Luiz Sobral Fernandes

Por Luiz Sobral Fernandes

Colunista | Arquiteto sócio da Meridional Arquitetura, escritório que atua em projetos de diferentes escalas e Doutorando pela ETSAB/UPC Barcelona, na Espanha

Muitos arquitetos mantêm vínculo com o ensino de arquitetura e formam jovens profissionais que levam seus ensinamentos adiante. É o caso do arquiteto Eduardo de Almeida que, em paralelo ao trabalho realizado em seu escritório, foi, entre 1967 e 1998, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Respeitado entre colegas, formou uma geração de novos profissionais e desenvolveu projetos de diversas escalas, que se espalham por todo o Brasil.

Nascido na cidade de São Paulo em 1933 e tendo estudado na Faculdade de Arquitetura na USP na segunda metade dos anos 1950, finalizou o curso de graduação em 1960. A instituição, neste momento ainda localizada em Higienópolis, contava com professores da Escola Politécnica e com muitos engenheiros-arquitetos formados pela Poli ou pelo Mackenzie.

Era uma época onde Brasília estava sendo inaugurada e a arquitetura feita no Rio de Janeiro alcançava um reconhecimento internacional, principalmente através dos trabalhos de Oscar Niemeyer. Pampulha e outros projetos haviam sido um sucesso, ainda nos anos 1940, e o arquiteto havia se tornado um personagem mundialmente conhecido.

Neste cenário, São Paulo ainda ocupava uma posição muito secundária na arquitetura desenvolvida no país, uma situação que veio a se alterar gradativamente ao longo das décadas seguintes, com muitos profissionais que foram ganhando reconhecimento nacional e internacional.

Escritório em sociedade com Arnaldo Martino na rua Chilon, Itaim Bibi, São Paulo — Foto: Helio Piñon / arquivoeduardodealmeida.com.br / Reprodução
Escritório em sociedade com Arnaldo Martino na rua Chilon, Itaim Bibi, São Paulo — Foto: Helio Piñon / arquivoeduardodealmeida.com.br / Reprodução

Eduardo de Almeida, que inicia seu percurso profissional a partir dos anos 1960, termina fazendo parte de um segundo capítulo da arquitetura brasileira – um momento onde outras localidades, para além do Rio de Janeiro, faziam boa arquitetura.

Esta arquitetura se nutria, na maior parte das vezes, por uma estética brutalista do pós-guerra, onde elementos construtivos eram valorizados e nunca expostos. A partir deste período é que surgem muitos edifícios de concreto armado aparente, tão comuns em cidades brasileiras.

No entanto, Eduardo de Almeida constituí, ao longo dos anos, uma arquitetura com rigor técnico e construtivo que avança as referências iniciais de sua carreira profissional. Termina, portanto, fazendo uma obra única e com muita personalidade. É o caso do projeto que realiza para a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, feita em conjunto com o arquiteto Rodrigo Loeb e localizada no campus Butantã da USP, ou os edifícios Gemini I e II, construído nos anos 1970 no bairro paulistano de Moema.

A experiência com outras técnicas construtivas que não sejam o concreto armado são, no caso de Eduardo de Almeida, muito bem sucedidos – o arquiteto realiza, a partir dos anos 1980, por exemplo, edifícios e casas de estrutura metálica que são verdadeiras aulas de arquitetura.

Atualmente, parece mais evidente que, ainda que exista, a partir da segunda metade do século 20, uma parcela significativa de profissionais interessados em estruturas feitas de concreto, outras experiências de projeto foram feitas ao longo destes anos – e Eduardo de Almeida é um destes personagens. Ao longo de muitas décadas de escritório desenvolveu um repertório difícil de encaixar dentro de alguma escola ou linha de pensamento

Injustamente menos conhecido pelo público em geral do que alguns de seus contemporâneos, é personagem querido entre os arquitetos brasileiros e, principalmente, entre os paulistas. Uma indicação importante para aqueles que desejam conhecer melhor o trabalho de Eduardo de Almeida é a recente publicação Eduardo de Almeida: arquiteto.

Casa no Butantã, São Paulo, é projeto residencial de Eduardo de Almeida — Foto: Nelson Kon / Divulgação
Casa no Butantã, São Paulo, é projeto residencial de Eduardo de Almeida — Foto: Nelson Kon / Divulgação

Publicado pela BEĨ Editora e com autoria dos arquitetos Alessandra Figueiredo, Helena Ayoub e César Shundi Iwamizu, a publicação, lançada no final de setembro deste ano, retoma a trajetória deste arquiteto que, ainda que pouco conhecido pelo público, foi figura central na formação de muitos estudantes e é referência profissional para muitos outros arquitetos.

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