Um Só Planeta

Por Yara Guerra

Na previsão de tendências, a relação com a natureza é um tópico recorrente. Questionados sobre o futuro do paisagismo e da jardinagem no Brasil, especialistas levantam práticas mais amigáveis com as plantas e o planeta. Há indícios de que usaremos recursos mais ecológicos, conviveremos com espaços minimalistas e seremos mais abertos à experimentação. Confira abaixo!

Xeropaisagismo

Cactos e suculentas se enquadram na categoria das xerófitas, espécies típicas da caatinga e do cerrado que exigem pouca água e apresentam alta resistência a ventos fortes, podendo se adaptar aos mais hostis ambientes.

Diante do esgotamento dos recursos naturais, como a água, o xeropaisagismo — que é o uso dessas plantas no paisagismo — permite combinar um jardim ornamental com a sustentabilidade e mostra-se como uma tendência atual.

Espécies que exigem pouca água ganham destaque em um cenário de sustentabilidade — Foto: Ilustrações Anália Moraes / Editora Globo
Espécies que exigem pouca água ganham destaque em um cenário de sustentabilidade — Foto: Ilustrações Anália Moraes / Editora Globo

Espécies em alta

Dentre as espécies “quentes” para o paisagismo do futuro, Naia Silveira, especialista em tendências da WGSN, cita árvores internas, como a dracena e “plantas da sorte”, além das minifigueiras e minilimoeiros.

“Sempre me solicitam árvore frutífera e cada vez mais paisagem tropical”, complementa a arquiteta-paisagista Catê Poli. Outras plantas que serão bastante populares incluem os miniterrários de bonsais, além dos cactos e das suculentas — que, para iniciantes na jardinagem, podem ser um ótimo início, já que demandam pouco cuidado.

Cultivo de pancs

As plantas comestíveis não convencionais, as PANCs, são verduras, hortaliças ou frutas que não costumamos consumir, mas que surgem de forma espontânea, são resistentes e se reproduzem com facilidade. Com mais de 350 espécies catalogadas, esse grupo pode apresentar mais de uma parte comestível.

Mas atenção: vale ter certeza de qual planta se trata antes de ingeri-la. Um exemplo de PANC é a folha da batata-doce, parte do vegetal negligenciada pela culinária convencional, mas que também é comestível quando cozida. De fácil cultivo, essas espécies apresentam a tendência de se tornarem cada vez mais populares à medida que as pessoas se voltam à curiosidade e à experimentação.

Futuro amigável com plantas — Foto: Ilustrações Anália Morais / Editora Globo
Futuro amigável com plantas — Foto: Ilustrações Anália Morais / Editora Globo

Hortas caseiras

As hortas caseiras são uma tendência que veio para ficar. Segundo Catê Poli, praticamente 100% de seus clientes incluem hortas em seus pedidos de projeto: “Mas são hortas de temperos e chás – aquelas de hortaliças são mais difíceis, porque demandam que você se transforme em um agricultor, dão muito trabalho para cuidar”, diz.

A tendência acompanha a busca por uma vida mais saudável e natural, o que pode incluir o consumo de alimentos orgânicos. Se engana quem acha que precisa de grandes espaços para o cultivo: mesmo em apartamentos, hortas em vasos podem prosperar e garantir deliciosas ervas.

Telhados verdes

Com uso crescente na construção, os telhados verdes são excelentes estratégias para a arquitetura, pois garantem um melhor aproveitamento da luz do sol e mais frescor para dentro de casa, além de maior simbiose com a natureza.

Construído em camadas, o telhado verde garante vantagens como a possibilidade de reúso da água da chuva captada, a diminuição do consumo de água potável, a redução dos alagamentos ao prover o telhado como bacia de detenção da chuva e mais qualidade de vida. Contudo, nem todas as edificações podem contar com a estratégia, daí a importância de consultar um especialista para verificar as questões referentes à resistência da laje e à impermeabilização da superfície.

Paisagismo ecológico

O paisagista Ricardo Cardim, mestre em botânica pela USP, define o paisagismo ecológico como aquele que trabalha junto à natureza original, herdada pelos seres humanos e que provê biodiversidade, água, solo e todos os recursos necessários à nossa sobrevivência com qualidade no planeta.

“Nesse tipo de paisagismo, a estética é somente um dos fatores de importância. A gente tem muitos outros pontos, como a restauração dos serviços ecológicos e ecossistêmicos, a recuperação do solo, a produção e a abundância de água”, diz.

É justamente essa linha do paisagismo que figura entre as apostas para o futuro e que põe em prática o respeito pela natureza. “O paisagismo ecológico é feito para se usar, para pisar na grama, para sentar à beira do lago, para se ter frutas, pomar e hortas. Então é um paisagismo funcional e interativo, onde as crianças sobem em árvores e brincam na floresta, que remete muito à nossa vida ancestral – quando a gente vivia em meio à natureza –, mas em harmonia com a cidade moderna construída que nós temos hoje”, diz Ricardo.

O paisagismo ecológico tem como prioridade a restauração do ecossistema, incluindo a relação entre plantas e polinizadores — Foto: Ilustrações Anália Moraes / Editora Globo
O paisagismo ecológico tem como prioridade a restauração do ecossistema, incluindo a relação entre plantas e polinizadores — Foto: Ilustrações Anália Moraes / Editora Globo

Jardins de chuva

Como outra solução para o escoamento das águas da chuva, os jardins de chuva absorvem a precipitação que flui de telhados, pátios, gramados, calçadas e ruas e drenam a água em até 48 horas. Eles permitem que 30% a mais de água penetre no solo em comparação ao gramado tradicional.

Geralmente construídos na parte inferior de um declive, esses jardins têm cerca de 30 cm de solo preparados para aumentar a infiltração da água, filtrada pela vegetação antes de seguir para o sistema de drenagem subterrânea.

Opta-se sempre pelo uso de plantas locais para os mesmos – já que elas são mais resistentes e respondem melhor às intempéries e aos parasitas –, além de espécies variadas para garantir um bom desempenho independentemente da época do ano. O projeto dispensa fertilizantes e, depois do primeiro ano, demanda pouca manutenção. Em São Paulo, a expectativa é que, até 2024, sejam entregues 400 jardins de chuva em todas as zonas da cidade.

Cultivo em água

A hidroponia – cultivo de plantas sem a necessidade do solo – oferece outra forma de plantio para quem gosta de experimentar. Dispensando o solo para o crescimento da planta, esse tipo de cultivo é bonito e didático, pois o jardineiro pode acompanhar a espécie se enraizando na água através de um vaso de vidro, por exemplo.

Para quem tem interesse no cultivo em água, é importante optar pelas espécies aquáticas que não vão sofrer no ambiente restrito da hidroponia. Além disso, deve-se garantir uma solução nutritiva para que a planta se desenvolva adequadamente – e vale trocar a água com frequência para evitar o surgimento de insetos.

A orquídea Phalaenopsis é uma espécie que pode ser cultivada em água, pois suas raízes devem estar expostas à luz — Foto: Ilustrações Anália Moraes / Editora Globo
A orquídea Phalaenopsis é uma espécie que pode ser cultivada em água, pois suas raízes devem estar expostas à luz — Foto: Ilustrações Anália Moraes / Editora Globo

Jardins terapêuticos

Nos Estados Unidos e na Europa, outro tipo de projeto em evidência é o jardim terapêutico, construído como espaço de pausa para a população em locais públicos ou em hospitais e clínicas de repouso e reabilitação. O objetivo é contribuir para a qualidade de vida e a saúde das pessoas, principalmente as enfermas.

Algumas de suas características são ruas largas para caminhadas, pisos antiderrapantes e pontos de meditação e descanso, além da mistura de plantas ornamentais, medicinais e aromáticas. Junto ao canto dos pássaros e ao fluxo da água – se houver também uma fonte no espaço –, esses jardins provocam os sentidos, estimulando uma “distração positiva”. Isso pode ajudar a liberar substâncias promotoras do bem-estar no organismo, o que é valioso para quem está em tratamento hospitalar, por exemplo.

Tecnologia amiga

Em busca de melhor eficiência e praticidade, muitos jardineiros estão apelando para a tecnologia em seus trabalhos em casa. Robôs são o futuro e, ao serem aplicados na jardinagem, evitam o uso de produtos químicos e economizam tempo do morador.

O robô Tertill, da Tertill Corporation, é um excelente amigo na hora da capinagem. Movido à energia solar, ele usa a altura das plantas para determinar o que é erva daninha e o que não é, interrompendo o crescimento das sementes de plantas indesejadas com a agitação proporcionada por suas rodas. Se alguma erva daninha tiver brotado, o Tertill a corta com o seu aparador integrado. Ela então cai no chão, murcha e se decompõe, devolvendo os nutrientes ao solo.

O futuro do paisagismo também garante espaço para as flores, que trarão cores para além do verde — Foto: Ilustrações Anália Morais / Editora Globo
O futuro do paisagismo também garante espaço para as flores, que trarão cores para além do verde — Foto: Ilustrações Anália Morais / Editora Globo

Materiais naturais

Em prol de um paisagismo mais sustentável, os profissionais também devem optar pelo uso de materiais certificados em detrimento dos de extração. Alguns exemplos de recursos a serem usados são tijolos de solo-cimento, pisos de borracha triturada, tintas ecológicas e madeiras de demolição ou reflorestamento.

Além disso, outra expectativa da arquiteta-paisagista Catê Poli é que as pessoas continuem dando preferência aos gramados em áreas externas: “Algo em que eu aposto é em não impermeabilizar tanto o solo. Eu vejo que, nas casas, as pessoas estão quebrando os pisos para fazer jardins”, diz.

Flores

Segundo a especialista em tendências da WGSN Naia Silveira, o futuro do paisagismo também garante espaço para as flores, que trarão cores para além do verde. “O uso de flores secas ou artificiais também tende a crescer muito, já que colaboram com a preservação ambiental e têm um bom custo-benefício”, diz.

Mas, para que a prática faça realmente sentido, Naia afirma ser preciso escolher outras flores além das de plástico, que poluem o meio ambiente. “Por isso, vale considerar o papel e os materiais reciclados, por exemplo”, orienta.

Retorno à simplicidade

Depois do boom do conceito urban jungle, o paisagismo parece estar querendo voltar às intervenções mínimas. Um toque de verde pode ser o suficiente, e ele pode ser feito, por exemplo, com plantas em vasos e cachepôs, espécies de fácil manutenção e arrojadas estrategicamente para complementar o ambiente onde se localizam.

Na mesma linha, jardins naturalistas de baixa manutenção já figuram entre as preferências de alguns moradores e devem se manter como tendência paisagística para um futuro próximo.

 Um Só Planeta — Foto: Editora Globo
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