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Por , e , Em The New York Times — Nova York

O Irã está operando uma rota de contrabando pelo Oriente Médio, empregando agentes de inteligência, militantes e gangues criminosas para entregar armas aos palestinos na Cisjordânia ocupada, de acordo com autoridades dos EUA, Israel e Irã. O objetivo, de acordo com três autoridades iranianas, é fomentar a instabilidade contra Israel inundando o território palestino com o maior número de armas possível.

A operação secreta aumenta as preocupações de que Teerã esteja buscando transformar a Cisjordânia no próximo ponto de conflito na longa e contínua guerra que Israel e Irã travam nas sombras — conflito que ameaçou escalar 1º de abril, após o ataque israelense a um complexo da embaixada iraniana na Síria, que matou sete militares iranianos durante uma reunião de líderes da Guarda Revolucionária, força de elite do país persa, e membros da Jihad Islâmica palestina em Damasco.

Entre os mortos estava o general Mohammad Reza Zahedi, de 65 anos, comandante das Forças Quds (braço da Guarda Revolucionária do Irã para ações no exterior) e responsável pelas operações secretas do país na Síria e no Líbano, por onde passa parte da rota de contrabando de armas. Além de Zahedi, o ataque matou outros dois generais das Forças Quds e outros quatro oficiais, segundo o Irã, tornando-se um dos ataques mais mortais do conflito encoberto entre os dois países.

O jornal americano New York Times entrevistou altos funcionários de segurança e governamentais com conhecimento do esforço do Irã para contrabandear armas para a Cisjordânia, incluindo três de Israel, três do Irã e três dos Estados Unidos. Os funcionários pediram anonimato para discutir operações secretas para as quais não foram autorizados a falar publicamente.

Por anos, os líderes do Irã declararam a necessidade de armar combatentes palestinos na Cisjordânia ocupada. Teerã há muito tempo fornece armas a militantes para atacar Israel em outras regiões, membros do chamado Eixo de Resistência, incluindo seus dois principais aliados palestinos na Faixa de Gaza: o Hamas e a Jihad Islâmica. Ambos os grupos, que também operam na Cisjordânia, são designados como organizações terroristas por EUA, União Europeia, Israel e outros países.

Os funcionários iranianos disseram que, na Cisjordânia, Teerã não escolheu um grupo específico, optando, em vez disso, por inundar amplamente o território com armas e munições.

Afshon Ostovar, professor associado de Assuntos de Segurança Nacional na Escola de Pós-Graduação Naval e especialista no Exército do Irã, explicou que o país se concentra na Cisjordânia porque entende que o acesso a Gaza será limitado num futuro próximo.

— A Cisjordânia realmente precisa ser a próxima fronteira que o Irã vai penetrar e proliferar armas, porque, se forem capazes de fazer isso, então a Cisjordânia se tornará um problema tão grande, se não maior, do que Gaza — disse ele.

Duas rotas

Segundo as fontes ouvidas, o Irã trabalha com seus aliados militantes e redes criminosas estabelecidas para usar duas rotas principais para levar armas à Cisjordânia. À medida que as armas cruzam as fronteiras, elas passam de mão em mão, de membros de gangues criminosas organizadas, militantes extremistas, soldados e agentes de inteligência.

— Os iranianos querem inundar a Cisjordânia com armas e usam redes criminosas na Jordânia, na Cisjordânia e em Israel, principalmente beduínos, para mover e vender os produtos — disse Matthew Levitt, diretor do programa de contraterrorismo do Washington Institute for Near East Policy, uma organização de pesquisa, e autor de um estudo sobre a rota de contrabando.

Ao longo de uma das rotas, militantes apoiados pelo Irã e operativos iranianos das Forças Quds levam as armas da Síria para a Jordânia. A partir daí, elas são transferidas para contrabandistas beduínos, grupo-chave na operação. Eles levam as armas até a fronteira com Israel, onde são recolhidas por gangues, que então as transportam para a Cisjordânia.

Veículo militar de Israel patrulha campo de refugiados de Balata — Foto: Jaafar Ashtiyeh/AFP
Veículo militar de Israel patrulha campo de refugiados de Balata — Foto: Jaafar Ashtiyeh/AFP

O esforço iraniano aproveita uma rota de contrabando bem estabelecida na Jordânia, que compartilha uma fronteira porosa de quase 500km com Israel. No ano passado, um legislador jordaniano foi indiciado em Amã depois de ser pego em 2022 tentando contrabandear mais de 200 armas para a Cisjordânia. A origem das armas não foi esclarecida.

Um dos funcionários iranianos disse que o aumento da segurança desde 7 de outubro, tanto por Israel quanto pela Jordânia, aumentou o risco de captura, especialmente para beduínos e árabes-israelenses que desempenham papéis críticos por sua capacidade de cruzar fronteiras.

A segunda rota, mais desafiadora, pula a Jordânia e leva as armas da Síria para o Líbano, disseram dois dos funcionários americanos. A partir daí, muitas das armas são contrabandeadas para Israel, onde gangues as recolhem e as transportam para a Cisjordânia.

Essa rota através do Líbano é mais difícil, principalmente desde o início da guerra em Gaza, porque a fronteira em que o movimento xiita libanês Hezbollah opera é mais patrulhada tanto pelo Exército israelense quanto por soldados da ONU, segundo Levitt.

O contrabando para a Cisjordânia teria começado há cerca de dois anos, quando o Irã começou a usar rotas antes estabelecidas para contrabandear outros produtos proibidos. Não está claro exatamente quantas armas chegaram ao território nesse período, embora os analistas digam que a maioria seja de armas leves.

Ataques israelenses

A Fatah, facção palestina que controla a Autoridade Nacional Palestina e, com ela, grande parte da Cisjordânia, acusou o Irã na semana passada de tentar "explorar" os palestinos para seus próprios fins, espalhando o caos no território. Em um comunicado, o grupo disse que não permitirá que "nossa causa sagrada e o sangue de nosso povo sejam explorados" pelo Irã.

Em comunicado, a Missão do Irã na ONU não comentou a operação de contrabando, mas enfatizou a importância de os palestinos portarem armas contra Israel.

— A avaliação do Irã postula que a única via eficaz para resistir à ocupação pelo regime sionista é através da resistência armada — disse Amir Saeid Iravani, embaixador do país na ONU. — As forças de resistência palestinas possuem a capacidade de fabricar e adquirir os armamentos necessários para sua causa.

Mesmo após 7 de outubro, quando os aliados do Irã lançaram cada vez mais ataques do Líbano e do Iêmen, Teerã e Tel Aviv preferiram restringir grande parte de seu conflito às sombras. Mas a guerra secreta explodiu para o público com o ataque aéreo contra o prédio da embaixada na Síria.

A ação veio logo após outro ataque israelense. Em 26 de março, as forças israelenses atacaram um ponto-chave da rota de contrabando no leste da Síria, de acordo com os funcionários americanos, iranianos e dois dos funcionários israelenses.

Os funcionários americanos e dois dos israelenses disseram essa série de ataques na Síria visava duas divisões de inteligência iranianas envolvidas no contrabando. A unidade conhecida como Divisão 4000 é supervisionada diretamente pela Guarda Revolucionária. A outra, Divisão 18840, é operada pelas Forças Quds.

A maioria das armas contrabandeadas, segundo os analistas, são armas leves como pistolas e fuzis. Mas o Irã também contrabandeia armas avançadas, segundo funcionários americanos e israelenses. As armas incluem mísseis antitanque e granadas propulsadas por foguete, que voam rápido e baixo no solo, criando um desafio para Israel ao defender alvos civis e militares de fogo de curto alcance.

Palestinos entram em confronto com forças israelenses em manifestações na Cisjordânia em outubro de 2023

Palestinos entram em confronto com forças israelenses em manifestações na Cisjordânia em outubro de 2023

A agência de segurança interna de Israel, o Shin Bet, disse em comunicado que recentemente apreendeu equipamentos militares avançados contrabandeados para a Cisjordânia. O comunicado acrescentou que o Shin Bet "leva muito a sério o envolvimento em atividades dirigidas pelo Irã e suas afiliadas e continuará a realizar medidas ativas o tempo todo para monitorar e frustrar qualquer atividade que coloque em risco a segurança do Estado de Israel".

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