• Texto Maria Beatriz Gonçalves | Produção Deborah Apsan
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Sala de estar O lugar onde antes só havia uma laje é hoje um dos favoritos da moradora, que aparece na imagem ao lado de sua fiel companheira, a chowchow Singha. No alto, obras de Emmanuel Nassar na Galeria Millan. O armário em forma de vaca é da Seletti. No chão, almofada comprada em Istambul, na Turquia. O sofá antigo da Breton foi reformado e ganhou tecido de Adriana Barra (Foto: Victor Affaro / Editora Globo) (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

SALA DE ESTAR | O lugar onde antes só havia uma laje é hoje um dos favoritos da moradora, que aparece na imagem ao lado de sua fiel companheira, a chowchow Singha. No alto, obras de Emmanuel Nassar na Galeria Millan. O armário em forma de vaca é da Seletti. No chão, almofada comprada em Istambul, na Turquia. O sofá antigo da Breton foi reformado e ganhou tecido de Adriana Barra (Foto: Victor Affaro / Editora Globo) (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

Tatiana Leite vive em um prédio em que parte da fachada é feita de tijolinhos, na Vila Madalena. Não é uma construção antiga, apesar do gosto declarado da moradora por quase tudo o que envolve um certo perfume retrô. Ela é dessas que vasculham caixas em busca de relíquias. Certa vez, enquanto olhava algumas fotos, ela notou, no fundo de um retrato com seu avô, uma linda cortina estampada com margaridas e um ar setentista. A casa seria demolida para virar um estacionamento naquele mesmo dia. “Peguei o carro, fui até lá e arranquei as cortinas da sala a tempo! Fico emocionada quando revisito o passado, quando entro em um lugar preservado. Me traz uma certa nostalgia de infância. Fui criada no interior, em casa de e vô. É como se eu voltasse a ser criança... esse é o meu lugar de conforto”, conta.

Apartamento Tatiana Leite - Entre Garimpos (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

INTEGRAÇÃO | A poltrona vermelha era parte do mobiliário do Hotel Cambridge, em São Paulo, e a almofada bordada foi comprada na Estônia. Os tapetes iranianos são da linha Reloaded, da Botteh. Cadeira de madeira da Dpot Objeto (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)(Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

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Mas Tati é múltipla. Define seu estilo como “vovó contemporânea”, e isso tem a ver com sua vontade de explorar horizontes e se jogar por aí. Hoje fotógrafa, ela teve por anos uma loja em uma casa de vila em São Paulo, repleta de objetos de decoração, peças de mobiliário, roupas e acessórios garimpados mundo afora com uma amiga. Quando fechou a Casa 15, foi estudar cinema, trabalhou como diretora de arte e fez uma viagem de 50 dias pela região oeste da África para fazer um documentário independente, ainda em fase de montagem, que fala sobre escravidão.

Apartamento Tatiana Leite - Entre Garimpos (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

COZINHA | A prateleira suspensa, de nogueira, foi desenhada pela arquiteta Julliana Camargo. No teto, o papel de parede xadrez foi comprado no site Wallpaper from the 70’s. Luminária de acrílico dos anos 1960 encontrada no Bixiga. Mesa criada pela moradora com tampo de laminado melamínico do Brás, e cadeiras Jean Prouvé, da Vitra, à venda na Micasa. Armários da cozinha da Artigiano. Piso de pastilhas da Atlas (Foto: Victor Affaro / Editora Globo) (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

Foi a vista ampla do alto da cobertura dúplex que a conquistou na primeira visita ao apê em 2014. Ela vivia em um imóvel antigo de 70 m² ali perto e, além da meta de se livrar do aluguel e “conquistar o sonho da casa própria”, queria ampliar a metragem. “Havia a possibilidade de dobrar o espaço no segundo andar, em cuja laje havia apenas uma churrasqueira e uma pia; o prédio autorizava a construção seguindo algumas regras de altura e a exigência de caixilho branco e vidro”, explica.

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Fechou negócio e embarcou na aventura de uma reforma que só terminaria em 2016 e cujo projeto de decoração incluiu um contêiner que foi içado por 20 homens até o oitavo andar e transformado em lavabo; um muito cobiçado móvel de madeira em forma de vaca que quase virou um trambolho; e a meta ousada de colocar uma toalha de piquenique no teto da cozinha. Sua parceira na obra foi a arquiteta Julliana Camargo. “Vi um projeto da Ju cheio de cores e achei que tinha tudo a ver. Como eu sabia muito bem o que queria, precisava de alguém com quem tivesse liberdade, e não que simplesmente impusesse um projeto”, conta Tati.

Apartamento Tatiana Leite - Entre Garimpos (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

LAVABO | O contêiner foi comprado em Santos e transformado em banheiro no andar superior. Os galhos na parede foram coletados na fazenda da moradora. O carrinho antigo, à dir., e a caixa de discos, à esq., são da Forja (Foto: Victor Affaro / Editora Globo) (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

É um apartamento surpreendente, ao mesmo tempo cheio de cores e texturas, mas com espaço, com respiro. Cada objeto atrai olhares curiosos e atentos aos detalhes. Não há uma peça sequer que não envolva uma história ou adicione um toque de bom humor ao décor. “Definitivamente não tivemos medo de mistura. O projeto foi sendo aos poucos preparado para receber as coisas dela; ter uma certa neutralidade nos revestimentos era uma preocupação para depois entrar com texturas e tecidos”, conta Julliana.

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Cada detalhe conta uma história no apartamento de Tatiana (Foto: Divulgação)

Cada detalhe conta uma história no apartamento de Tatiana (Foto: Divulgação)

Parte das fotos feitas na Serra do Navio, no Amapá, estão penduradas nas paredes do segundo andar, próximas de um punhado de feno e de alguns troncos de madeira que Tati trouxe da fazenda de sua família em Analândia, onde acaba de iniciar um projeto que envolve o resgate da cultura caipira e uma agrofloresta de macadâmia. De fato, toda sua história culmina ali; naquele bairro que respira arte, gastronomia e cultura; entre as ruas agitadas, fez seu ninho de contemplação.

Apartamento Tatiana Leite - Entre Garimpos (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

HALL | À esq., um mix de fotos feitas pela moradora. A porta de metal que dá acesso à lavanderia é réplica de um modelo do porto de Belém. À dir., série de impressões de Gilberto Tomé. O móvel usado como sapateira foi desenhado pela arquiteta. Bancos da Micasa (Foto: Victor Affaro / Editora Globo) (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

Apartamento Tatiana Leite - Entre Garimpos (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

ESCADA | A prateleira de nogueira, criada por Julliana, esconde o corredor de acesso aos quartos. Ao lado, a tela metálica da Hunter Douglas funciona como guarda-corpo (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

Apartamento Tatiana Leite - Entre Garimpos (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

COPA | No andar inferior, o espaço ao lado do escritório serve de apoio para pequenas refeições. Na parede, pratos da linha Toiletpaper, da Seletti. Abaixo, cadeirão criado por Andrea Simioni, ex-sócia de Tatiana na Casa 15. Revestimento de parede Atlas e, na bancada, filtro de água antigo comprado no Bixiga. Sobre a mesa de costura que foi da avó da moradora, vaso de Flavia Del Pra. Cadeiras da Securit. Piso de canela colonial da Casulo Design (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

Apartamento Tatiana Leite - Entre Garimpos (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

ESCRITÓRIO | “Chamo este ambiente de ‘back to school’”, brinca a moradora. No alto, fotos feitas por ela na Argentina. A escrivaninha foi de seu avô, assim como a cadeira antiga, modelo Thonet (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

Apartamento Tatiana Leite - Entre Garimpos (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

QUARTO | Papel de parede da Branco. Luminária lateral da Arquitetura da Luz. Quimono trazido de viagem ao Japão. Colcha da Camesa e almofadas da Dpot Objeto (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

Apartamento Tatiana Leite - Entre Garimpos (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)

BANHEIRO | Revestimentos da Atlas. Espelho da Ethnix. Cuba da Duravit e metais da Deca. Na bancada de Nanoglass, executada pela Pedras Morumbi, o secador de cabelo antigo foi garimpo da moradora. O móvel desenhado pela arquiteta foi executado pela Marcenaria Simão (Foto: Victor Affaro / Editora Globo)