Uma prova em favor da igualdade deve reunir na manhã deste domingo, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, na Zona Norte, em torno de 5.500 atletas profissionais e amadores que participarão da Corrida Brasil Sem Preconceito. Os corredores vão, literalmente, vestir a camisa contra a discriminação, seja ela em razão da raça, cor, gênero, identidade ou orientação sexual, entre outras.
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É que a vestimenta foi personalizada e cada um pode escolher, no ato da inscrição — aceita até amanhã, entre 8h e 17h, exclusivamente no ponto de entrega dos kits de participação, na entrada do BioParque —, aquela alusiva à sua causa. Embora a prova tenha sido marcada para o fim de semana seguinte ao Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+, comemorado nesta sexta-feira, a intenção do evento é abraçar as mais diferentes causas.
—Queremos ir além do combate à homofobia ou a transfobia. Vamos abranger todo o tipo de preconceito, como o racismo, machismo, capacitismos e às pessoas com espectro autista. Todas as causas vão estar representadas através de embaixadores ligados a cada um desses públicos — explica Rafael Oliveira, o Rafael Prefeitinho, um dos organizadores do evento.
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Até o percurso da prova foi adaptado para favorecer a acessibilidade dos participantes, que poderão escolher entre cinco e 10 quilômetros de corrida ou caminhada. O trecho mais curto será feito dentro da Quinta da Boa Vista. O mais longo começa com uma volta no interior do parque e inclui também no trajeto ruas do entorno. Para garantir a segurança dos competidores haverá apoio de agentes da CET-Rio, Guarda Municipal e Polícia Militar.
Nos dois casos, tanto largada como chegada serão na Alameda das Sapucaias, em frente ao Museu Nacional. Os três primeiros colocados nas categorias masculino, feminino, PCDs (pessoas com deficiência) e não-binários receberão troféus e brindes dos patrocinadores. O evento volta a ser realizado depois de nove anos de sua primeira edição, em 2015.Agora com ares de competição nacional. Depois da etapa Rio estão programadas as de Brasília (20 de novembro) e São Paulo (em data ainda a ser definida no mês de dezembro).
![Daniela, Fernanda e Beto: contra o preconceito — Foto: Geraldo Ribeiro/Agência O Globo](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/IUUI1xGfmc4-q9tR_DnQzSJhrZE=/0x0:4080x3072/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/p/j/EThBWAQBuUnA5RxrPBUQ/corrida1.jpg)
Embaixadora da corrida, Daniela Lopes, de 33 anos, mulher trans e corredora, comenta sobre a importância da prova:
—Eventos como esse ajudam a quebrar barreiras, para que a gente possa se unir, correr juntos e entender que todo mundo tem direito ao esporte.
A atleta conta que já passou por situações constrangedoras em competições que participou, com homens tentando intimidá-la. Mas, nem assim desistiu.
—É muito importante combater esse assédio, essa violência contra as pessoas trans e as mulheres também — completa.
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Fernanda Oliveira, advogada voluntária da Casa Nem e também embaixadora da corrida, diz que o esporte teve um papel fundamental na sua vida. A opção inicial foi para vencer uma obesidade que estava quase virando mórbida. Depois tomou gosto pelas corridas de ria. Mas, reclama da discriminação e do preconceito enfrentado pelas atletas trans, como ela.
— Quando são esportes divididos por gênero fica aquela questão: ah, eu vou para o time masculino ou para o feminino. A educação física nas escolas é um lugar de muita violência para pessoas LGBTs. Então isso faz com que muitas vezes a gente não pratique nenhum esporte e caia no sedentarismo.
Negro e Gay, Beto Tavares, de 43 anos, é personal trainer e treinador de corridas. Ele conta que sofreu preconceito numa escola particular, em São Paulo, onde a mãe de um aluno se recusou a aceitá-lo como professor de seu filho.
—Ela reclamou para a coordenação da escola porque tinha um professor com o meu "biotipo". A coordenadora disse que eu era um professor, técnico e que atendia ás necessidades do estabelecimento. A mão então retrucou que eu era gay e preto e perguntou se não havia uma pessoa que pudesse dar um exemplo melhor ao filho dela.
Beto diz que só não desistiu de tudo, porque contou com o apoio da coordenador, que preferiu perder o aluno e ficar ao lado do professor.
Além da defesa da igualdade, a Corrida Brasil Sem Preconceito também conta com ações sociais especiais. Parte dos valores das inscrições serão destinadas às famílias desabrigadas pelas enchentes do Sul do país. Três instituições, de combate ao racismo, pela defesa da mulher e de pessoas com autismo, também serão beneficiadas com parte dos valores das inscrições. O evento também conta com ação sustentável, com o reaproveitamento de lonas e banners para a confecção de bolsas, mochilas, entre outros.
No dia da corrida, os participantes que embarcarem na estação do Metrô em São Cristóvão, terão direito à gratuidade na viagem de volta para casa, desde que estejam vestindo a camisa do evento.
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