No universo da previsão de tendências, é preciso identificar os propulsores de mudanças e de comportamentos de consumo para entender o reflexo que eles terão no design de produtos e de serviços. Ao olhar as oportunidades para este ano e para 2025, surgem palavras que serão chave para entender a evolução das tendências, como cuidado, comunidade, planeta, otimismo e inteligência artificial.
Viveremos um período de realinhamento e de mudanças de prioridades no dia a dia do consumidor, e o mercado precisará entender como isso impactará diretamente nas tendências do design de produtos e de interiores.
Em tese, 2024 será o ano em que aprofundaremos a nossa relação com nós mesmos e tudo o que está à nossa volta através de práticas de cuidado holísticas. Vamos além do autocuidado e pensaremos no cuidado com a nossa comunidade e o nosso planeta. Assim, inicia-se uma era de conexão, colaboração e cuidado coletivo, destacando a interdependência entre marcas, consumidores e designers.
Quando pensamos no impacto disso nos produtos, tendências como o minimalismo emocional, o foco crescente no aconchego, as hipertexturas, as cores restauradoras e a ideia de que a nossa casa é um santuário, são desdobramentos claros do tema.
Para ilustrar, o setor de iluminação verá o crescimento das luminárias terapêuticas, como a do australiano Dean Norton, que imitam a luz natural do sol, ou de sistemas de iluminação circadianos, ajustados para seguir o ritmo da iluminação natural, pensando no bem-estar (e, principalmente, no sono) dos habitantes da casa.
1. A natureza chama
Outra macrotendência – tendência de alto impacto com um ciclo de vida de 5 a 20 anos – em destaque é a visão de sustentabilidade e regeneração dos nossos ecossistemas à medida que ampliamos o nosso conceito de autocuidado.
Em 2024, vamos confrontar a realidade de que o planeta está em xeque, pois já estamos vivendo muitas consequências da crise climática, e assim, em 2025, passaremos a tratar a natureza como um membro primordial do conselho de decisores dos negócios.
Nas últimas edições das principais feiras de design, houve diversos modos de grande destaque para essa visão: desde compromissos de ESG estampados nos estandes até inovações em materiais, como produtos impressos em 3D ou feitos a partir de resíduos industriais na edição de setembro da Maison & Objet de 2023, a exemplo o da marca especializada no reaproveitamento de resíduos alimentares, Ostrea, usando cascas de mexilhões, ostras e vieiras.
2. Meu, seu, nosso...
Ainda a partir dessa visão de cuidado, em 2024, também veremos o ápice de um conceito que vem mudando o mercado há alguns anos: a ideia de que a casa serve para todos os seres que nela habitam. É a partir disso que surgem os designs multi-espécie e multigeracional, seja em produtos específicos, seja na organização da casa como um todo. Flexibilização, multifuncionalidade e adaptabilidade são noções elementares para acionar bem essa tendência.
A estruturação da casa e o desenvolvimento de produto devem suprir as necessidades dos moradores boomers (geração nascida entre 1945 e 1960) aos alfas (geração nascida entre 2010 e 2025), passando também pelos pets e pelas plantas.
Desse modo, o mobiliário para mais de uma espécie – como a mesa de canto, que também serve de cama e bebedouro para cachorros do designer Ben Hansen, e o vaso de plantas com esconderijo para gatos do estúdio Bas van der Veer –, tende a crescer, assim como as adaptações para uma diversidade de necessidades dentro do mesmo espaço, com incrementos para a acessibilidade ou a privacidade às diferentes gerações.
Como desdobramento do aumento da expectativa de vida, dos lares multigeracionais e de um olhar mais cuidadoso para os diferentes tipos de necessidades humanas, observaremos o crescimento da demanda de produtos inclusivos e personalizados (que, em 2025, tornarão-se ainda mais individualizados), o que a WGSN chama democrasized.
É crescente a percepção de que uma única solução não necessariamente serve para todos os consumidores, por isso, o conceito do right-sizing cresce, já que, com a ajuda de big data, ele prevê a diminuição da oferta para algo mais eficiente, com designs mais bem informados, que diminuem o desperdício e o estoque morto.
Aliada a essa prática da indústria, os consumidores estarão mais propensos a focar no que é essencial e a se livrarem de excessos – por motivos econômicos ou de sustentabilidade –, resultando em um design progressivamente mais democrático, servindo um espectro amplo de perspectivas, tamanhos, necessidades e culturas.
Um bom exemplo dessa abordagem é a coleção de tapeçarias do estúdio Kukka, intitulada Chromarama, idealizada para levar a experiência de cor para todos, inclusive àqueles com algum nível de daltonismo.
3. Conexão e afeto
À medida que o conceito de se viver em meio a várias crises se solidifica – as chamadas policrise e permacrise –, outra evolução para 2025 será a nossa urgência por pequenas doses de otimismo no dia a dia.
Desse modo, mesmo as peças mais funcionais receberão atualizações para que o consumidor desfrute de tempos de respiro e felicidade, “as microalegrias”, um tópico necessário com padrões de compra cada vez mais emocionais.
Adicionamos então um toque de exuberância a produtos massificados, como faz a marca sueca Chef Déco, ao atualizar o design de equipamentos de treino. Nessa tendência, propósito e ativismo serão importantes para se conectar ao consumidor.
4. Todas as formas de inteligência
Outro ponto crucial nos próximos anos será a inteligência artificial generativa e seu impacto na criatividade humana. A capacidade de a IA oferecer resultados criativos será uma das responsáveis pela mudança de mentalidade que ocorrerá a partir de 2025, quando veremos a imaginação estratégica ser o principal propulsor de criação de valor – e, consequentemente, da inovação de produtos.
Desde questões de eficiência a estéticas, a IA impacta as criações e atualiza as tendências focadas na tecnologia – em que vemos uma cartela digital crescer e o surrealismo voltando como direcionamento estético –, além de abrir um leque maior de possibilidades para a indústria explorar, associada a ferramentas de realidade virtual e realidade aumentada.
Outra tendência conectada à tecnologia diz respeito à relação entre o mundo físico e o digital e a como não há mais uma divisão clara entre as vivências nos dois espaços. Em 2025, ambos os universos vão coexistir de maneira entrelaçada.
Designers desafiarão o que é “real” ao brincar com estéticas digitais em objetos físicos ou até mesmo sincronizar experiências nos dois ambientes, usando a tecnologia como uma camada adicional para o design de produto e a comunicação de marca.
Os acessórios de iluminação da Nanoleaf podem ser sincronizados com videogames e respondem a ações que o usuário toma no universo on-line, ao mesmo tempo que cria luz ambiente simulada a partir das paletas de cores dos jogos.
O futuro nos reserva oportunidades de crescimento em diversas áreas, que conversam com o lado emocional do consumidor ou focam na animação proposta por novas ferramentas e tecnologias. A WGSN mapeia e detalha cada direcionamento em que as macrotendências se encaixam para não perder a oportunidade de se conectar com o consumidor.