Embora pouco conhecido, o COB é um sistema de construção antigo, que surgiu na Inglaterra por volta de 1600. Basicamente, trata-se de uma mistura sustentável de terra, areia, água, palha e pedras. Esta massa maleável pode ser esculpida à mão a fim de criar uma estrutura monolítica e resistente a cargas.
O COB é considerado uma técnica de bioconstrução, uma vez que o subsolo escavado é aproveitado como matéria-prima. “Construir com COB é semelhante a esculpir com argila, sendo possível modelar formas orgânicas, paredes curvas e arcos, já que não são necessários moldes retangulares”, afirma a arquiteta Raquel Scussel Guarda, do escritório COB Arquitetura. “Este é justamente o diferencial do material em relação a outras técnicas de bioconstrução: a sua aproximação com a escultura”, completa.
Assim como muitas técnicas vernaculares, o COB é erroneamente considerado frágil. “Escutamos muito que as casas de barro não são seguras ou duram menos que as construções convencionais. Como seria uma técnica pouco segura e durável se existem edificações de barro feitas há milhares de anos que continuam de pé?”, questiona Raquel.
Alguns exemplos dessas construções são a Grande Mesquita em Mopti, Mali, de 1935, e o núcleo da Pirâmide do Sol, em Teotihuacan, no México, construída entre os anos 300-900, com cerca de dois milhões de toneladas de terra.
Aplicações do COB
![As casas de cob podem ser construídas pela própria comunidade em áreas remotas — Foto: Flickr / Bianca Mondragon / Creative Commons](https://cdn.statically.io/img/s2-casaejardim.glbimg.com/PcFBHV0W5eRtF3lVuUk7G81YlFo=/0x0:2048x1536/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_a0b7e59562ef42049f4e191fe476fe7d/internal_photos/bs/2024/T/r/fAbMQGTBmYbPlcfslEKA/6124889902-fca78458b6-k.jpg)
Geralmente, o COB é aplicado em construções residenciais unifamiliares, pois apresenta uma limitação estrutural, suportando, em média, dois pavimentos. “Não é impossível construir edificações de mais andares, porém, quanto maior a carga estrutural, maior a grossura das paredes. Então, a construção acaba se tornando bem mais complexa e, por assim dizer, inviabiliza mais pavimentos”, explica a arquiteta.
Como a matéria-prima principal está disponível no solo, o COB é uma excelente alternativa para áreas remotas e pode ser executado pelas comunidades da própria região, dispensando maquinário pesado e mão de obra qualificada.
“É uma técnica simples o suficiente para ser aprendida praticando, na qual quase nada é irreversível. Pode ser construído também por mulheres, crianças e idosos, porque não possui componentes tóxicos, e não necessita de ferramentas mecânicas, pesadas e afiadas”, diz.
Vantagens e desvantagens
![As casas de COB devem ter fundação de pedra e grandes abas de telhado para amenizar os efeitos da chuva — Foto: Flickr / Tyler Walter / Creative Commons](https://cdn.statically.io/img/s2-casaejardim.glbimg.com/3xXh-c5-SiygsBzkiBSl6m2kQvU=/0x0:2048x1152/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_a0b7e59562ef42049f4e191fe476fe7d/internal_photos/bs/2024/9/t/D4v5UBQrKlBefa3jMSkQ/2783130048-8c588879c5-k.jpg)
Além do baixo impacto ambiental, o COB apresenta excelente desempenho térmico e acústico. “De maneira simplificada, as paredes com o material absorvem o calor durante os dias de verão e liberam para o exterior da edificação à noite; enquanto no inverno, conservam o calor interno da edificação”, afirma a arquiteta Fernanda Lanzarin, representante da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), com colaboração de Luan Porto Rosenstengel, estudante de arquitetura.
O COB também possui elevada capacidade higroscópica, ou seja, é capaz de regular a umidade interna e mantê-la entre 40 a 60% – a faixa mais adequada para a saúde humana. “A construção de terra não está associada aos efeitos negativos dos COVs (compostos orgânicos voláteis), dessa forma, os moradores têm uma qualidade do ar interno superior quando comparado a outros materiais”, adiciona Raquel.
![Cabana feita de COB com fundação de pedra por Sasha Rabin — Foto: Flickr / Sgnb Sgnb / Creative Commons](https://cdn.statically.io/img/s2-casaejardim.glbimg.com/OqCWbuPzoJpQsrGOv7Ex7cFkpmg=/0x0:2048x1536/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_a0b7e59562ef42049f4e191fe476fe7d/internal_photos/bs/2024/r/t/FosA88SHCAFM73KYKBCw/2982420414-62885628dc-k.jpg)
Contudo, nem todo tipo de solo pode ser usado na técnica de bioconstrução. “O solo deve ser previamente analisado, e pode ser necessário adicionar componentes para torná-lo próprio ao uso. A composição do COB demanda porcentagens específicas de cada elemento para uma boa consistência final”, explica Fernanda. Vale destacar que o COB não é recomendado para áreas de abalos sísmicos.
No imaginário popular, essas edificações são extremamente sensíveis à água e, de fato, ela pode apresentar riscos aos sistema. Para contornar a situação, recomenda-se a construção de fundações de pedra e de telhados com largas abas para a proteção das paredes contra a chuva. Outras medidas simples também podem ser adotadas, como a aplicação de argamassas de origem natural.
Atualmente, o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial de construções sustentáveis, segundo o United States Green Building Council (USGBC).
“É claro que barreiras de pensamento ainda existem e precisam ser superadas para que estas técnicas e este tipo de construção sejam ainda mais difundidos e estudados. É, sem dúvida, um meio de construção que contribui para a criação de uma sociedade mais igualitária, que devolve o sentimento de pertencimento e dignidade a povoados que antes não tinham como possuir uma moradia. Tudo isso com um impacto zero no meio ambiente”, conclui Fernanda.
![Um Só Planeta — Foto: Editora Globo](https://cdn.statically.io/img/s2-casaejardim.glbimg.com/L1yW0FGE2sR7ZOJD2xEj26v4zSg=/0x0:620x160/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_a0b7e59562ef42049f4e191fe476fe7d/internal_photos/bs/2024/b/H/VtQ2D2TqClNFgtLHLxvw/banner-digital-de-cobertura.jpg)