• Nicole Gasparini
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amamentar (Foto: ThinkStock)

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No dia 26 de agosto, foi publicado um artigo norte-americano intitulado Women’s Choice Regarding Breastfeeding and Its Effect on Well-Being (A Escolha das Mulheres em Relação à Amamentação e seus Efeitos no Bem-estar, em tradução livre), escrito por duas mães que tiveram dificudade para amamentar seus filhos e resolveram tratar da pressão psicológica em torno do assunto e da importância de uma rede de apoio, desde a gestação até o nascimento do bebê; em relação ao aleitamento materno.

Apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) indicar que até 2025, 50% das crianças terão aleitamento materno exclusivo até o sexto mês, hoje, a duração média desse dessa prática é de 54 dias. "A falta de acesso à informação de qualidade é uma das principais causas para o alto índice de mães que decidem trocar a amamentação pelas fórmulas prontas", afirma o doutor Moises Chencinski, pediatra, criador e incentivador do movimento Eu Apoio Leite Materno e presidente do departamento de aleitamento materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

O excesso de informação de pouca qualidade que chega até a gestante é um dos principais problemas quando o assunto é a pressão e a frustração em relação à amamentação. "A decisão de querer ou não amamentar é sempre da mãe. Nosso papel, como profissionais da área, é alertá-la e fornecê-la informações corretas, falar sobre as recomendações da OMS e enfatizar a importância do aleitamento materno exclusivo ao bebê até o sexto mês e complementando até dois anos ou mais. Também enfatizamos os benefícios do parto natural em relação à cesárea, por exemplo, mas no fim, a decisão é da mãe. E ela deve ser consciente e não uma escolha feita por falta de informação. Nesse sentido, devemos sempre acolher e não julgar. Nenhuma mãe é melhor ou pior que a outra porque amamentou ou porque fez um parto natural", explica Chencinski. 

Apesar de as pessoas se sentirem no direito de dizer a uma gestante como ela deve ou não conduzir suas escolhas e aquilo que é ou não esperado dela, a partir da 22ª semana, é importante que ela consulte um pediatra e se informe sobre qualquer questão que envolva sua gravidez. "Todas as mães podem amamentar, a não ser que tenham patologias específicas, como as transmissíveis, por exemplo, como é o caso das soropositivas. Como somos mamíferos, seria natural a amamentação, mas, hoje em dia, existe tanta informação que não trabalha a favor dessa natureza que transforma esse hábito simples em algo difícil", afirma o pediatra.

A breve licença à paternidade e à maternidade é outro exemplo do que pode gerar estresse às mães. "Ao invés de 120 dias, deveria ser 180 dias de licença para a mãe e, para os pais 5 dias não ajuda em nada; deveria ser no mínimo 20 dias. Nas primeiras semanas em casa, a mãe acaba ficando sucetível ao estresse porque não conta com a ajuda que deveria e sente a pressão de lidar com tudo sozinha, para não sentir que falhou como mãe. Quando a mãe não conta com uma rede de apoio, as chances de depressão são maiores", explica.

Quando uma mãe decide, após ter acesso às informações, que ela quer amamentar conforme as recomendações, o ideal é que o pediatra indique todo o apoio que será preciso. "Nem sempre amamentar exclusivamente até o sexto mês é fácil, por isso devemos investigar as causas que levam à dor, por exemplo. Para isso, devemos consultar fonodiólogos, odontologistas, pediatras, consultoras de amamentação, doulas, psicólogas. Existem vários caminhos para resolver a questão da amamentação sem ir direto à mamadeira e às fórmulas prontas", completa Chencinski.

Uma alternativa para evitar que a mãe passe por momentos de estresse com a amamentação é, além de aumentar o tempo de licença-maternidade, garantir uma sala de apoio à amentação onde ela possa tirar o seu leite e congelá-lo duranto o período de trabalho. O leite que é tirado do seio, dura em média, 12 horas na geladeira e 15 dias no congelador. Antes mesmo de voltar a trabalhar, a mulher já pode começar a congelar o seu leite, aprender a tirá-lo corretamente, entender os novos hábitos para não desistir deles quando a hora H chegar. "É importante que o pediatra acompanhe tanto a amamentação da mãe quanto tire as dúvidas para ver se não existem problemas ou resolvê-los a tempo. A volta ao trabalho não pode ser uma desculpa para se apoiar em fórmulas prontas e mamadeira. O bico artifical da mamadeira e da chupeta fazem com que os bebês se acostumem a sugar na ponta, mas no seio da mae, o bebê deve sugar na áureola", explica. 

Por fim, outras medidas que podem ser tomadas para evitar o estresse das mães e garantir os seis meses de aleitamento materno exclusivo são: limitar o marketing em relação às fórmulas prontas infantis, falar mais sobre a importância da amamentação, fortalecer o sistema de saúde com mais iniciativas que dêem apoio à mãe e à criança, aumento da licença à maternidade remunerada e apoio às mães, seja por grupos de apoio, familiares, amigos e campanhas de comunicação que falem sobre o assunto. "Doação de leite materno também é um tema importante a ser falado e que aqui no Brasil não é tão comum. É importante que as mães conheçam os bancos de leite e entendem como podem doar os excedentes do seu leite, principamente para ajudar nos prematuros. É importante que todos entendam o seu papel para ajudar e apoiar as mães neste momento, precisamos quebrar este tabu", finaliza Chencinski.

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