A Operação Disclosure, deflagrada pela Polícia Federal nesta quinta-feira, mirou ex-diretores da Americanas acusados de insider trading e manipulação de mercado – os mesmos nomes que enfrentam acusações de perpetrar a fraude contábil de mais de R$ 25 bilhões na varejista.
A decisão do juiz que deu ordem para os mandados, a pedido do MPF, revela de onde vieram os alertas à CVM, que constam num inquérito aberto pela autarquia ainda em janeiro de 2023. A XP teria informado o regulador sobre movimentações atípicas envolvendo as ações da Americanas e também chegou a questionar a própria Americanas a respeito dessas negociações. A mesma comunicação teria ocorrido por parte do Credit Suisse, que informou sobre operações atípicas realizadas pela Clave Gestora de Recursos com os ativos, e também por parte da Itaú Corretora que, neste caso, levou ao conhecimento da CVM as operações atípicas realizadas especificamente por alguns diretores e ex-diretores das Americanas.
Esse tipo de alerta feito por corretoras e bancos é lei, para evitar manipulação de mercado, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e outros crimes financeiros. Na XP, Credit e Itaú, as companhias cumpriram o protocolo que cabe às instituições intermediadoras de transações financeiras. No caso da Clave, diferentemente das negociações dos ex-diretores, trata-se de uma gestora de investimentos que opera ativos no mercado brasileiro, entre eles ações, e não era parte relacionada da Americanas.
As acusações na mira da PF tratam basicamente de transações de vendas de ações meses antes do barco afundar. Entre os executivos que fizeram essas transações, segundo o documento, estavam o ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez e a ex-diretora Anna Christina Ramos Saicali, considerados foragidos já que ambos estão no exterior. Eles têm reiterado em suas defesas que não foram fraudadores.
Constam ainda entre os acusados os ex-diretores financeiros Fabio Abrate e Carlos Padilha, além Marcio Meirelles, Celso Louro, Carlos Henrique Gatto, Thiago Barreira e o ex-diretor de lojas físicas, José Timotheo de Barros.
Consta ainda, no documento que autoriza os mandados, que uma lista encaminhada pela BSM Supervisão de Mercados, que supervisiona operações realizadas na B3, à CVM inclui "nome de acionistas de referência da Americanas" – que não foram alvo de mandados hoje –, "pessoas jurídicas e diretores" da empresa que realizaram operações atípicas com as ações da companhia durante o período de janeiro de 2022 até a divulgação do rombo contábil em 11 de janeiro de 2023.
O inquérito administrativo aberto pela CVM para investigação dessas transações por parte de então executivos da varejista antes da divulgação do fato relevante do rombo deve virar processo administrativo. A operação de hoje nada tem a ver com as investigações independentes contratadas pela Americanas, cujo relatório o comitê deve apresentar à empresa no fim deste mês. Mas a ação da PF também se baseou em delações premiadas dos ex-diretores Marcelo Nunes e Flávia Carneiro.
Procurados, CVM, XP, Clave e Itaú não comentaram.