Raças

Por Por Carina Gonçalves e Yara Guerra Com Júlia Martinez


O gato-bravo-de-patas-negras é selvagem e não deve ser domesticado — Foto: ( Pexels/ Skyler Ewing/ CreativeCommons)
O gato-bravo-de-patas-negras é selvagem e não deve ser domesticado — Foto: ( Pexels/ Skyler Ewing/ CreativeCommons)

Se você é tuiteiro, provavelmente viu, nos últimos dias, a publicação do biólogo André Aroeira passar pela sua timeline. No tweet, André fazia uma brincadeira com o comportamento do gato-bravo-de-patas-negras (felis nigripes), que é conhecido também como "felino mais mortífero do mundo". O texto era seguido por duas fotos da criatura, que, ironicamente, apresentavam um animal ainda menor que um gato doméstico.

Pois é. Quando se imagina um felino selvagem vem a mente um leão, leopardo ou tigre, mas as aparências enganam. A espécie mostrada pelo biólogo é considerada o gato mais letal de todos, pois atinge o seu alvo em 60% das vezes, de acordo com cientista na série Big Cats da BBC.

“Felis nigripes é o nome de uma espécie de felídeo selvagem africana, e não de uma raça”, explica o professor e coordenador Frederico Vaz, do curso de Medicina Veterinária da Faculdade Anhanguera de São Bernardo do Campo.

Nativo da África, o felino é o menor gato do continente, medindo um comprimento de 35 a 52 cm. Segundo o médico-veterinário José Mouriño, que atua com clínica de animais silvestres, a espécie também é considerada uma das menores do mundo.

"Estes gatos pesam, em média, 2 kg. As fêmeas são menores e pesam cerca de 1,5 kg, mas há fêmeas que pesam até 1,3 kg. Para se ter uma ideia, o furão-doméstico tem este mesmo peso. Alguns machos podem chegar até 2,5 kg, mas, mesmo assim, é do tamanho de um mini coelho", explica o Dr. José.

O tamanho diminuto é combinado com a aparência graciosa de um felino selvagem, com pequenas manchas e listras arrojadas ao longo do corpo. Mas são as patas que lhe dão o nome: a tradução de "felis nigripes", para o português, é "pé preto", de acordo com o Dr. José. Isso porque a sola das suas patas traseiras e dianteiras são escuras.

O resto da pelagem é densa e macia e serve para proteger o animal do frio intenso das noites desérticas. A espécie é endêmica da África Austral com uma distribuição mais restrita que outros felinos da região. Mas se estende da África do Sul para o norte em Botsuana, Namíbia, Zimbábue e possivelmente no extremo sudeste de Angola.

"O gato-de-patas-negras é um felino solitário e de hábito noturno, sendo difícil de ser avistado na natureza por conta do seu tamanho reduzido em relação a outros grandes felinos selvagens", informa o médico-veterinário Renzo Soares, que também trabalha com animais selvagens.

Ele consegue desaparecer rápido pelas plantas do deserto, saltando muito alto a ponto de conseguir capturar pássaros no ar, mas também se alimenta de pequenos anfíbios, répteis e até mesmo de insetos, como aracnídeos.

Segundo o Dr. Renzo, os bichos possuem alto rendimento quando comparados aos outros felinos em termos de caça. Os gatos-bravos-de-patas-negras chegam a capturar e predar, em média, 14 animais durante o seu período ativo.

Além de ser bastante letal às pequenas presas, este gato também precisa ser muito inteligente. De acordo com o Dr. José, o ambiente africano pode ser muito hostil.

"Estes gatos caçam à noite e não são arborícolas, então eles têm que ficar andando muito por muito tempo para conseguir encontrar as presas e se alimentar", explica.

No mais, a sua expectativa de vida é curta devido à biodiversidade. Na África, a espécie é presa de cobras e aves de rapina. Vivem, em média, de 7 a 10 anos na natureza. Em cativeiro, mediante cuidados médicos, sem fome e frio, podem viver até 13 anos.

O pesquisador de pequenos felinos e professor da Universidade de Colônia, na Alemanha, Alexander Sliwa colocou coleiras localizadoras em 65 destes gatos e fez várias descobertas. Uma delas é que eles vivem em tocas subterrâneas de lebres, onde criaram por ano de um a dois filhotes.

Este gato é o mais letal entre os felinos e conseguem atingir o seu alvo em 60% das vezes — Foto: ( Zbyszko/ Wikimedia Commons)
Este gato é o mais letal entre os felinos e conseguem atingir o seu alvo em 60% das vezes — Foto: ( Zbyszko/ Wikimedia Commons)

De acordo com o Dr. Frederico Vaz, estes gatos são selvagens, não domesticáveis e nem socializáveis com humanos. O estilo de vida deles é solitário, exceto em períodos reprodutivos. A médica-veterinária Mayara Susenko complementa sobre terem hábitos noturnos e inabilidade em escalar árvores.

Os gatos-bravos-de-patas-negras podem ser encontrados em alguns zoológicos pelo mundo e em cativeiro. Contudo, a espécie está classificada como vulnerável na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).

A situação já é gritante e poderia ser pior: por causa de seu tamanho pequeno, muitas pessoas têm vontade de domesticar o animal. Contudo, o Dr. José indica que o processo é muito difícil.

"É pouco provável que o ser humano interaja facilmente com a espécie porque eles são bichos muito ariscos e reservados. Eles têm a característica de viver e caçar sozinhos, não andam nem em duplas. Além disso, não se trata de um bicho que se vê com frequência: eles andam escondidos", diz.

Ele entende que, caso um filhote seja capturado, talvez seja possível domesticá-lo enquanto ele ainda é pequeno, já que os gatos domésticos vieram também de felinos selvagens. Mas o gato-bravo-de-patas-negras têm um comportamento arisco e reservado que dificulta a relação com o ser humano.

"O manuseio, como o que acontece com os gatos domésticos, é bastante difícil. A gente vê isso com aqueles gatos que são misturados com felinos selvagens, como as raças caracat, savannah e ocicat. Estes animais são mais ativos, costumam miar mais e não gostam de visitas – completamente diferente de um gato persa ou britânico de pelo curto, que gostam de colo e carinho", diz.

De tão pouco manuseável e muito solitário, o médico-veterinário acha que o risco de domesticar o gato-bravo-de-patas-negras é grande. "O ideal é tentar divulgar, fazer as pessoas conhecerem a espécie para ajudar de forma financeira as instituições que tentam preservá-la na África. Eu acho que esse é o caminho para manter os bichinhos bem e no seu ambiente", finaliza.

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