• Por Fernanda Drumond
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A biofilia norteou a reforma de um apartamento de 270 m² no bairro Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. O projeto, comandado pela arquiteta Carolina Druck promoveu a integração da área social, priorizou o uso de cores neutras e a iluminação e ventilação naturais.  (Foto: Roberta Gewehr / Divulgação)

A biofilia norteou a reforma de um apartamento de 270 m² no bairro Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. O projeto, comandado pela arquiteta Carolina Druck promoveu a integração da área social, priorizou o uso de cores neutras e a iluminação e ventilação naturais (Foto: Roberta Gewehr / Divulgação)

A realidade da pandemia trouxe novas necessidades para a vida das pessoas, que precisaram se adaptar a um outro modo de vida. O tempo a mais passado dentro das casas fez com que muitos repensassem sua relação com o lar e fizessem alterações para melhorar a sensação de bem-estar nos ambientes. Uma das medidas foi trazer a natureza para dentro de casa através do design biofílico. A tendência busca reconectar o ser humano e a natureza em meio à cidade.

"O design biofílico vai muito além do uso de plantas na decoração, ele é uma forma criativa de uso de materiais variados, que gerem ambientes mais saudáveis e que proporcionem bem-estar aos seus moradores”, declara a arquiteta Ana Bortone.

Um estudo feito pela Universidade de Brasília, coordenado pelo professor Reuber Albuquerque Brandão, provou que o contato com a natureza aumenta a saúde e o bem-estar humanos por meio da redução do estresse e da provocação de emoções positivas. Na pesquisa, foram estudadas as reações de 33 pessoas antes e depois de uma caminhada de 30 minutos no parque e de 30 minutos de caminhada no centro da cidade. Registrou-se melhorias nos relatos emocionais dos participantes após o contato com espaços verdes, enquanto a exposição urbana causou aumento nas emoções negativas e na diminuição de felicidade.

“A natureza nos conforta, nos acolhe, nos relembra que também fazemos parte dela, apesar de termos nos deslocado na construção de uma sociedade voltada para a mercadoria, para o produto. O contato com a natureza alivia o estresse, libera hormônios, como dopamina e serotonina, no corpo, é como se nos regenerássemos a cada contato,” explica Betina G. Rodrigues Alves, doutora em ciências biológicas.

As cestarias na parede foi o ponto de partida de Juliana Pippi para a decoração do living. Mesa de centro garimpada pela arquiteta junto com Welington, comerciante local e restaurador de móveis mineiros. Objetos da Divinos, loja de Trancoso (Foto: Gabriela Daltro/Divulgação)

As cestarias na parede foi o ponto de partida de Juliana Pippi para a decoração do living deste projeto. Mesa de centro garimpada pela arquiteta junto com Welington, comerciante local e restaurador de móveis mineiros. Objetos da Divinos, loja de Trancoso (Foto: Gabriela Daltro/Divulgação)

Em 2017, o pesquisador Yale Stephen Kellert e a arquiteta Elizabeth F. Calabrese estabeleceram três pilares para definir o design biofílico: a experiência direta com a natureza – que engloba o contato com os elementos naturais, paisagens, plantas e animais; a experiência indireta com a natureza – envolvendo a presença de materiais naturais, imagens da natureza, cores e formas; e a experiência de espaço e lugar – que debate a forma como nos relacionamos com o ambiente, pensando na conservação, mobilidade, cultura, sustentabilidade, entre outros aspectos.

Todos os ambientes podem ser projetados levando-se em consideração os conceitos do design biofílico. Para isso, basta que o olhar do projetista esteja totalmente voltado para a experiência do usuário e seus efeitos a curto e longo prazo. Visualizar esse contato contínuo com a natureza e seus elementos, valorizar os conceitos de conforto térmico e lumínico, favorecer ventilação e iluminação natural são itens imprescindíveis a um projeto que tenha o objetivo de proporcionar bem-estar. Até mesmo a escolha da paleta de cores pode estar de acordo com os conceitos da biofilia.

Qualquer projeto pode ser idealizado com base nesses conceitos, desde que leve-se em conta a experiência do usuário e os efeitos do uso a curto e longo prazo. Confira algumas dicas de como aplicar o design biofílico nos ambientes.

1. Plantas

“As plantas são purificadoras, trazem conforto térmico e bloqueiam a luz do sol, absorvem as toxinas dos mais diversos tipos de materiais, além de trazerem a sensação de aconchego, facilitarem a respiração e melhorarem o foco", explica a arquiteta.

2. Materiais naturais

O uso de materiais naturais, como a madeira, o algodão e a palhinha, ajudam a criar uma atmosfera aconchegante.

3. Iluminação natural

A entrada da luz diurna em um espaço é um fator essencial de bem-estar, além de economizar energia. Contudo, o brilho excessivo pode causar desconforto. O ideal é garantir alternativas que possam tornar a iluminação um pouco mais difusa.

4. Ventilação natural

Passar muito tempo em um espaço fechado, sem troca de ar, não é muito agradável e saudável, por isso a ventilação natural é essencial para garantir o bem-estar dos ocupantes.

5. Água

Um espaço com presença de água pode causar redução do estresse, aumento da sensação de tranquilidade e diminuição da frequência cardíaca e pressão arterial; aprimoramento da concentração e restauração da memória induzida por estímulos visuais.

6. Formas orgânicas

Um espaço com linhas orgânicas e padrões biomórficos são mais confortáveis. Já foi provado cientificamente que temos uma preferência visual por essas formas, porém a razão pela qual isso acontece ainda não é conhecida.

7. Cores

O design biofílico adota cores mais próximas da natureza. Tons terrosos, de madeira, nuances de verde são as escolhas mais certeiras para quem quer seguir a tendência.

8. Sustentabilidade

Não há como se aproximar da natureza e não adotar estratégias mais amigáveis ao meio ambiente. O design biofílico está intrinsecamente ligado à sustentabilidade

9. Harmonia e função

Cada ambiente possui uma ou mais funções às quais são especialmente dedicados e os diferentes papéis precisam influenciar em como a decoração é pensada para o local. Por isso, ao realizar um projeto, é necessário analisar de que maneira aquele local poderá funcionar de forma mais harmônica. Por exemplo, ambientes de estudo, que precisam criar um clima de concentração; quartos devem ser espaços de descanso e silêncio; cozinhas podem ser espaços que acolhem.