Nicole Gomes

Por Nicole Gomes

Colunista | Arquiteta especialista em iluminação residencial e corporativa

É como disse Oscar Niemeyer: “Uma boa iluminação levanta uma arquitetura medíocre, e uma iluminação ruim acaba com o melhor dos projetos.” A frase só reforça aquilo que já sabemos e defendemos nessa coluna: a importância de um bom projeto de iluminação.

Infelizmente, a maioria das universidades e dos cursos voltados para a área de arquitetura e design de interiores não tem em sua grade curricular matérias que envolvam iluminação. Quando possui, é algo superficial, que contempla, em sua maioria, a parte elétrica, ao invés de conceito, efeitos de luz, lâmpadas e luminárias.

De um tempo para cá, comecei a entender que este é o motivo pelo qual existe em nosso meio inúmeros estereótipos sobre o assunto. Um mito se torna verdade quando é passado de geração para geração.

Para ilustrar o que estou falando, vou compartilhar uma história real de um projeto que fiz quando iniciei na arquitetura: o apartamento em si era deslumbrante e projetado para um casal jovem, que usava o espaço para descanso e curtir com família e amigos.

Não pensei duas vezes e fui distribuindo pontos de luz por todo o projeto. No entanto, ao invés de trazer conforto, transformei o teto em um céu estrelado. O que deveria ser um refúgio acolhedor, tornou-se um exemplo de como a iluminação pode influenciar dramaticamente a percepção de um espaço.

Quero que você entenda que uma boa iluminação começa em compreender os erros. Digo isso por experiência própria – errei muito antes de acertar. Só foi quando sai da zona de conforto e me aprofundei no mundo da iluminação, que tudo mudou. Por isso, não tenha medo da luz, ela não é o bicho de sete cabeças como as pessoas pensam, nem somente a distribuição de pontos. Ela é conceito, destaque, sombras, criação de atmosfera, saúde e bem-estar.

Abaixo, listei alguns erros e mitos que podem ser mudados hoje mesmo!

1. Criar projeto de iluminação sem conceito

Iluminação não deve ser pensada isoladamente do projeto de interiores. É preciso definir onde queremos iluminar antes de escolher a luminária e a lâmpada para evitar desperdício e escolhas inadequadas. Projeto Estudio Flou — Foto: Rafael Renzo / Divulgação
Iluminação não deve ser pensada isoladamente do projeto de interiores. É preciso definir onde queremos iluminar antes de escolher a luminária e a lâmpada para evitar desperdício e escolhas inadequadas. Projeto Estudio Flou — Foto: Rafael Renzo / Divulgação

Pensar na iluminação de forma isolada do projeto de interiores é o maior erro que podemos cometer. O resultado disso? Um espaço onde a luz parece aleatória e desconexa, sem contribuir para uma experiência e expansão do espaço.

Sem contar que escolher luminárias sem um propósito definido pode resultar em desperdício, tanto em termos de energia quanto de investimento financeiro. A ausência de um projeto luminotécnico bem-feito leva a escolhas inadequadas.

É por isso que eu sempre falo que antes de escolher a luminária e lâmpada, é preciso definir onde queremos iluminar. Por exemplo: se o morador gosta de quadros e obras de arte, é necessário ter luz para destacá-los, ou, quem sabe, se ele gosta de ter um momento relaxante com a família, a iluminação indireta é ótima para isso.

Ao reconhecer a importância do conceito na iluminação, você transforma a luz de uma mera funcionalidade para um elemento essencial no design de interiores. Abrace a oportunidade de criar espaços envolventes, conforme o projeto de interiores, e visualmente impactantes através de um conceito bem elaborado.

2. Ignorar a temperatura de cor

O uso de diferentes temperaturas de cor pode distorcer a percepção das tonalidades e gerar desordem. É recomendado usar lâmpadas e fitas de LED com a mesma nuance, para haver uniformidade na cor. Projeto Estudio Flou — Foto: Rafael Renzo / Divulgação
O uso de diferentes temperaturas de cor pode distorcer a percepção das tonalidades e gerar desordem. É recomendado usar lâmpadas e fitas de LED com a mesma nuance, para haver uniformidade na cor. Projeto Estudio Flou — Foto: Rafael Renzo / Divulgação

Imagine um espaço onde diferentes fontes de luz competem entre si, cada uma emitindo uma temperatura de cor diferente. O resultado é um ambiente onde a percepção das cores é distorcida, delimita espaço e a sensação geral é de pura desordem.

A temperatura de cor desempenha um papel crucial na criação de uma atmosfera do espaço. Ignorar essa realidade pode comprometer a intenção do design e a sensação que se deseja transmitir. Minha sugestão é que, independente da temperatura de cor que usará, escolha lâmpadas e fitas de LED com a mesma tonalidade e, em caso de manutenção, respeite a escolha para não dar diferença de cor

3. Não pensar na função de casa ambiente

A iluminação deve ser escolhida segundo as necessidades específicas de cada ambiente e de seus usuários. É importante analisar as atividades que serão realizadas em cada espaço antes de escolher as fontes de luz, para que a iluminação atenda às necessidades específicas. Projeto MR18 — Foto: Mariana Orsi / Divulgação
A iluminação deve ser escolhida segundo as necessidades específicas de cada ambiente e de seus usuários. É importante analisar as atividades que serão realizadas em cada espaço antes de escolher as fontes de luz, para que a iluminação atenda às necessidades específicas. Projeto MR18 — Foto: Mariana Orsi / Divulgação

Um erro comum, que pode comprometer todo o projeto, é não considerar adequadamente a função de cada ambiente. Imaginem uma casa onde a iluminação de uma cozinha, que precisa ser funcional e direta, é replicada em um espaço de relaxamento, como a sala de estar. O resultado é um ambiente desconfortável, onde a iluminação não atende às necessidades específicas de cada área.

A minha dica é: antes de escolher as fontes de luz, analise as atividades que serão realizadas em cada espaço. Considere as necessidades específicas dos usuários do espaço, por exemplo, um casal de idosos precisa de um maior fluxo luminoso do que um jovem.

Você precisa entender que iluminação não é uma receita de bolo! Explore soluções personalizadas para atender às necessidades únicas de cada ambiente, combinando diferentes tipos de luminária, atividades e intensidades de luz.

4. Usar apenas um efeito de luz

Um projeto de arquitetura ou design de interiores não deve usar o mesmo efeito de luz em todo o espaço, pois isso pode deixar o ambiente sem graça. É importante reconhecer as áreas importantes do projeto e destacá-las com diferentes intensidades luminosas. Projeto AMFB — Foto: Evelyn Müller / Divulgação
Um projeto de arquitetura ou design de interiores não deve usar o mesmo efeito de luz em todo o espaço, pois isso pode deixar o ambiente sem graça. É importante reconhecer as áreas importantes do projeto e destacá-las com diferentes intensidades luminosas. Projeto AMFB — Foto: Evelyn Müller / Divulgação

Imagine se um chef de cozinha utilizasse apenas um tempero para todos as suas receitas. Provavelmente a comida ficaria sem graça, não acha? Agora imagina um arquiteto ou designer de interiores usando o mesmo efeito de luz em todo o projeto. Esse é um erro que precisa ser corrigido.

Lembro que, antigamente, eram aplicadas apenas placas de LED para fazer a luz geral ao espaço, sem realçar os pontos fortes do projeto. Apesar de iluminado, os ambientes carecem de nuances e destaque em áreas específicas. É importante reconhecer as áreas importantes, que merecem destaque no projeto, como locais de trabalho, peças decorativas, ou cantos específicos.

A melhor forma de não errar é usar a técnica de camadas, onde você combina luzes diretas, indiretas e de destaque, sem contar em diferentes intensidades luminosas. Dessa maneira, você conseguirá adquirir um projeto mais rico e elegante.

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