À medida em que os palestinos retornam a Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, após a retirada do Exército de Israel no domingo, começam a ter dimensão do impacto da guerra sobre o que já foi um dos principais centros do território palestino. Imagens captadas durante a volta dos moradores e relatos iniciais revelam um cenário de destruição enquanto ainda persistem incertezas sobre um possível retorno das operações israelenses na área: nesta segunda-feira, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou que há uma data para o início da ofensiva em Rafah, cidade apontada por Tel Aviv como o último reduto do Hamas.
— Os bombardeios, mortes e destruição não são suficientes? Há corpos sob os escombros, podemos sentir o fedor — disse Muhammad Yunis, de 51 anos, em entrevista à AFP.
Fotos e vídeos registrando o retorno palestinos a Khan Younis revelam que áreas antes ocupadas por construções foram completamente devastadas e agora assemelham-se a terrenos baldios; prédios total ou parcialmente destruídos; munições e cartuchos aos montes, espalhados pelas ruas.
![Palestinos observam destruição em Khan Younis — Foto: AFP](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/obSoDqoZ7_Cnc-2XX0wnTxwzJoU=/0x0:6000x4000/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/v/m/VywwRYQPasDsBDpqFVog/106511656-correction-a-man-looks-on-as-he-sits-on-the-back-of-a-vehicle-moving-past-destroyed-buil.jpg)
Após a saída dos soldados, muitos palestinos resolveram retornar como foi possível — a pé, de carro, carroça ou bicicleta — com a esperança de retornar para suas casas e deixar os abrigos temporários em Rafah, no extremo sul do enclave.
![Pilha de cartuchos de munição utilizados em Khan Younis — Foto: AFP](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/PypWvoZhYF7YG9NgBpNu-pBs2Lg=/0x0:6000x4000/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/g/F/sbrmJATtCuY8Cov25BSA/106511626-correction-a-person-holds-a-handful-of-spent-bullet-casings-above-a-bigger-pile-in-khan.jpg)
— Mesmo que não esteja habitável, é sempre melhor do que as barracas — disse Maha Thaer, mãe de quatro filhos que voltou na esperança de voltar a viver em seu apartamento em Khan Younis.
De acordo com o Exército de Israel, o último grupo de soldados deixou Khan Younis para “se recuperar e se preparar para operações futuras”. A imprensa israelense afirma que, após a retirada da 98ª Divisão do Exército, nenhuma tropa terrestre está em operação no sul de Gaza.
![Apesar da destruição e do receio de nova invasão, alguns palestinos decidiram voltar para a cidade — Foto: AFP](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/QfgOcTo1cq8nU1B_i4xRE7d8NFo=/0x0:6000x4000/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/3/C/sTsOSQRhSBpAo1CECryg/106511628-correction-two-men-sit-in-a-donkey-drawn-cart-moving-past-the-rubble-of-a-destroyed-buil.jpg)
Contudo, as autoridades do país deixaram claro que as Forças Armadas permanecerão em outras partes de enclave para preservar sua “liberdade de ação e sua capacidade de conduzir operações precisas baseadas em informações”. O ministro da Defesa, Yoav Gallant, afirmou que a saída de Khan Younis aconteceu "para preparar missões futuras", incluindo Rafah, para onde cerca de 1,5 milhão de pessoas fugiram ao longo da guerra em busca de refúgio.
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Em uma publicação no X (antigo Twitter), o premier israelense afirmou que há uma data para o início da incursão israelense na cidade localizada no extremo sul do enclave, embora não tenha especificado quando. Netanyahu afirmou que a vitória contra o Hamas "exige a entrada em Rafah e a eliminação dos batalhões terroristas que estão lá." Os EUA, principal aliado do Estado judeu, disseram que ainda se opõem à incursão.
— Deixamos claro para Israel que acreditamos que uma invasão militar em grande escala de Rafah teria um efeito extremamente prejudicial sobre esses civis e que, em última análise, prejudicaria a segurança de Israel — disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller. — Deixamos claro para eles [Israel] que acreditamos que há uma maneira melhor de atingir o que é um objetivo legítimo, que é degradar, desmantelar e derrotar os batalhões do Hamas que ainda permanecem em Rafah.
O presidente francês, Emmanuel Macron, o presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sisi e o rei Abdullah II da Jordânia também alertaram Israel sobre as "consequências" de tal invasão.
![Palestino caminha com criança nos ombros enquanto caminha por Khan Younis — Foto: AFP](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/hB9jD6_ecoNSBT_7MkURvRDHRmQ=/0x0:5128x3419/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/7/D/ebwkcSQuAq24x1BuRBXA/106513320-topshot-palestinians-walk-past-damaged-buildings-in-khan-yunis-on-april-8-2024-after-isr.jpg)
O movimento de recuo também acontece em um momento-chave para as negociações de um cessar-fogo temporário com o grupo terrorista Hamas. As negociações diplomáticas no Cairo continuam, e o premier afirmou que parecem estar avançando. "Hoje recebi um relatório detalhado sobre as negociações", afirmou na publicação desta segunda. "Estamos trabalhando o tempo todo para atingir nossos objetivos, principalmente a libertação dos reféns e uma vitória total sobre o Hamas".
A nova rodada de negociações ocorre enquanto aumenta a pressão interna pelo retorno dos reféns capturados pelo Hamas sobre o governo de Netanyahu, que no dia anterior prometeu "a completa eliminação do Hamas em toda a Faixa de Gaza, incluindo Rafah".
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O clima belicoso provocou receio em parte dos palestinos, que preferiram esperar um pouco antes de retornar a Khan Younis. Osama Asfour, de 41 anos, que está abrigado numa tenda em Rafah, foi um deles. Desde o início da guerra, o Exército regressou a áreas de Gaza de onde as suas forças já tinham saído, especialmente no norte. Dada essa realidade, Asfour disse que não tinha planos imediatos de voltar para sua cidade.
![Jornalistas filmam do topo de um prédio danificado em frente ao prédio devastado do hospital al-Salam em Khan Younis — Foto: AFP](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/f3A1bF7uJxk4kp041oVhSb1-C0c=/0x0:6000x4000/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/c/0/JdnbbXSvesBj66ioe9tg/106511644-correction-journalists-film-from-atop-a-damaged-building-facing-the-ravaged-building-of.jpg)
— Os militares podem dizer que partiram hoje, mas podem voltar amanhã —disse Asfour, que trabalhava no Hospital Nasser em Khan Younis, em uma entrevista ao New York Times. — Não vou embarcar em uma aventura com minha vida e com a vida de minha família . (Com AFP e NYT)