando temos a maior formação de sinapses, o maior desenvolvimento neuronal, então, cada estímulo conta”, ressaltou a especialista.
Para isso, é importante estabelecer um relacionamento não possessivo, para que o filho desenvolva independência e autonomia. Os pais devem dar abertura para que a criança tenha experiências próprias. Sempre é preciso demonstrar respeito e confiança, reforçando que aquilo que a criança faz tem valor. Além disso, é essencial encorajar os desejos exploratórios e estimular diferentes interesses.
Ler, contar histórias, ouvir músicas juntos... tudo isso também pode ajudar. E, claro, deixar a criança brincar com outras crianças, com os pais e ou mesmo sozinha, sempre tentando proporcionar brincadeiras variadas e divertidas. O bebê com certeza vai gostar de atividades como essas, simples de propor no dia a dia e que vão ajudar a manter o cérebro dele maleável e conectado, fator fundamental para exercer a capacidade criativa.
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