Por R$ 1,3 bilhão, Suzano compra 15% das ações da austríaca Lenzing, do setor têxtil

Com o negócio, companhia brasileira amplia sua participação no segmento de tecidos

Por — São Paulo


Fábrica da Suzano em Mogi das Cruzes, em São Paulo Divulgação / Suzano

Prestes a inaugurar a maior fábrica de celulose do mundo em Mato Grosso do Sul, a Suzano anunciou nesta quarta-feira um passo a mais no setor têxtil. A companhia informou a aquisição de 15% das ações da austríaca Lenzing, uma das maiores fornecedoras globais de fibra de celulose para a indústria têxtil e também de não tecidos. O valor do negócio foi de 229,9 milhões de euros, o equivalente a R$ 1,3 bilhão.

As ações da Suzano, que passaram a maior parte do dia em queda, fecharam em alta de 0,16% a R$ 49,00 na B3. Já as ações da Lenzing, negociadas na Bolsa de Viena, fecharam em alta de 13,47% cotadas a 36,65 euros.

A Suzano tem atualmente participação pequena no mercado de têxteis através de uma parceria com a startup finlandesa Spinnova. Juntas construíram uma fábrica para produção de fibras sustentáveis na cidade de Jyväskylä, na Finlândia, onde fica o centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Spinnova e a planta piloto. A fibra sustentável da Spinnova foi criada a partir de madeira e resíduos sem o uso de produtos químicos nocivos.

Com a compra da participação na Lenzing, a Suzano entra definitivamente no segmento têxtil. A Lenzing faz parte do grupo B&C, que tem participação em diversas empresas austríacas de base tecnológica (de metalurgia a borracha) com foco sustentavel.

Parceria entre acionistas

O contrato com a Suzano prevê que os dois acionistas formarão uma parceria de longo prazo com participação majoritária (de 52,25%) na Lenzing, com o B&C detendo 37,25% das ações, mantendo a posição de controlador. A Suzano tem a opção de comprar mais 15% das ações até o final de 2028. A Suzano terá em duas posições no Conselho de Administração da Lenzing, que tem onze membros.

Pelo acordo, as instalações de produção e as principais atividades de pesquisa e desenvolvimento da Lenzing permanecem na Áustria. A parceria também garante que as ações da Lenzing continuem listadas na Bolsa de Valores de Viena.

O preço pago por ação da Lenzing será de 39,70 euros, cerca de 23% acima do fechamento de ontem, 32,30. O valor total será pago pela Suzano quando a transação for concluída, já que o negócio depende da aprovação dos órgãos regulatórios. A expectativa é que a transação seja concluída ao final do terceiro trimestre deste ano.

Investimento recorde

A Suzano encerrou 2023 com um investimento total de R$ 18,6 bilhões, o maior desembolso anual realizado em sua história. Só no Projeto Cerrado, a fábrica que será inaugurada na cidade de Ribas do Rio Pardo, no Mato Grosso do Sul, foram investidos R$ 14,7 bilhões, nos últimos anos, e a nova unidade vai ampliar em aproximadamente 20% a atual capacidade de produção de celulose da Suzano, de 10,9 milhões de toneladas/ano.

No ano passado, a receita da Suzano foi de R$ 39,8 bilhões e o lucro de R$ 14,1 bilhões. Os recursos para a aquisição dos 15% das ações da Lenzing sairão do caixa da companhia. Em janeiro de 2024, a Suzano completou 100 anos e é atualmente a maior produtora de celulose de mercado do mundo.

Acionista de peso

Com a entrada da Suzano, a Lenzing ganha um acionista de peso, com capacidade de investimento, além competências que complementarão o atual modelo de negócio da companhia austríaca, segundo os executivos das empresas. A parceria da Suzano com o controlador tem foco no crescimento da receita, aumento da rentabilidade e expansão da competitividade internacional, diz o comunicado.

A Lenzing tem fábricas nos Estados Unidos, Europa e Ásia. No Brasil, a Lenzing tem uma joint venture com a Dexo para produção de celulose em Minas Gerais. No ano passado, a receita da Lenzing doi de 2,3 bilhões de euros (R$13,3 bilhões), que é uma das maiores produtoras de viscose do mundo.

A empresa austríaca é reconhecida pelas suas práticas sustentáveis na produção de fibras de celulose à base de madeira (liocel, modal e viscose). Tem capacidade de produção anual superior a 1 milhão de toneladas e lidera a indústria na produção de fibras ecologicamente sustentáveis. Suas fibras são utilizadas em roupas, têxteis para o lar, produtos de higiene e materiais não tecidos. Seu compromisso com a inovação e o meio ambiente reforça sua posição como líder na indústria têxtil sustentável.

“A Lenzing já é líder global no fornecimento de fibras de celulose premium para a indústria têxtil e de não-tecido, e nós reconhecemos que há oportunidades de crescimento a partir de sua tecnologia consolidada, alcance de produto e conhecimento técnico”, disse Walter Schalka, presidente da Suzano, em nota.

“Vemos essa parceria como uma situação em que todas as partes envolvidas têm a ganhar”, afirmou Wolfgang Hofer, chairman do B&C Group, na nota, complementando que a chegada da Suzano adicionará um acionista fundamental à Lenzing, "financeiramente robusto, com vasta experiência e alta reputação nos mercados financeiros internacionais".

Conhecendo o mercado de têxteis

Em relatório a clientes, o analista Daniel Sasson, do Itaú BBA, avalia que o negócio abre novas possibilidades para a Suzano à frente. Segundo ele, mais do que o ponto de vista financeiro, o acordo com o grupo B&C permitirá à Suzano entender melhor a estrutura do mercado de têxteis, incluindo consumidores, concorrentes, cadeia de fornecimento, antes de tomar a decisão de comprar mais 15% das ações da Lenzing e se tornar controladora da empresa.

"E a Suzano poderia contribuir com expertise para ajudar na recuperação de algumas operações industriais da Lenzing", escreveu Sasson.

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