Nicole Gomes

Por Nicole Gomes

Colunista | Arquiteta especialista em iluminação residencial e corporativa

Dezembro e janeiro sempre carregam memórias afetivas e nostálgicas. Lembro das reuniões de família que tínhamos quando era pequena, da mesa posta, dos momentos que compartilhávamos em casa e de cada detalhe do nosso lar – desde os móveis à iluminação. Uma vez li que essa época do ano não traz somente saudades, mas nos convida a reviver memórias felizes e tradições compartilhadas.

É engraçado como esses detalhes nos marcam a ponto de, muitas vezes, desejarmos reproduzir e reviver essas memórias, principalmente, em nossas casas. Atualmente, consigo entender que a interação entre iluminação e a psicologia reflete a influência que o ambiente luminoso pode exercer sobre nossas experiências e memórias afetivas: a luz suave de um entardecer, o pôr do sol daquela viagem, a iluminação calorosa de uma festa de família ou a luz natural de uma manhã ensolarada.

A maneira como um espaço é iluminado não forma apenas a nossa percepção visual, mas também desempenha um papel crucial em nosso estado emocional e na formação de lembranças significativas.

Quem não lembra daquela arandela do corredor na casa da avó, do abajur ao lado da cama ou quem sabe daquela iluminação geral âmbar. Isso porque os lugares iluminados de maneira específica se tornam marcadores emocionais, deixando uma impressão duradoura em nossa mente.

Ambientes bem iluminados tendem a ser associados a experiências positivas, enquanto iluminação inadequada pode criar atmosferas melancólicas ou até mesmo desagradáveis. Projeto do Estúdio Minke — Foto: Maura Mello / Divulgação
Ambientes bem iluminados tendem a ser associados a experiências positivas, enquanto iluminação inadequada pode criar atmosferas melancólicas ou até mesmo desagradáveis. Projeto do Estúdio Minke — Foto: Maura Mello / Divulgação

A luz não é responsável apenas por iluminar, mas também por trazer saúde e bem-estar. A exposição à luz influencia a produção de melatonina, hormônio relacionado ao sono, e regula nosso relógio biológico. Essas respostas fisiológicas têm implicações diretas na forma como processamos e armazenamos informações em nossa memória.

A escolha consciente ou inconsciente da iluminação pode influenciar significativamente a intensidade e a natureza das memórias que criamos. É por isso que eu insisto em falar sobre a temperatura de cor e o quanto ela impacta nossa vivência ou como enxergamos as coisas.

Existe um estudo de psicologia da cor dentro da iluminação que indica que a temperatura de cor pode modular o ambiente emocional de um espaço. Por exemplo, tons quentes, como amarelo e laranja, tendem a trazer uma sensação de ambiente mais aconchegante, remetendo a felicidade e ao otimismo, enquanto tons frios, como azul, podem nos remeter à impessoalidade e ao serviço.

É claro que um projeto luminotécnico deve refletir a sua personalidade, afinal, não é somente de temperatura de cor que vive o mundo da iluminação, mas também de luminosidade, saturação, efeito de luz, IRC, uso do espaço e até mesmo design das luminárias. A mistura de todos esses fatores devem refletir a personalidade, o estilo de vida e a memória afetiva de quem vive no local.

Algumas vezes o cliente não sabe verbalizar o que gosta, quando o assunto é iluminação. Por isso é tão importante ter uma conversa aberta sobre os gostos pessoais e estilo de vida. Dessa forma, você conseguirá traduzir isso para o projeto de iluminação. Projeto do escritório Gava Arquitetura — Foto: Denilson Machado, do MCA Estúdio / Divulgação
Algumas vezes o cliente não sabe verbalizar o que gosta, quando o assunto é iluminação. Por isso é tão importante ter uma conversa aberta sobre os gostos pessoais e estilo de vida. Dessa forma, você conseguirá traduzir isso para o projeto de iluminação. Projeto do escritório Gava Arquitetura — Foto: Denilson Machado, do MCA Estúdio / Divulgação

Abaixo, apresento três passos que aplico em projetos para ter uma luz que desperte esses sentidos e memórias. Confira!

Tenha uma conversa aberta sobre gostos e expectativas

Criar uma iluminação que remeta as memórias afetivas vai além de escolher lâmpadas ou luminárias. Na verdade, ela deve ser uma expressão física de nossos gostos, personalidade e vivência. É por isso que você deve ter uma conversa aberta sobre gostos, estilo de vida, restaurantes preferidos, viagens feitas e sonhos. Essa troca de informações não é apenas sobre estética, mas, sim, sobre criar um ambiente no nível emocional profundo.

Referências são importantes

Apresentar referências dos gostos e das inspirações de iluminação é um passo para idealizar um ambiente que, verdadeiramente, ressoe com a personalidade do morador. Essas referências podem ser de experiências vividas, lugares visitados ou mesmo de imagens que remetam a emoções específicas. Além disso, apresentar referências cria um canal de comunicação assertivo entre o cliente e o profissional responsável pelo projeto.

Estudo sobre iluminação e tendências

Estudar sobre iluminação e acompanhar as tendências deste mundo é fundamental para os profissionais e para aqueles que buscam criar espaços que vão além da simples funcionalidade, agregando valor estético e emocional.

De todas as sugestões, está seria a mais importante de todas: estudar. Afinal, somente estudando e pesquisando sobre o assunto, você conseguirá sanar as suas principais dúvidas e ampliar a sua criatividade — Foto: Mariana Orsi / Divulgação
De todas as sugestões, está seria a mais importante de todas: estudar. Afinal, somente estudando e pesquisando sobre o assunto, você conseguirá sanar as suas principais dúvidas e ampliar a sua criatividade — Foto: Mariana Orsi / Divulgação

A compreensão de novas fontes de luz, tecnologias e materiais ajuda na criação de experiências cada vez mais personalizadas. Afinal, esses avanços refletem mudanças culturais, sociais e tecnológicas do mundo que estamos inseridos. Sem contar que se atualizar sobre a iluminação possibilita ter uma abordagem mais consciente, trazendo as memórias afetivas à tona.

Para finalizar, a iluminação não deve ser pensada apenas de forma estética ou funcional, mas como uma ferramenta poderosa, que molda nossas experiências e memórias. Ao compreender como a luz influencia nossa psicologia, podemos criar espaços que não apenas iluminam visualmente, mas também ressoam emocionalmente.

Essa interação sutil entre luz e psicologia destaca a importância de considerar a iluminação de maneira completa, reconhecendo seu impacto profundo em nossa vida cotidiana e na construção de narrativas emocionais que carregamos ao longo do tempo.

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