Tendências do Morar

Por Liliah Angelini

Especialista do WGSN, empresa de tendências que possui o portal Interiors, focado em no Design de Interiores

A pandemia gerou a migração em massa das atividades para o lar, e os novos desafios que já vêm sendo observados continuarão mantendo muitas dessas atividades no espaço doméstico até 2025 — custo de vida mais alto, mercados enfrentando potencial recessão e aquecimento global, por exemplo, farão com que as pessoas esperem mais ainda de suas casas nos próximos anos.

No novo estudo “Lar e Lifestyles 2025”, que a WGSN compartilha em primeira mão com vocês, leitores de Casa e Jardim, apresentamos os macrocomportamentos que vão resultar em novos lifestyles e impactarão a indústria do morar.

Viver com intenção, trabalhar dinamicamente, compartilhar experiências imersivas e descansar de forma restauradora são movimentos que moldarão o desenvolvimento de produtos nos próximos anos a fim de atender a um novo consumidor.

Estamos entrando em uma era de viver intencionalmente, em que as decisões e ações do consumidor passam a ser feitas com maior senso de propósito. Frente a isso, as marcas precisarão ser claras sobre seu compromisso com as pessoas e o planeta, focando em deixá-lo melhor do que o encontraram — produtos que resolvam problemas serão essenciais, seja por meio de design acessível e de maior durabilidade, seja por itens que, por serem mais engenhosos, entreguem autoconfiança em um mundo imprevisível.

A casa resiliente em energia é uma grande oportunidade para o futuro, com produtos como kits DIY de energia, ventiladores eficientes em energia, vestuário com tecnologia de controle climático, ou seja, inovações-chave.

Projeto do escritório Urbanode Arquitetura, tem muitas plantas no home office. Entre as espécies estão ficus lyrata, samambaias, bambu da sorte, monstera, jiboia, pau d'água e pata de elefante — Foto: Marcelo Donadussi / Divulgação
Projeto do escritório Urbanode Arquitetura, tem muitas plantas no home office. Entre as espécies estão ficus lyrata, samambaias, bambu da sorte, monstera, jiboia, pau d'água e pata de elefante — Foto: Marcelo Donadussi / Divulgação

O trabalhar de modo dinâmico vai continuar fortemente impulsionando a criatividade da indústria de interiores e hospitalidade, fazendo com que os espaços de trabalho, em casa, ou no “anywhere office”, sejam constantemente atualizados. Produtos e serviços funcionais se estenderão para atender às necessidades de um estilo de vida multitarefa.

A nível estético, veremos esses espaços acompanhando a tendência do conforto, abraçando curvas envolventes, superfícies táteis, cores e materiais macios e respiráveis já explorados em outras categorias. Cortinas de parede para zoneamento de espaços, papéis de parede de toque suave, tapeçarias e capas para mobiliários rígidos que proporcionem uma camada extra de conforto e prolonguem a vida útil do móvel ganham o status de escritório também.

Com 79% dos consumidores acreditando que o bem-estar é importante e ainda 42% considerando-o uma prioridade em suas vidas, as marcas de todos os segmentos estão na frente de uma grande oportunidade, de contribuir para a criação de um refúgio para a cura, voltado a um tempo de inatividade mais profundo e restaurativo — agora é a hora de priorizar produtos e serviços que apoiarão as pessoas na busca pelo descanso.

No banheiro projetado pelo arquiteto Nildo José, o jardim vertical confere maior relaxamento para a área de banho — Foto: Evelyn Muller / Divulgação
No banheiro projetado pelo arquiteto Nildo José, o jardim vertical confere maior relaxamento para a área de banho — Foto: Evelyn Muller / Divulgação

Para as marcas de interiores, surfar nas tendências #BathScaping e banhos ao ar livre pode ser uma inspiração — já que o banheiro será novamente protagonista, tanto nos espaços residenciais quanto nos de hospitalidade.

Produtos como banheiras para imersão profunda, luzes que podem ser instaladas embaixo d’água, alto-falantes à prova d’água, chuveiros experienciais com materiais calmantes e naturais — e mesmo outras inovações como sabonetes esculturais e cosméticos com infusão de CBD — poderão ser direcionados para marcas de diversos segmentos.

Temos acompanhado o surgimento de produtos e experiências que apelam aos sentidos e nos próximos anos veremos isso se desenvolver de modos mais surpreendentes e personalizados. Inovações como robôs difusores de aromas, saunas de cromoterapia residenciais e produtos de banho ASMR estarão no radar do consumidor que vai investir em mais autocuidado no lar.

À medida que avançamos para um período global de incertezas econômicas, o gasto do consumidor com itens não essenciais será ressignificado. Durante a pandemia, as pessoas incorporaram o entretenimento dentro dos lares, e isso continuará relevante diante do aumento do custo de vida. Por isso, será imperativo criar produtos e serviços que tornem mais acessível a celebração, a socialização e o entretenimento em casa e nos espaços outdoor, de forma imersiva e envolvente.

Projeto da designer de interiores Roberta Devisate tem área gourmet com vista para o mar de Niterói, no Rio de Janeiro — Foto: Juliano Colodeti / MCA Estúdio / Divulgação | Produção: Simone Raitzik
Projeto da designer de interiores Roberta Devisate tem área gourmet com vista para o mar de Niterói, no Rio de Janeiro — Foto: Juliano Colodeti / MCA Estúdio / Divulgação | Produção: Simone Raitzik

Consumidores vão continuar focando em tornar seus espaços externos mais experimentais e funcionais durante o ano todo, promovendo a mentalidade de que “qualquer coisa que pode ser feita dentro de casa, pode ser feita ao ar livre”, desde cozinhar até tomar banho. Projetos de construção, como cozinhas externas, galpões de armazenamento independentes e escritórios no jardim serão apostas, considerando gastos mais altos.

O mais essencial de tudo é que o futuro começa hoje: os próximos três anos oferecem desafios, mas também um cenário único para inovar. Momentos de mudanças e de incertezas podem ser os melhores para o despertar da criatividade e do design, oportunidade para refinar produtos antigos, criar novos e expandir mercados, de olho no modo de vida e nas exigências do consumidor.

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