O líder do grupo mercenário Wagner, Yevgeny Prigojin, morreu nesta quarta-feira a bordo de um avião na Rússia, dois meses depois de um motim fracassado contra o Exército russo, que durou menos de 24 horas. Também estavam a bordo da aeronave, um jato particular Embraer Legacy 600 que voava de Moscou para São Petersburgo, três tripulantes e seis passageiros, incluindo Dmitry Utkin, chefe comandante do Wagner.
A confirmação da morte foi feita pela Agência de Transporte Aéreo Federal russa horas depois da informação de que o nome de Prigojín estava na lista de passageiros do avião. Pouco antes, o Grey Zone, canal no Telegram que seria vinculado ao Wagner, lamentou a morte, afirmando que era "resultado das ações dos traidores da Rússia".
“O chefe do Grupo Wagner, um herói da Rússia, um verdadeiro patriota de sua Pátria, Yevgeny Viktorovich Prigojin, morreu como resultado dos traidores da Rússia", disse a postagem, acrescentando: “Mas, mesmo no inferno, ele será o melhor! Glória à Rússia!”
Na segunda-feira, Prigojin havia publicado seu primeiro vídeo desde o motim fracassado, sugerindo que estava no continente africano. Em julho, ele chegou a aparecer em um outro vídeo, em que cumprimentava seus soldados na Bielorrússia, para onde moveu um grande contingente de paramilitares como parte de um acordo com Minsk para pôr fim ao motim.
Nesta quarta, o jornalista Andrey Zakharov confirmou que Prigojin realmente voou da África para a Rússia, afirmando que todo o comando do grupo Wagner estaria com ele: “Será um milagre se ele estiver noutro avião”, disseram as fontes de Zakharov antes da confirmação da morte.
O avião partiu em direção a São Petersburgo do aeroporto de Sheremetyevo, em Moscou, cerca das 18 horas (12h em Brasília), caindo a menos de 160 km a noroeste, perto da cidade de Tver. O local é um importante corredor aéreo saindo de Moscou, com centenas de aeronaves civis passando por ali todos os dias. Oito corpos foram recuperados no local da queda, informaram as autoridades dos Serviços de Emergência da Rússia.
Em comunicado, a Agência de Transporte Aéreo Federal disse que “investiga as circunstâncias e causas do acidente”, enquanto o Comitê de Investigação da Rússia anunciou a abertura de um processo por suspeita de violação das regras de segurança do transporte aéreo.
Frustrado com o comando militar russo, Prigojin — um magnata sem papas na língua que construiu a força paramilitar privada que lutou em nome da Rússia na Ucrânia e por toda África — instigou o motim que representou uma grande ameaça para o governo de Vladimir Putin. Mas, apesar de suas ações, ele parecia ter se livrado das consequências, tendo se reunido com Putin em 29 de junho.
O incidente ocorre no mesmo dia da destituição do general Sergei Surovikin, suspeito de apoiar o motim do grupo Wagner em junho. Surovikin era vice-comandante das operações militares da Rússia na Ucrânia e não é visto publicamente desde aquele mês. Segundo a agência estatal RIA Novosti, ele foi substituído pelo general Viktor Afzalov. Na noite desta quarta, a televisão russa mostrou Putin celebrando o 80º aniversário da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista na Batalha de Kursk.
Em um vídeo que supostamente seria da queda, postado no Telegram, um avião aparece caindo em chamas. A pessoa que filmou a cena diz ter ouvido duas explosões, o que poderia sugerir que o avião foi derrubado por um míssil ou bomba a bordo — canais do Telegram próximos ao Grupo Wagner denunciam que a aeronave teria sido abatida com baterias de mísseis S-400.
Líder do Grupo Wagner estava a bordo de avião que caiu na Rússia
Antes de a morte ser confirmada, a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA disse que “ninguém deveria ficar surpreso” se Prigojin morresse.
— A desastrosa guerra na Ucrânia levou a um exército privado a marchar sobre Moscou e agora, ao que parece, a isto — afirmou Adrienne Watson.
Especulações nas redes
Ao longo do dia, alguns canais russos do Telegram especularam que o chefe do Wagner poderia estar em um avião diferente, já que outro jato executivo em seu nome estaria voando no momento da queda, também saindo de Moscou.
O canal Reverse Side of the Medal, ligado ao Wagner, afirmou que o segundo avião teria dado meia-volta rumo a Moscou. Os registros de voo são parcialmente inacessíveis através do FlightRadar24, site de rastreamento de aeronaves. Segundo os dados disponíveis, o segundo jato partiu de São Petersburgo na manhã desta quarta e voou em direção a Moscou. A rota desaparece perto do aeroporto Ostafyevo, na capital russa.
Veja fotos de levante paramilitar do grupo Wagner na Rússia
Durante anos, Prigojin fez trabalho clandestino para o Kremlin, enviando mercenários de seu grupo privado para conflitos em zonas de interesse russo no Oriente Médio e na África, sempre negando qualquer envolvimento.
Recentemente, combatentes do grupo foram vistos no Mali e na República Centro-Africana e receberam apoio no Níger, que sofreu um golpe de Estado por militares pró-Moscou no mês passado. O grupo foi fundado em 2014, sendo inicialmente formado por ex-soldados de elite altamente qualificados.
Em junho, após vários alertas de que o Exército russo não estaria fornecendo armas suficientes para seus mercenários, Prigojin liderou uma rebelião contra o Exército russo. Segundo o líder paramilitar, o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, havia ordenado o bombardeio contra posições do grupo na Ucrânia.
Durante a rebelião, os combatentes de Wagner ocuparam o quartel-general do Exército no sul da Rússia por várias horas e avançaram centenas de quilômetros em direção a Moscou. O motim terminou apenas 24 horas depois, com um acordo para que Prigojin fosse para a Bielorrússia, após o grupo descartar outras duas opções: integração ao Exército regular ou regresso à vida civil.