• Nathalia Ziemkiewicz
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331 A vez das babás (Foto: Getty Images)

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A advogada Tereza Ribeiro, 39 anos, costumava trabalhar cerca de dez horas por dia. O filho Bernardo, 5,  passava o dia na escola e depois seguia para a casa da avó materna. A pandemia de covid-19 mudou completamente a rotina da família, que passou a fazer home office – ela improvisou seu escritório na varanda e o marido, em um quarto. Na época, grávida de Heitor, 1 ano, Tereza achou prudente se isolar de seus pais, que não estavam seguindo à risca o confinamento. Em janeiro, prestes a encerrar sua licença-maternidade, optou por contratar uma babá: “A presença dela é primordial para que eu consiga fazer o meu trabalho”.

De acordo com a plataforma online GetNinjas, que conecta clientes a prestadores de serviços, houve um aumento de 35% na procura por babás entre março de 2020 (início da pandemia no Brasil) e fevereiro de 2021. Além disso, no mesmo período, o site constatou um crescimento de 275% nos cadastros dessas profissionais – reflexo direto da crise econômica e do alto desemprego. Agências especializadas nunca receberam tantos currículos de pedagogas formadas. Do outro lado, muitas famílias de crianças com menos de 4 anos, que ainda não têm obrigatoriedade de ir para a escola, estão tirando os filhos da creche ou berçário e contratando babás.

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Houve, ainda, uma nova demanda por meio turno, segundo a diretora da Rede Kanguruh, de Porto Alegre (RS), Sônia Godinho. “É a mãe [ou pai] que precisa de uma babá por quatro ou seis horas por dia para ficar concentrada no home office, enquanto a criança está acompanhada em outro cômodo da casa”, diz. Outra mudança no perfil da profissional buscada: “Antes, os contratantes não se importavam de ter uma babá que pegava várias conduções para trabalhar”, diz Bia Greco, proprietária da agência de luxo na capital paulista que leva seu nome. “Hoje, dão preferência para quem mora mais perto, quem tenha carro próprio ou possa dormir de segunda a sexta.”

Se ter uma cuidadora infantil em casa durante a pandemia melhora a produtividade dos pais, há vantagens também para o desenvolvimento dos pequenos. “Diminui o tempo de tela, já que a criança passa a socializar com alguém de fora da bolha e recebe estímulos mais lúdicos”, diz Mariana Machado, fundadora do Dona Mãe, método de treinamento de babás. No entanto, é fundamental frisar que, apesar de ser uma grande aliada para os pais, a presença de uma profissional para auxiliar nos cuidados infantis não substitui a escola. O ambiente pedagógico é fundamental para o desenvolvimento humano em todos os sentidos – cognitivo, emocional, afetivo e social. Nesse espaço fora de casa, a criança aprende com outras crianças a trocar, esperar, criar, entre uma série de habilidades.

CRESCER conversou com especialistas para ajudar os pais que desejam contratar essas profissionais – e na manutenção de uma boa relação. A seguir, confira algumas dicas.

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O QUE CONSIDERAR ANTES DA BUSCA

Você pode encontrar candidatas pedindo recomendações aos amigos, nas redes sociais, em agências especializadas ou aplicativos de prestadores de serviço – dá até para contratar babás por hora (leia mais no quadro Por hora). Para selecionar uma mensalista, “primeiro é preciso entender as necessidades da família e o perfil de babá desejado”, afirma Mariana Machado, do Dona Mãe. Por exemplo: carga horária, habilidade para cozinhar, disponibilidade para dormir ou viajar nos finais de semana.

Sônia Godinho, da Rede Kanguruh, sugere que os pais entrevistem ao menos cinco profissionais e conversem com ex-empregadores: “Da mesma forma que você não compra o primeiro carro que aparece, dedique-se à escolha da pessoa que cuidará dos seus filhos para realmente dar certo”. Para Bia Greco, da agência Bia Greco, no caso de bebês, a formação da babá importa menos que sua maturidade para a função. “Já com crianças entre 6 meses e 2 anos, melhor alguém com energia para a etapa de engatinhar e andar. E, acima dos 7 anos, o ideal é que a babá saiba ler e escrever bem para auxiliar nas lições escolares”, diz.

Como as demandas mudam conforme a criança cresce, Mariana acredita que basta a candidata estar aberta ao aprendizado – e a família, a investir na atualização da profissional. “Diferentemente da babá, a mãe recebe informações sobre alimentação, disciplina positiva, entre outras, nos grupos de pais, no pediatra, nos blogs...”, diz. “Além de cuidar, a babá também passa valores – é impossível separar uma coisa da outra”, diz Mariana Machado.

Tereza queria uma babá que “viesse pronta” e soubesse sobre disciplina positiva, BLW (método de introdução alimentar)... Como ninguém atendeu às suas expectativas, optou por formar uma pessoa que não tinha experiência com bebês, mas havia sido bem indicada. Algo parecido aconteceu com a arquiteta Giselle Furtado Artea, 32 anos, mãe de Gustavo, 6, Guilherme, 3, e Giovanni, 1.

Quando o caçula nasceu, em plena pandemia, ela foi atrás de babá por indicação, aplicativo e até agência. Uma contratada desistiu em quatro dias, no primeiro desafio de apaziguar uma batalha por brinquedos. Giselle apelou para Antônia, que havia trabalhado uma década na casa de sua mãe. Deu certo: hoje, a funcionária, que ajuda na rotina com os pequenos, está aprendendo a mexer no computador para colocar o mais velho nas aulas online.

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COMO CONDUZIR E O QUE OBSERVAR NA ENTREVISTA

Aspectos subjetivos, como pontualidade, asseio pessoal e postura da candidata devem ser levados em consideração. Informe-se sobre o deslocamento (tempo e custos com transporte), escolaridade e cursos, experiência profissional – a idade das crianças que ela cuidava, as tarefas que desempenhava e o motivo de ter saído dos últimos empregos.

Uma dica é evitar questões que possam ser respondidas com “sim” e “não”. Mariana Machado exemplifica: “Em vez de perguntar se ela gosta de brincar com crianças, diga: ‘Do que você gosta de brincar com elas?’”. Não pule etapas apenas porque a candidata foi uma indicação de confiança. “A babá perfeita para uma família pode não ser para a sua.”

De acordo com Bia Greco, os três principais pontos a favor de uma entrevistada são estabilidade (se ficou muito tempo nos empregos anteriores), ótimas referências e empatia: “No fim das contas, você precisa se sentir à vontade com ela, gostar da energia e perceber que existe brilho nos olhos para cuidar de crianças”.

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CONTRATAÇÃO: DIREITOS E DEVERES

A lista básica de deveres de uma babá inclui não apenas cuidar e entreter a criança, mas organizar o que envolve sua rotina – arrumar o quarto, lavar e passar as roupas, preparar a comida (no caso de um bebê)... O presidente do Instituto Doméstica Legal, Mário Avelino, afirma que as famílias de classe média costumam contratar uma profissional “polivalente”. Em outras palavras, a babá que também limpa a casa, cozinha... “Desde que isso seja acordado antes, não tem problema”, diz.

A carteira de trabalho deve ser assinada assim que começa o período de experiência, válido por até três meses (leia mais no quadro Quanto custa). Contratar uma babá para morar em casa é legal, mas não significa 100% de disponibilidade. Após o expediente, ela está livre. Quando acionada durante o período de descanso, deverá receber por hora extra – caso seja entre 22h e 5h, calcula-se também o adicional noturno.

Na pandemia, o empregador não só pode exigir que a babá trabalhe de máscara como tem a obrigação de fornecê-la, assim como álcool em gel. Para se sentir mais segura, Tereza também combinou de sua funcionária tomar banho e vestir um avental antes do trabalho. Ela e o marido usam máscaras quando precisam se aproximar da babá. É bom saber que o empregador tem o direito de exigir que a funcionária tome vacina contra a covid-19. Caso ela se recuse, pode ser demitida por justa causa, segundo Mário Avelino. Antes, porém, vale uma conversa para conscientizá-la da importância do imunizante.

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SOBRE REGRAS E EXPECTATIVAS

A pediatra Renata Waskman, vice-presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo, recomenda que os pais exponham desde o início a rotina da casa e da criança, além dos telefones úteis, em caso de emergência. “Entregue uma agenda para a babá anotar os horários de banho, passeio, estimulação e soneca, entre outras atividades”, diz. Além disso, cada família tem suas preferências, então não espere que a recém-contratada adivinhe a dinâmica de vocês.

Para Mariana Machado, autora do e-book Guia de cuidados para papais e babás – da contratação à prática, é imprescindível ter uma boa conversa e discriminar as regras por escrito. Por exemplo: como devem ser o banho e a alimentação da criança, quanto tempo de televisão está liberado por dia, se pode levá-la à pracinha da rua, se o uso do celular é permitido durante o expediente... “Quanto mais clara e fácil a comunicação, melhor a relação entre família e babá”, afirma Bia Greco. “Caso você não goste de algo, converse e ajuste na hora; não acumule até explodir.”

RIVALIDADE, NÃO: PARCERIA!

Não basta ser técnica e ter um currículo invejável: afetividade é característica primordial para trabalhar como babá. Portanto, uma boa profissional estabelecerá um vínculo emocional com o seu filho. “Observe se ela brinca, faz carinho, conversa, olha nos olhos, canta para a criança...”, diz a pediatra Renata. “Os pais devem valorizar isso, embora seja normal sentir ciúmes, quando notam a profissional superpróxima ao seu filho.”

Mariana, do Dona Mãe, defende que babá e os pais sejam companheiros na criação e falem a mesma língua. Se a funcionária não dá espaço para a família ficar a sós com a criança, por exemplo, ela propõe: “Quando chegar do trabalho, dê a ela tarefas, como arrumar o quarto do seu filho, cortar frutas para ele...”.

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SINAIS DE ALERTA

O comportamento do bebê ou da criança indica se a relação está indo bem – mesmo que ela não consiga verbalizar. “Se chora mais, demonstra irritação, nervosismo ou tenta se afastar quando a babá se aproxima... melhor ficar atento!”, diz Renata. Outros sinais de alerta são pouco apetite, fralda suja por muito tempo, pouco estímulo lúdico (como não variar os brinquedos).

Está receoso ou desconfiado? Saiba que o uso de câmeras de segurança para acompanhar a rotina da casa e o trabalho da babá – especialmente quando a criança passa o dia sozinha com a cuidadora – é legal, desde que os equipamentos sejam instalados nas áreas comuns e a contratada assine um termo de ciência a respeito da gravação das imagens. Embora o assunto soe um tanto delicado, Mariana afirma que não há motivo para melindre nem constrangimento: “Antes de ser o local de trabalho da babá, é a casa da família”.

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QUANTO CUSTA?

Funcionários que atuam mais de dois dias por semana na residência devem ser registrados. “Em termos de direito, não há diferença entre babá e empregada doméstica”, afirma Mário Avelino, presidente do Instituto Doméstica Legal. A carga máxima é de 44 horas semanais, com um dia de descanso semanal (além dos feriados) e férias remuneradas. Horas extras devem ser pagas, assim como adicional noturno. 

A babá não pode receber menos que um salário mínimo (atuais R$ 1.100), além do vale-transporte e 13º salário. O valor varia de acordo com a região do país, a experiência e a formação da profissional, a quantidade e a idade das crianças (quanto mais nova, mais caro), as tarefas “extras” (como limpar a casa). A média nacional para a empregada doméstica é de R$ 1.296 (IBGE).

Deve-se elaborar um contrato de trabalho com as informações do contratante e da contratada, deveres, salário e jornada de trabalho, acordos e condições especiais. Com contrato assinado e carteira de trabalho preenchida, ambos devem se cadastrar no portal eSocial Doméstico. Ali, o empregador emite e recolhe mensalmente a guia de pagamento dos encargos trabalhistas – cerca de 20% do salário.

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POR HORA

Serviços de cuidadoras para desafogar o dia a dia

Sitly
Monte um perfil com preferências e necessidades, acione filtros como data e valor (a hora geralmente custa entre R$ 15 e R$ 35) para encontrar babás disponíveis na sua região. Dá para checar referências antes de entrar em contato por mensagem para uma entrevista.
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Babysits
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babysits.com.br

GetNinjas
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getninjas.com.br

Alô Babá
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alobaba.com.br