Economia
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Por e , O GLOBO — Brasília

RESUMO

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GERADO EM: 18/06/2024 - 08:14

Críticas de Lula a Campos Neto e defesa do desenvolvimento econômico e contra isenções fiscais

O presidente Lula criticou o presidente do BC, Campos Neto, antes da reunião do Copom. Ele questionou a autonomia e a postura política do presidente do Banco Central. Lula defendeu um novo presidente comprometido com o desenvolvimento econômico e criticou isenções fiscais para os ricos. Também mencionou a possibilidade de concorrer à reeleição para evitar o retorno de trogloditas ao poder.

Na véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para decidir a nova Taxa Selic, e num momento em que analistas do mercado preveem que os juros vão parar de cair, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou nesta terça-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. A reunião para definir a Selic começa nesta terça-feira. A taxa atual está em 10,5% e, se for mantida, vai interromper uma sequência de redução nos juros iniciada em agosto de 2023 .

Lula afirmou que o comportamento da instituição é a única coisa "desajustada" na economia do país. E comparou Campos Neto ao ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União-PR), que foi o responsável por condená-lo na Lava-Jato. Segundo o petista, Campos Neto tem "lado político" e não demonstra "capacidade de autonomia".

— Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante, é o comportamento do Banco Central, essa é uma coisa desajustada. Um presidente do BC que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que na minha opinião trabalha muito mais para prejudicar o país do que ajudar, porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está — afirmou o presidente em entrevista à CBN.

Lula disse ainda que indicará um novo presidente para o Banco Central - o mandato de Campos Neto termina no fim deste ano - que seja sério e que tenha compromisso com o desenvolvimento e que não pense só no controle da inflação. Para ele, "temos que pensar em uma meta de crescimento, porque é o crescimento econômico, da massa salarial, que vai permitir a gente controlar a inflação".

Poucas horas depois de Lula ter atacado Campos Neto, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), defendeu a autonomia do Banco Central, uma das medidas apoiadas pela Câmara, em sua gestão, para, segundo ele, "impedir retrocessos".

Tarcício de Freitas e Roberto Campos Neto se encontraram na semana passada — Foto: Fotos: Brenno Carvalho / Agência O Globo e Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Tarcício de Freitas e Roberto Campos Neto se encontraram na semana passada — Foto: Fotos: Brenno Carvalho / Agência O Globo e Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Crítica a reunião de Campos Neto com Tarcísio

O presidente ainda criticou reunião de Campos Neto como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado de Jair Bolsonaro cotado para concorrer à Presidência em 2026:

— O que é importante saber é a quem esse rapaz é submetido. Como que ele vai para uma festa de São Paulo quase que assumindo um cargo no governo de São Paulo? Cadê a autonomia dele? — indagou Lula.

Na ocasião, segundo o jornal Folha de S.Paulo, o presidente do BC disse que aceitaria ser ministro da Fazenda em um eventual governo de Freitas.

— Não é que ele encontrou com o Tarcísio em uma festa. A festa foi para ele, foi uma homenagem que o governo de São Paulo fez para ele, certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhoso a taxa de juros de 10,50%.

'Imune ao nervosismo do mercado'

O presidente continuou:

— Quando ele se autolança para um cargo, eu fico imaginando, a gente vai repetir um Moro? O presidente do BC está disposto a fazer o mesmo papel que o Moro fez? Um paladino da Justiça, com rabo preso a compromissos políticos? Então, o presidente do BC precisa ser uma figura séria, responsável e ele tem que ser imune aos nervosismos momentâneos do mercado.

Moro rebateu na manhã desta terça-feira a fala do presidente dizendo que a comparação é uma "nuvem de fumaça" para a "incompetência" do governo Lula na área da economia.

Perguntado sobre a possibilidade de rever gastos do governo para equilibrar as contas pública, o petista disse "estar disposto" a discutir o Orçamento do ano que vem.

— Estou disposto a discutir o orçamento com a maior seriedade com a Câmara, com o Senado, com a imprensa, com os empresários, com os banqueiros, mas para que a gente faça com o povo mais humilde e trabalhador não seja prejudicado como em alguns momentos da história foi — afirmou.

Colheita de soja no oeste da Bahia: Confederação da Agricultura, que tem uma isenção de quase R$ 60 bilhões, diz Lula — Foto: Fabio Rossi / Agencia O Globo
Colheita de soja no oeste da Bahia: Confederação da Agricultura, que tem uma isenção de quase R$ 60 bilhões, diz Lula — Foto: Fabio Rossi / Agencia O Globo

Tamanho dos subsídios

A fala ocorre um depois de o presidente reunir a equipe econômica no Palácio do Planalto para iniciar a discussão sobre revisão de gastos do governo. Lula sinalizou no encontro, porém, que o corte de despesas deve vir só em 2025.

— Estamos fazendo um estudo muito sério sobre o Orçamento. Não gosto de gastar aquilo que eu não tenho. A equipe econômica tem que me apresentar as necessidades de corte. Ontem quando eu vi a demonstração da (ministra do Planejamento, Simone Tebet), disse para ela que fiquei perplexo. A gente discutindo corte de R$ 10 bilhões, R$ 15 bilhões aqui e de repente você descobre que que tem R$ 546 bilhões de benefício fiscal para os ricos nesse país, como é que é possível?

— Você pega, por exemplo, a Confederação da Agricultura, que tem uma isenção de quase R$ 60 bilhões. Pega o setor de combustível, que tem isenção de quase R$ 32 bilhões, ou seja, você vai tentar jogar isso em cima de quem? Do aposentado? Do pescador? Da dona de casa? Da empregada doméstica? Então, quero discutir com seriedade.

A discussão sobre gastos ocorre em após um forte revés para o governo no Congresso. Na última quarta, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) devolveu ao Executivo uma Medida Provisória que limitava o crédito de PIS/Cofins para empresas após reação negativa entre parlamentares e empresários.

Foi a primeira vez no atual mandato do presidente Lula que o Legislativo rejeitou uma medida provisória, num recado de que o Congresso não aceitará novas medidas de arrecadação que mexam nos tributos.

'Congresso se empoderou demais'

Na entrevista, Lula criticou o poder do Congresso sobre o Orçamento União e admitiu que o Executivo está "fragilizado" em relação à definição de como gastar o dinheiro público. O petista, contudo, comemorou o que chamou de vitórias da sua gestão nesse campo, como a PEC da Transição e a Reforma Tributária.

— A verdade nua e crua é que depois da experiência do governo passado o Congresso se empoderou demais e, na minha opinião, o poder Executivo tem ficado fragilizado na arte de exercer o Orçamento da União. Esse é o dado concreto e todo mundo sabe disso

O presidente da Câmara, Arthur Lira, em conversa com Lula — Foto: Cristiano Mariz
O presidente da Câmara, Arthur Lira, em conversa com Lula — Foto: Cristiano Mariz

Sem citar o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmando que foi orientado a não falar o nome do seu antecessor, Lula disse que Bolsonaro não se preocupava com o Orçamento e deixou "o Congresso fazer o quisesse".

E afirmou que poderá se candidatar à reeleição para evitar o retorno de "trogloditas" ao comando do país:

— Não quero discutir eleição e reeleição porque eu tenho apenas um ano e sete meses de mandato, quero cumprir aquilo que eu prometi ao povo brasileiro. Quando chegar o momento de discutir, tem muita gente boa para ser candidato, não preciso ser candidato. Agora, presta atenção no que eu vou te falar, se for necessário ser candidato para evitar que os trogloditas que governaram voltem a governar, pode ficar certo que meus 80 anos virarão 40 e eu poderei ser candidato — afirmou Lula.

Defesa da exploração da Foz do Amazonas

A candidatura de Lula à reeleição é amplamente defendida dentro do PT e o próprio admite publicamente o desejo de tentar um novo mandato.

Lula também tocou em outros temas polêmicos durante a entrevista, como a exploração da Foz do Amazonas, na Margem Equatorial, e o projeto de lei do aborto.

Foto mostra o fundo da Foz do Amazonas, cuja exploração de petróleo é defendida por Lula — Foto: Greenpeace
Foto mostra o fundo da Foz do Amazonas, cuja exploração de petróleo é defendida por Lula — Foto: Greenpeace

Quanto à exploração petrolífera, o presidente defendeu que o Brasil explore a região e que "em algum momento" irá se reunir com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e com os presidentes do Ibama e da Petrobras para tomar uma decisão sobre a questão.

— O que não dá é para a gente dizer a priori que vamos abrir mão de explorar de uma riqueza, que se for verdade as previsões é uma riqueza muito grande para o Brasil. É contraditório? É porque estamos apostando muito na transição energética. Mas enquanto transição energética não resolve o nosso problema o Brasil tem que ganhar dinheiro com esse petróleo.

'É crime hediondo um cidadão estuprar uma menina'

Em relação ao aborto, Lula disse que a discussão em torno do projeto deve ser dar de "forma civilizada" e que é preciso respeitar os direitos das mulheres.

— Quem está abortando na verdade são meninas de 12, 13, 14 anos. É crime hediondo um cidadão estuprar uma menina de 10, 12 anos e depois querer que ela tenha um filho, um filho de um monstro. Então é preciso discutir de forma civilizada.

Na segunda-feira, a audiência que ocorreu no Senado Federal em defesa ao PL do Aborto, projeto que equipara a interrupção da gravidez após a 22ª semana ao crime de homicídio, teve encenação de aborto, defesa do texto que trata prática como homicídio e vídeo de feto.

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