Design

Por Ana Sachs

Paulo Alves é formado em Arquitetura pela Universidade de São Paulo, USP, de São Carlos (SP) e acumula quase 30 anos de carreira. Sua primeira criação foi uma luminária feita de um ralador de milho, em 1994. “Ela recebeu uma menção no prêmio do Museu da Casa Brasileira. Foi quando comecei a me sentir designer”, relembra.

Ainda recém-formado, trabalhou no escritório de Lina Bo Bardi, arquiteta que exerceu forte influência em seu desenho. “Ela misturava o erudito com a cultura popular, o que me fez perceber que não precisava abandonar as minhas raízes”, conta Paulo, nascido em Jardinópolis, no interior de São Paulo.

Sua passagem pela Marcenaria Baraúna, na sequência, marcou os traços com linhas e ângulos retos que ele carrega até hoje. Foi onde começou a desenvolver a sua paixão pelo manejo artesanal da madeira e a ter contato com os designers modernos brasileiros.

Atualmente, comanda um estúdio que leva seu nome, com endereço no Centro de São Paulo, e lidera um movimento de retomada desta região da capital paulista, abandonada nas últimas décadas pela população e pelo poder público.

O arquiteto e designer Paulo Alves trabalhou no escritório de Lina Bo Bardi — Foto: Gui Gomes / Editora Globo
O arquiteto e designer Paulo Alves trabalhou no escritório de Lina Bo Bardi — Foto: Gui Gomes / Editora Globo

Paulo também está à frente de iniciativas que envolvem o manejo sustentável da madeira e a divulgação da imensa variedade de espécies do material que se tem no Brasil. “Para mim, a madeira é a nossa matéria-prima por excelência”, destaca. A seguir, confira uma entrevista completa com o designer:

Como você avalia a evolução de seu trabalho em quase 30 anos de carreira?
As peças mais retas vieram naturalmente, já que venho de uma formação em Arquitetura na USP de São Carlos, que é dentro da escola de Engenharia e mais ligada à construção. Depois, passei um bom tempo na Marcenaria Baraúna, que também se volta às linhas retas. As formas mais livres e orgânicas só vieram em 2004, quando montei a Marcenaria São Paulo, hoje chamada Estúdio Paulo Alves.

Como a experiência no escritório de Lina Bo Bardi influenciou seu trabalho?
Quando eu era estudante, ficava maravilhado com as palestras do Marcelo Suzuki, que era um dos três mosqueteiros da Lina. Coloquei na cabeça que queria conhecê-la ao vivo e trabalhar em seu escritório. Fui para São Paulo com a cara e a coragem e consegui trabalhar nos últimos seis meses da obra do Palácio das Indústrias, no Parque Dom Pedro, que ela estava reformando para ser a sede da Prefeitura. Quando ela faleceu, fui convidado para trabalhar na Casa de Vidro e participar da organização de seu acervo. Esse contato com o trabalho de Lina, que misturava o erudito com o popular, me cativou muito, porque eu venho do interior e de uma família simples. Isso me fez perceber que eu não precisava abandonar as minhas raízes.

Como a sustentabilidade se insere no estúdio?
As duas vertentes principais do meu trabalho são a sustentabilidade e a conexão do erudito com o popular. Trabalho com madeiras certificadas de manejo sustentável, que é uma forma de gerar renda para quem mora na floresta e preservar a vegetação. Desde 2018, alguns dos meus produtos são fabricados por uma cooperativa de ribeirinhos da Floresta Nacional do Tapajós, no Pará. Eles fazem as peças usando madeiras que seriam descartadas.

Por que a madeira como material principal?
No Brasil, nós temos a maior diversidade de madeiras do planeta. São, no mínimo, 8 mil tipos, mas há quem acredite que chegue a 15 mil. Para mim, essa é a nossa matéria-prima por excelência, além de ser sustentável. Mas as pessoas ainda têm muito preconceito com o material por acharem que vão destruir a floresta ou por acreditarem que não dure muito, que não pode ser molhado.

Como é o seu processo criativo?
Eu desenho à mão, estou sempre com o meu caderninho e fazendo croquis. Sou muito da intuição, da liberdade. Eu acho que essa coisa de um processo criativo sistematizado é o que a inteligência artificial vai fazer. O designer que trabalha dessa forma vai perder o emprego para o computador. Como Sergio Rodrigues dizia: o móvel tem que ter alma. É colocar a sua história em cada criação. Por isso, gosto das peças artesanais, feitas à mão.

Ícones da Carreira de Paulo Alves — Foto: Divulgação
Ícones da Carreira de Paulo Alves — Foto: Divulgação

O que te inspira em suas criações?
Tudo, mas a arquitetura e a natureza são as principais. Um profissional importantíssimo nesta área é o Maurício Azeredo, de Goiânia, que me inspirou a mostrar que a madeira não é só marrom e a revelar a diversidade do material. A arte também me inspira, em especial a concreta, que parece dura na forma, mas te toca de um jeito que emociona.

Você busca novas técnicas de manusear a madeira ou prefere técnicas antigas?
Eu não tenho nada contra a evolução da tecnologia, mas acredito cada vez mais em técnicas artesanais e tradicionais. Se a pessoa ficar só apertando um botão, sem nem tocar no material, não consigo ver que a peça tem alma.

O que define um bom design em sua opinião?
O vínculo afetivo que um objeto pode provocar nas pessoas. No caso do design, ele é a chave para a longevidade da peça, pois quem ama cuida. Isso também é sustentabilidade, o principal ingrediente que procuro colocar no meu design. É importante olhar para o nosso quintal e ver o que temos. É usar da floresta aquilo que ela te oferece, e não o que você quer tirar. No Brasil, não vejo sentido usar outro material que não seja a madeira. E, ainda, o desenho único, que só você pode fazer, porque essa jornada é sua.

Já pensou em trabalhar com outros materiais?
Tenho vontade de criar com barro e trabalhar com tecidos. Esses últimos acho interessantes porque envolvem a questão da indústria da moda, que é a que mais polui no mundo. Penso em usar resíduos ou tecidos sustentáveis.

O que o motivou a mudar o estúdio para o Centro de São Paulo?
Em 2020 fui morar na avenida São Luís e comecei a vislumbrar levar a loja para o Centro, região em que já morei e sempre frequentei. Há uma arquitetura incrível nessa parte da cidade, com monumentos da modernidade, mas está abandonada. E nós é que temos de mudar essa realidade. Vários designers me disseram que fui o responsável por se mudarem para o Centro. Tivemos a maior visitação da DW! São Paulo Design Weekend em março deste ano, com 10 mil pessoas. Trouxemos a Feira na Rosenbaum para a região. As pessoas estão se encorajando e retomando a cidade.

O que ainda deseja realizar no design?
Não é bem no design, mas eu gostaria de transferir a minha marcenaria para um sítio e ter um espaço onde pudesse morar, expor os móveis, fazer cursos e levar pessoas para trocar experiências. Algo que, no futuro, pudesse virar um instituto. Eu já pensei em fazer isso até na Amazônia, mas ainda não consegui ter esse desprendimento.

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