Indicado ao Oscar de filme internacional, o longa-metragem do italiano Matteo Garrone é estruturado dentro da narrativa conhecida como “jornada do herói”: um conceito que defende que há um padrão comum na literatura de diferentes culturas na forma com que os protagonistas se aventuram pelo mundo. A saga de Seydou (interpretado pelo excelente Seydou Sarr) começa no Senegal, atravessa com extrema dificuldade e dor o norte da África e deságua em seu sonho de atravessar o Mar Mediterrâneo em busca de uma vida mais justa.
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Garrone, celebrado por abordar temas sociais em filmes como “Gomorra” (2008) e “Dogman” (2018), desta vez aponta sua câmera com influência neorrealista para os milhares de africanos que tentam deixar a miséria de seus países e migrar para a Europa. “Eu, capitão” impressiona pela proximidade com que os desafios de Seydou são mostrados — em alguns casos, com cenas bastante cruéis.
Como um herói clássico, o protagonista descobre o que é o inferno antes de ter a chance de chegar ao paraíso. É um recurso de roteiro que os filmes de fantasia adoram usar, mas que causa um choque maior por se tratar da realidade. Quem tem dinheiro para pagar uma sessão de cinema sabe que coisas como as mostradas pelo filme de Garrone acontecem, mas raramente elas são encenadas de um jeito tão incômodo como ele faz em seu filme.
Não é nada fácil acompanhar todos os percalços por que passa Seydou, e alguns espectadores podem verdadeiramente se irritar com a aspereza da história. Mas tem um lado do filme que nos ajuda a persistir: apesar de tudo, o protagonista não deixa de sonhar em momento algum. É uma jornada de dor, mas admirável.