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Por O Globo — Rio de Janeiro

O desaparecimento da advogada e estudante de Psicologia Anic de Almeida Peixoto Herdy, de 55 anos, mobiliza a polícia de Petrópolis, na Região Serrana do Rio. A trama em torno do sumiço da mulher, ocorrido em 29 de fevereiro deste ano, é cercada de mistério. O dinheiro exigido para a liberação da vítima foi pago pela família, que segue sem notícias dela. Quatro pessoas suspeitas de envolvimento no crime estão presas, entre elas Lourival Correa Netto Fatiga. Amigo da família, ele é apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) como mentor do desaparecimento. Lourival nega envolvimento no crime.

O MP afirma ainda que, juntamente com a 105ª DP (Petrópolis) trabalha com a suspeita de que Anic tenha sido assassinada e tenha tido o cadáver ocultado.

O que falta esclarecer

  • Onde está Anic Herdy?
  • A advogada foi cúmplice do plano para extorquir o marido?
  • Onde estão os 950 celulares comprados por Lourival?
  • Qual foi a real participação dos filhos e da namorada de Lourival no crime?

Mistério começa em shopping

O mistério que envolve o desaparecimento de Anic começou quando ela deixou a casa da filha, em Petrópolis, para ir a um médico na mesma cidade. Em seguida, foi a um shopping, onde chegou por volta das 11h30. Usando um colete jeans e um vestido bege e amarelo, a advogada e estudante de Psicologia estacionou seu carro, saltou do veículo, acessou os elevadores, mas decidiu descer pelas escadas. A mulher é vista caminhando lentamente pela praça de alimentação do estabelecimento, sempre se comunicando pelo celular.

Mistério. O estacionamento do shopping onde Anic Herdy desapareceu — Foto: Reprodução
Mistério. O estacionamento do shopping onde Anic Herdy desapareceu — Foto: Reprodução

A advogada aparece nas câmeras da saída principal do shopping. Às 11h34min é possível vê-la atravessando a rua, na esquina com a Rua General Osório, por imagens obtidas nas câmeras de segurança do edifício ao lado do centro comercial. A cena é o último registro conhecido de Anic.

O veículo de Lourival passa pela Rua General Osório no sentido à Rua Teresa, às 11h48, na frente do shopping. Segundo o relatório do MPRJ, o carro seguia no sentido e no lado onde Anic caminhava.

Segundo os investigadores, o carro fez uma parada para Anic entrar. A conclusão foi feita analisando o tempo de deslocamento do veículo de uma câmera de segurança a outra. O trajeto, considerado curto e com aproximadamente 300 metros, é feito em 30 segundos geralmente. Mas Lourival o fez em 1min04, levando a crer que tenha feito a parada para a advogada.

À procura de Anic, equipes da Polícia Civil realizaram buscas em um sítio de Guapimirim, cidade colada à Região Serrana do Rio, nesta quarta-feira. O endereço foi pesquisado na internet por Lourival.

Para a polícia, há duas hipóteses sobre o desaparecimento da mulher, de 55 anos: ela pode ter sido morta, ou ter fugido por vontade própria. Apesar de mensagens supostamente enviadas por ela indicarem que deixou o Brasil, a hipótese é tratada como pouco provável, pois a advogada não tem passaporte — apesar de ser possível viajar para países do Mercosul somente com a carteira de identidade — e não há registros de que ela tenha saído do país. A possibilidade de que a vítima esteja em algum cativeiro é a menos provável, especialmente por conta dos suspeitos do caso estarem atrás das grades.

Herdeiro avisado por mensagem

Marido da advogada, o professor Benjamim Cordeiro Herdy, de 78 anos — herdeiro do empresário José de Souza Herdy, fundador de um complexo educacional em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que deu origem à Unigranrio —, soube do desaparecimento da pior forma possível. Mais de sete horas depois de ela ter sido vista pela última vez, uma pessoa enviou uma mensagem de texto para o telefone dele. O responsável pelo comunicado alegava que a vítima estava em seu poder e dizia que a polícia não poderia ser avisada.

A partir daquele momento, por vários dias foram feitos consecutivos contatos da mesma forma. Num deles, um homem pediu uma quantia em bitcoins para que ela pudesse retornar ao lar. Nesta ocasião, Lourival teria interagido com o suspeito por supostamente entender sobre criptomoedas.

Nas interações com Benjamim, um dos sequestradores avisou que estava monitorando o marido de Anic em tempo real, por imagens das câmeras de segurança da casa, que conseguia assistir do celular de Anic. Ele chegou, inclusive, a descrever as roupas usadas por ele no momento da ligação, além do cômodo da casa em que Herdy se encontrava.

No relatório do MP, constam mensagens enviadas às 20h31:

"Oi. Benjamim estamos com a sua mulher. Ela está bem, nada irá acontecer com ela, só depende de você seguir as nossas instruções. 1 - Não fale com ninguém. 2 - Não envolva a polícia. 3 - Providencie 4,6 M sei que você vai precisar de um prazo para sacar esse valor."

Em seguida, o "sequestrador" dá um prazo: "Você tem até segunda. Não haverá segunda chance. Só vou entrar em contato novamente na segunda para marcar o ponto de troca e dar novas instruções. Só para te lembrar que estou vendo sua casa pelas câmeras do celular dela. Se desligar já sabe! Seu carro está com rastreador. Então não faça bobagem. Pegue seu segundo celular e quebre em frente à câmera da garagem. Sua mulher está pedindo para avisar a sua filha que ela vai dormir aí."

Anic e Benjamim estão juntos há 20 anos. Os dois se conheceram na Unigranrio, época em que ela trabalhava como secretária na universidade. Quando o casal se apaixonou e resolveu se casar, ela já era mãe de um menino, fruto de um relacionamento anterior. Por sua vez, ele era pai de quatro filhos que nasceram de outra união. Junto, o casal teve mais uma filha. A advogada é descrita por quem a conhece como uma mulher que gosta de viajar, comprar roupas e de pescar, além de ter paixão por animais.

Carro de 500 mil e 950 celulares

A quantia exigida em dólares, reais e até bitcoins — no total de R$ 4,6 milhões — foi paga pela família da vítima entre os dias 6 e 11 de março de 2024. Uma parcela do dinheiro em reais foi depositada em 40 contas usadas por doleiros. Outra parte serviu para comprar também uma motocicleta e 950 celulares que iriam abastecer uma loja de produtos eletrônicos de Teresópolis.

Os celulares foram comprados por Lourival, no Paraguai, por US$ 153,9 mil. Policiais da 105ªDP (Petrópolis) tentam localizar os aparelhos, que até agora não foram apreendidos. Um mandado de busca e apreensão chegou a ser cumprido pelos agentes em uma loja de produtos eletrônicos, em Teresópolis, que teria sido aberta formalmente por Lourival, em março, e era administrada por uma filha dele.

O marido de Anic, Benjamim, declarou à polícia que esteve com Lourival no dia 6 de março em sua agência do Itau, localizada em Duque de Caxias, onde conseguiu sacar R$ 600 mil.

A família pagou todos os valores exigidos entre os dias 6 e 11 de março, data em que foi marcada a "troca" do pagamento restante pela liberdade da mulher. Segundo a denúncia a Promotoria de Investigação Penal de Petrópolis, no dia 11, por volta das 14h, Benjamim vai a um shopping em Campo Grande, na Zona Oeste, onde Anic seria libertada pelos "sequestradores". Lourival afirma que vai até a comunidade do Terreirão, no Recreio dos Bandeirantes, para fazer o suposto pagamento do resgate.

Mas, segundo análise de dados de antena de telefonia feita pela polícia, ele nem passou perto do Terreirão: foi direto para uma concessionária na Barra da Tijuca, onde comprou um carro de luxo no valor de R$ 500 mil com o dinheiro do resgate, no nome da filha Maria Luiza Fadiga, que estava com o pai na hora da aquisição e sabia do suposto sequestro.

À polícia, Lourival alegou ter usado o telefone para se comunicar com os “suspostos sequestradores” para colocar o dinheiro em determinada lata de lixo. A advogada não apareceu.

Ajuda de amante e dos filhos

Apontado pelos investigadores como peça-chave no desaparecimento, Lourival Correa Netto Fatiga se aproximou de Anic e Benjamim há cerca de três anos. Ele, que tinha acesso à rotina da casa onde a vítima e o marido moram, em Teresópolis, também na Região Serrana, teria se apresentado aos dois como sendo um policial federal — profissão que nunca exerceu, segundo o MP. Nesta quarta-feira, a Polícia Federal informou que Lourival não é policial e que nunca sequer integrou a corporação.

Polícia investiga desaparecimento de advogada na Região Serrana

Polícia investiga desaparecimento de advogada na Região Serrana

Lourival também teria sido o responsável por instalar um serviço de câmeras de vigilância a pedido do marido da advogada.

Os promotores do MP afirmam que Lourival conquistou a confiança da família de imediato. Ele passou a realizar a segurança pessoal de seus integrantes, além de ter acesso irrestrito a cartões de crédito e às respectivas senhas, afirmou o MP. Lourival chegou, também, a acompanhar Anic e Benjamim em algumas viagens.

De acordo com o MP, Lourival "arquitetou o plano criminoso". Para a execução do crime, afirma a denúncia, ele contou com a ajuda dos filhos e de uma mulher com quem mantinha um relacionamento amoroso.

Maria Luiza Vieira Fadiga, filha de Lourival, mantinha contato com o fornecedor dos 950 telefones celulares que Lourival adquiriu com o dinheiro da extorsão. A empresa de produtos eletrônicos e o carro de luxo estavam no nome de Maria Luiza que, segundo aponta o Ministério Público, sabia do suposto sequestro e se beneficiava do dinheiro obtido de forma criminosa.

O filho, Henrique Vieira Fadiga, participou da compra de U$ 150 mil dólares, combinando a entrega do dinheiro e recebendo pessoalmente parte das cédulas. Henrique também esteve na concessionária para a compra do carro de luxo com o pai e a irmã.

Rebecca Azevedo dos Santos, apontada como namorada de Lourival, trocou telefonemas com o suspeito do suposto sequestro no dia do desaparecimento de Anic, e em outras datas chave, além de estar no mesmo lugar e horário que Lourival no dia do crime. Ela viajou para Foz do Iguaçu para encontrar com o homem que vendeu os 950 celulares para Lourival, e que relatou à polícia ter recebido três depósitos de Benjamin no valor de R$ 325 mil cada. Rebecca também teria ajudado a esconder o dinheiro recebido do resgate e a ocultar provas relacionadas ao crime.

Viagem com suspeito

No início do ano, Anic, o marido e alguns amigos, incluindo Lourival viajaram para Balneário Camboriú, em Santa Catarina, onde o grupo visitou um parque aquático. Na ocasião, a advogada e estudante de Psicologia fez as últimas fotos antes de sumir.

Quando desapareceu, Anic estava prestes a iniciar uma nova viagem. No início de março, ela e o marido iriam para outro ponto da Região Sul.

O que dizem os advogados

Procurado, o advogado João Vitor Ramos, que defende os interesses de Herdy e da esposa, disse, em nota, que a família está com medo e que mudou a rotina desde que ela despareceu.

“Como é possível imaginar, a família está extremamente abalada. Todos estão muito arrasados, sofrendo pela ausência de Anic. São praticamente três meses sem notícias a respeito dela, e a cada dia que passa a dor da família é ampliada pela preocupação sobre o que pode ter acontecido com Anic. Além dessa angústia, estão receosos e com medo, pois, da forma como o desaparecimento ocorreu, o marido e os filhos não sabem o que esperar das pessoas envolvidas. Têm medo do que elas são capazes de fazer”, diz um trecho do comunicado.

Também procurado, o advogado Paulo Vinícius Tostes, que defende Lourival Correa Netto Fatiga, divulgou nota informando ainda não ter sido formalmente notificado da acusação contra seu cliente em processo que tramita em sigilo de Justiça. Ele alegou ainda que a defesa acredita que “irá comprovar que a acusação se deu de forma açodada e que os verdadeiros eventos não foram apurados”.

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